Atualizado às 16h45, com envio de parecer da PGM por parte da Prefeitura.Antes do anúncio de saída do cargo, o secretário de Finanças de Goiânia, Geraldo Lourenço, teve embates com o presidente do Republicanos do Distrito Federal, Wanderley Tavares, sobre repasses de recursos para empresa de transporte que presta serviços à Prefeitura. O entrevero incluiu até bate-boca no gabinete do titular da Sefin.Havia demandas de liberação de restos a pagar e de um crédito suplementar de R$ 17,24 milhões para a Ita Empresa de Transporte. Neste último caso, a resistência de Geraldo vem desagradando o grupo de Brasília desde o mês passado.Trata-se de acerto de quitação em acordo de não persecução cível feito com o Ministério Público Estadual (MP-GO), referente a contrato realizado em 2014. Os valores são relacionados a mão-de-obra, em cobranças de horas extras não pagas. O blog acessou o histórico do processo no MP-GO.Geraldo não participou das audiências no MP-GO e na última quinta-feira (17), a Sefin manifestou que só definiria a liberação depois de parecer da Procuradoria Geral do Município (PGM).Leia também:- Geraldo Lourenço fica na Sefin de Goiânia até o fim do mêsA convenção de quitação foi assinada no dia 10 de março pelo secretário municipal de Administração, Eduardo Merlin, pelo titular do Escritório de Prioridades Estratégicas e ex-secretário de Governo, Arthur Bernardes, e pelo controlador-geral do Município, Gustavo Cruvinel.O documento prevê pagamento imediato de R$ 5 milhões (até 10 dias depois da assinatura da convenção) e R$ 12,2 milhões em 12 parcelas, com vencimento da primeira em 5 de abril. Ainda no dia 10 de março, foi enviado ofício ao secretário de Finanças pedindo o crédito suplementar.Arthur Bernardes reforçou a solicitação. Na resposta oficial, a Sefin afirma que lei complementar municipal estabelece a atribuição da PGM para ser ouvida no caso. "Percebe-se que o processo não tramitou e não ocorreu manifestação da mesma aos fatos", diz o documento, assinado pela diretora do Tesouro Municipal e pelo superintendente de Planejamento.Irritado, Wanderley teria sido o principal articulador da queda de Geraldo. O dirigente partidário, que não ocupa cargo na Prefeitura, esteve na Sefin na terça-feira (23) minutos depois de O POPULAR revelar a troca do secretário. Segundo relatos de funcionários da pasta e vereadores que estavam no local, Wanderley chegou acompanhado do irmão, Elias Tavares, com cara de poucos amigos.A visita ocorreu antes que Geraldo fosse comunicado de sua exoneração. Apesar do anúncio da Prefeitura de que ele pediu para sair, auxiliares do secretário negam a versão oficial. Vereadores que estiveram com o titular da Sefin no mesmo dia do comunicado da saída também afirmam que ele atuava normalmente na pasta e não tinha conhecimento da troca.Nesta quinta-feira, decreto assinado pelo prefeito Rogério Cruz (Republicanos) e publicado em suplemento do Diário Oficial autorizou o crédito suplementar de R$ 17 milhões da Ita, mesmo sem pareceres da Sefin e da PGM. O decreto não informa a destinação do recurso, mas tem valor idêntico ao do acerto com a empresa.Depois da publicação da reportagem, a Prefeitura enviou um parecer da PGM, com data do dia 18 de março, encaminhado à Sefin. O documento não respalda a convenção de quitação, afirmando que "nota-se que já foi celebrada, o que constitui óbice para que se analise, nestes autos, a juridicidade de seus termos".O parecer completa, porém: "A respeito, todavia, do que foi indagado no despacho de fl. 13 ("posicionamento da Procuradoria no que tange ao cumprimento do Acordo de Não Persecução Civel), conclui-se que se afigura necessário que o Municipio de Goiânia dê cumprimento as obrigações assumidas no bojo do ANPC, sob pena de caraterizar descumprimento do acordo, o que conduziria à sua rescisão, conforme alertado pela 20 Promotoria de Justiça da Comarca de Goiânia".InfluênciasO blog apurou que Wanderley, juntamente com a direção nacional do Republicanos, iniciou estratégia recente de tentar passar a ideia de redução da influência da turma de Brasília na gestão da capital goiana.É que a divisão interna na Prefeitura cresceu e a imagem de que o grupo de fora é que dá as cartas na gestão, sendo responsável pelos principais desgastes da administração do prefeito, preocupa o partido, especialmente pela comparação com a passagem recente do Republicanos no Rio de Janeiro, com o ex-prefeito Marcelo Crivella.A estratégia incluiu a saída de Arthur Bernardes da Secretaria de Governo e a mudança para o Escritório de Prioridades Estratégicas, levando parte das atribuições da Segov. Assim, ele segue influente, mas longe dos holofotes.O ex-Segov foi o primeiro indicado por Wanderley Tavares na Prefeitura, em março do ano passado, quando, diante das investidas do Republicanos, o MDB decidiu romper com o prefeito Rogério Cruz e entregar os cargos. Eles se conheceram nas articulações políticas e formação de chapas em campanhas anteriores no Distrito Federal. Arthur é o principal representante de Wanderley na gestão.Já Geraldo chegou à Sefin por indicação de Arthur, de quem é amigo também por trabalharem juntos no DF, na gestão de Rogério Rosso. Apesar da proximidade com o ex-Segov, ele havia tido embates anteriormente com Wanderley.O substituto anunciado pela Prefeitura para a Sefin é Vinicius Henrique Pires Alves, que, segundo o Paço, foi indicado pelo Conselho Regional de Contabilidade. Antes mesmo de assumir, ele sofre desgastes por ser dono de empresa que foi alvo de duas ações do Ministério Público de Goiás no ano passado. A JBV Assessoria e Contabilidade Pública Governamental teve contrato com a Comurg cancelado por recomendação do MP e foi alvo de mandado de busca e apreensão por investigação da prefeitura de Formosa.O novo nome também tem resistência de parte dos vereadores aliados do prefeito, que reclamam da troca surpresa e usam as investigações como argumento contra a nomeação de Vinicius. O futuro secretário seria amigo de Elias Tavares, segundo informações de vereadores.Procurado pelo blog, Geraldo afirmou que segue trabalhando e não vai comentar.Já Wanderley Tavares confirmou inicialmente que se envolveu na troca da Sefin, mas depois mudou a versão. "Eu entendi que chegou ao limite o período dele (Geraldo) em Goiânia e que ele está com outros projetos. Então estou trazendo de volta a Brasília", afirmou. Quando a reportagem perguntou por que chegou ao limite, a ligação caiu e ele não atendeu as demais chamadas.Por mensagem, uma hora depois, Wanderley escreveu: "O prefeito fez a escolha, com certeza ouvindo os que o cercam. Opção dele. Rogério tá dando a cara dele na administração. Eu não tenho interesse, condições e nem tempo de ficar em Goiânia. Até porque Rogério já tá dando mostras de que consegue tocar com as pessoas daí. O que é ótimo. No começo não tinha muitos quadros conhecidos, mas agora Rogério já conhece melhor a máquina e o nível de relacionamento do prefeito Rogério aumentou muito".A reportagem perguntou por que ele foi à Sefin e se confirmava os desentendimentos com Geraldo, mas não houve resposta.