Em meio às insatisfações do PSD com a falta de espaço para candidatura única ao Senado na chapa governista, o evento de transferência da capital para a cidade de Goiás não teve pela primeira vez a presença de representante oficial do Legislativo. Insatisfeito, o presidente da Assembleia e pré-candidato ao Senado, Lissauer Vieira (PSD), não participou e não enviou substituto da mesa diretora.Embora tenha minimizado a ausência, o governador criticou “personalismo e vaidade” em discurso e em entrevista ao POPULAR. Ele também afirmou que ainda acredita em aliança com o PSD, apesar de o partido manter diálogo com grupos da oposição, além de estudar a possibilidade de candidatura avulsa ao Senado.“Os cabelos brancos nos ensinam muito e eu deixo às lideranças políticas algumas observações: governar não é ato de personalismo, não é apostar apenas em suas decisões”, afirmou, antes de pedir que autoridades de outros Poderes e órgãos autônomos se levantassem para agradecer pelas parcerias. “Eu procuro pisar na vaidade todo dia pela manhã”, disse o governador.Ele afirmou à reportagem que o presidente estadual do PSD, Vilmar Rocha, não fez cobranças sobre candidatura única ao Senado e que as conversas são “apenas de convergências”. Caiado também alegou ter ajudado a chapa de candidatos a deputado da sigla. “Eu desidratei a chapa do Democratas para repassar ao PSD. Esses nomes vão realçar as suas candidaturas com aquilo que o governo construiu. Qual discurso teriam? Como podem ser candidatos em outra situação que não seja do governo?”, afirmou, para completar: “Eu acho que isso tudo está 100%”.Segundo o governador, há entendimento por parte da direção do PSD sobre as limitações na definição da vaga ao Senado. “Não há condicionante (para a aliança). O presidente Vilmar Rocha disse a mim que jamais me cobraria isso. Ele falou: ‘Olha, governador, eu sei que o senhor não tem como interferir na prerrogativa dos partidos’. Então não há nenhum ponto de incongruência, pelo contrário.”Ao POPULAR, Vilmar negou que a vaga ao Senado não tenha sido condicionante para o acordo com o governo. Ele afirma que o PSD reconhece a ajuda do governador para a filiação do ex-secretário estadual de Saúde Ismael Alexandrino ao partido, que ele diz ter sido o único reforço à chapa. Segundo o dirigente, não houve “desidratação” do DEM em favor do PSD.“Reconhecemos a ajuda quanto à filiação, mas o governador também tem de reconhecer o entendimento anterior de que teríamos espaço na chapa, ainda quando Henrique Meirelles era pré-candidato. E é preciso reconhecer o esforço do PSD para caminhar com a base, mesmo com as articulações dos grupos de Gustavo Mendanha e Vitor Hugo”, afirmou o dirigente.“Se o governador não pode interferir em outros partidos e nem no dele, também não pode no PSD. Estamos conversando internamente para definir o melhor caminho”, completou. Há reunião prevista para esta terça-feira (26) entre lideranças da sigla.Na quinta-feira, conforme mostrou O POPULAR, o governador descartou a possibilidade de candidatura única ao Senado na base, em conversa com Lissauer. Ele alegou não ter condições políticas de barrar aos pleitos do deputado federal Waldir Soares (UB) e do ex-deputado Alexandre Baldy (PP). Waldir aparece em primeiro lugar nas pesquisas e tem respaldo do diretório nacional para disputar. Baldy também comunicou ao governador apoio do PP nacional e estrutura própria para disputar.Insatisfeito com a falta de espaço, Lissauer não compareceu nem enviou representante para a solenidade na cidade de Goiás. Lei de 1983 estabeleceu o evento anual, com instalação dos três Poderes na antiga capital, em comemoração ao aniversário da cidade, que faz 295 anos em 2022.Questionado sobre a ausência, o governador disse que havia ligado pela manhã para Lissauer, que informou que não poderia comparecer. “Eu não posso acreditar nisso (em retaliação). Isso aqui é um gesto por algo histórico, que tem relevância institucional. Não é algo pessoal. Aqui não tem a pessoalidade de Ronaldo Caiado. Aqui tem impessoalidade, é um ato do governo e dos Poderes.”Até poucos minutos antes da abertura do evento, às 9h05, o cerimonial do governo não sabia quem representaria o Legislativo. A informação é que não houve qualquer resposta do Poder sobre o evento. O único deputado estadual presente, Amauri Ribeiro (Patriota), subiu no palanque para hasteamento da bandeira poucos minutos depois do início. Ele não integra a mesa diretora da Alego e confirmou não ter ido como representante.O deputado estadual Charles Bento (MDB) chegou com atraso, durante discurso do governador. Havia nos bastidores especulações de que os demais parlamentares da base não quiseram comparecer para também demonstrar solidariedade a Lissauer. Amauri, no entanto, negou o acerto. “Os deputados estão todos concentrados em suas bases, na pré-campanha. Se houvesse isso, eu saberia”, disse.O parlamentar, que foi um dos organizadores de abaixo-assinado da Alego em abril em favor da candidatura de Lissauer ao Senado, disse que entende os argumentos dos dois lados - do presidente da Alego, que esperava articulações para ser candidato único e do governador, que não tem condições políticas para isso - e que ainda acredita entendimento.“Grande parte dos apoiadores de Lissauer está com Caiado e eu sei que governador também é muito grato ao presidente da Alego. Então há chances de superar”, afirmou Amauri.O PSD mantém conversas com os três principais candidatos da oposição - além de Mendanha e Vitor Hugo, com Marconi Perillo (PSDB) - e também avalia lançar candidatura avulsa ao Senado, sem fechar coligação para o governo.Na manhã desta segunda-feira, o presidente da Alego postou nas redes sociais que “sabe o que quer e não vai recuar diante das barreiras e obstáculos”.A reportagem não conseguiu contato Lissauer.Menos umEm meio aos conflitos na base, o senador Luiz do Carmo (PSC) anunciou nesta segunda-feira a desistência da candidatura à reeleição, em vídeo gravado ao lado de Caiado. Pela manhã, o governador contou que teria encontro com ele.Na semana passada, Caiado havia manifestado aos aliados que achava que Luiz do Carmo já tinha acerto com o grupo de Marconi Perillo.Além de Waldir, Baldy e Lissauer, a base ainda tem como pré-candidato o deputado federal Zacharias Calil (UB). Embora tenha anunciado que vai disputar a vaga nas convenções, é dado como certo no partido que ele não tem chances de vencer Waldir internamente.Leia também:- ‘Nunca fiz campanha com presidente da República’, diz Caiado- Luiz do Carmo desiste de pré-candidatura ao Senado e diz que apoiará Caiado e Bolsonaro- Caiado diz que conversas sobre eleições com presidente do PSD 'só têm convergências'- PSD decide entre Lissauer isolado ou com a oposição