Cientista político e professor da Universidade Federal de Goiás (UFG), Robert Bonifácio diz que a quantificação do potencial “voto agro” em Goiás, feita pelo POPULAR, mostra que os quase 200 mil votos dá a esse nicho “uma magnitude substantiva”, e que apostar em uma campanha exclusivamente a esse público, a depender do perfil do candidato e do sucesso da estratégia de comunicação, vale a pena para cargos da eleição proporcional, como deputados federais e estaduais.“No entanto, para disputas majoritárias, há de se ter cuidado para não exagerar na dose”, alerta. Segundo ele, “construir propostas e narrativas exclusivamente agro para candidaturas ao Senado e governo estadual não define eleição”. “Claro que isso deve ser contemplado, mas é importante ir além, no sentido de abarcar outros setores econômicos, como o da mineração, o farmacêutico e o de serviços, e públicos com grande quantidade de profissionais, como professores e policiais, por exemplo.”Em 2018, o deputado estadual ligado ao agro com mais votos nas cidades com maior relevância para o setor foi Diego Sorgatto (UB), que recebeu quase 25 mil votos nessas cidades (veja quadro na página 4) — deixou o mandato em janeiro de 2021 para assumir a prefeitura de Luziânia, cidade que está entre as que tem o agro como carro-chefe na economia e onde ele obteve mais de 50% desses votos há quatro anos. Ele presidiu a Frente Parlamentar da Agropecuária na Assembleia em 2019, quando ela ainda estava ativa. Foi seguido pelo atual presidente da Assembleia, Lissauer Vieira (PSD), que teve 23 mil votos; Zé Carapô (PROS), com 15,9 mil; e Amauri Ribeiro (UB), com 12,9 mil. Os três são produtores rurais e são de cidades do agro: Lissauer de Rio Verde, Carapô, de Jataí, e Amauri, de Piracanjuba. Os 13 deputados estaduais eleitos há quatro anos que se identificam como produtores rurais, ou compuseram a frente do agro na Casa, somaram 106 mil votos nas principais cidades do agro.Na Câmara dos Deputados, três dos nove deputados que compõem a Frente Parlamentar da Agropecuária na Casa tiveram mais 20% de seus votos em cidades do agro, em 2018: Alcides Rodrigues (Patriota) teve quase 49% de votos nesses municípios, sendo seguido por José Mário Schreiner (MDB), com 37,1%, e Magda Mofatto (PL), com 27,3%. Desses, porém, apenas Schreiner tem ligação direta com o setor. É presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg) e 2º vice-presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Para Bonifácio, a presença de Magda Mofatto e Alcides Rodrigues surpreende.cidades nataisContudo, ressalta que isso se dá porque ambos alcançaram, em 2018, “elevados porcentuais de voto agro em suas cidades natais”. Alcides Rodrigues teve 56% dos votos válidos para deputado federal em Santa Helena de Goiás, cidade onde seu filho João Alberto Rodrigues (Patriota) é prefeito, e Magda Mofatto teve quase 20% dos votos de Caldas Novas, onde é empresária. Os dois municípios estão na lista dos 34 relevantes para o agro em Goiás.Os demais deputados da FPA tiveram menos de 20% de seus votos nas cidades do agro: Delegado Waldir (UB) teve 16,7%; Rubens Otoni (PT), Vitor Hugo (PL), João Campos (Republicanos) e Glaustin da Fokus (PSC), 15% cada; e Adriano do Baldy, 13,8%.Como mostrou a coluna Giro, à exceção de Schreiner, os demais têm baixa ligação com o setor, quando se trata de votações pró-agro na Câmara dos Deputados. Ranking feito pela Frente Parlamentar da Agropecuária mostra que apenas Schreiner tem mais de 50% no índice. Aparece com 83% de alinhamento.