Arquivado em agosto na Justiça Eleitoral, o processo da Operação Cash Delivery, deflagrada em 2018 contra o ex-governador Marconi Perillo (PSDB) e o ex-presidente da Agência Goiana de Transportes e Obras (Agetop) Jayme Rincón, segue na Justiça Federal, com previsão de citação dos investigados este semestre. A denúncia do Ministério Público Federal (MPF), que aponta crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa, foi recebida no dia 25 de junho, mas ainda não houve andamento.Com o vaivém, houve demora de mais de dois anos, mas Marconi pode ter de lidar com o andamento do processo durante as eleições do ano que vem. O tucano foi lançado pelo partido como pré-candidato ao governo estadual, mas, nos bastidores, é mais cotado para disputar mandato de deputado federal.No último dia 16, a 135ª Zona Eleitoral de Goiânia arquivou os autos da ação, depois de decisão do Tribunal Regional Eleitoral (TRE-GO) de rejeitar recurso da defesa. É que os advogados haviam contestado a decisão da primeira instância, do juiz eleitoral Mábio Antônio Macedo, que, em agosto de 2020, não reconheceu crime eleitoral e devolveu a investigação para a Justiça Federal. A defesa queria que não houvesse remessa dos autos.A Cash Delivery, deflagrada durante as eleições de 2018, apura supostos pagamentos da empreiteira Odebrecht a Marconi e Jayme Rincón e tem como base delações de ex-diretores da empresa. Ambos chegaram a ser presos nas investigações, em setembro e dezembro daquele ano.O processo havia seguido para a 135ª Zona em maio de 2019, depois que o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que o foro prevalente é o da Justiça Eleitoral e que cabe a ela determinar se há conexão entre os crimes investigados, de pagamento de propina e caixa 2 e, assim, indicar a eventual separação dos processos.Na época, o Ministério Público Federal (MPF) se manifestou contra a transferência da Cash Delivery, alegando não haver provas para deduzir que a suposta propina recebida por Marconi tenha sido usada na campanha eleitoral. Mesmo após a primeira decisão determinando a remessa para a Justiça Eleitoral, o MPF apresentou denúncia contra o ex-governador e Jayme por corrupção, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro.É esta denúncia que agora foi aceita pela Justiça Federal, em decisão do juiz substituto Eduardo Ribeiro de Oliveira, da 11ª Vara. “A denúncia descreve, de modo claro e objetivo, os fatos imputados e individualiza as condutas, em tese, praticadas pelos denunciados (...) Reputo demonstrada a plausibilidade das alegações contidas na denúncia em face da circunstanciada exposição do fato tido por criminoso e da descrição das condutas, bem como em razão dos documentos carreados aos autos”, afirmou o juiz na decisão.Nas investigações da Operação Lava Jato, delatores da Odebrecht informaram pagamentos de R$ 2 milhões em 2010 e R$ 8 milhões em 2014 destinados supostamente à campanha eleitoral de Marconi. A Justiça Eleitoral considerou argumentos do Ministério Público Eleitoral de que faltam indícios de uso dos recursos em caixa 2.Também são alvos do processo Marcio Garcia Moura, motorista de Jayme Rincón, Pablo Rogerio de Oliveira e Carlos Alberto Pacheco Júnior, que, segundo as investigações, teriam feito entrega de dinheiro destinado a Marconi.outro ladoA defesa de Marconi Perillo diz que haverá uma nova análise da denúncia, mais detalhada, por parte da Justiça. “Após a reforma processual penal a denúncia é recebida duas vezes. Na primeira o juiz analisa superficialmente e na segunda, com os argumentos da defesa ela é novamente analisada. Neste caso, houve o primeiro recebimento, ato formal, sem carga decisória”, afirmou em nota o advogado Luis Alexandre Rassi.Sobre o possível andamento durante as eleições do ano que vem, ele afirmou não ser possível prever. “Não sei dizer se haverá, mas o julgamento dos fatos pelo Judiciário só trata a certeza de idoneidade moral do Governador Marconi. O único fato possível de questionamento, doação eleitoral, já foi arquivado pela Justiça”, disse o advogado.Jayme Rincón disse que haverá muito ainda a ser discutido no processo e que não há fundamento para a ação penal. “Há vícios de origem. É uma investigação só com base em delações, sem provas e sem que os próprios delatores apontem qualquer favorecimento ou contrato com o governo”, afirma.Em julho, ao falar pela primeira vez sobre as denúncias, em entrevista ao POPULAR, Marconi fez ataques ao procurador responsável pela operação, Mário Lúcio Avelar, que diz ser ligado ao senador Jorge Kajuru. Ele, no entanto, admitiu caixa dois para seus aliados na campanha com recursos da Odebrecht.“Para aliados, com certeza. Para a minha campanha, não (...) Quando falei com a Odebrecht, disse que queria doação legalizada. Disseram que não era prática da empresa, mas eu insisti e indiquei quem deveriam procurar para falar sobre isso, o Jayme e outros coordenadores. Numa campanha de governador, a pressão de candidatos a deputado federal, estadual, senador, é muito grande para ajuda das campanhas”, afirmou Marconi na época.Em fevereiro deste ano, o juiz Eduardo Ribeiro de Oliveira também decidiu que era correta a competência para a Justiça Federal, quando houve questionamento sobre o envio para a Justiça Estadual. Segundo ele, as investigações apontam que recursos saíram do Setor de Operações Estruturadas (SOE) da Odebrecht, que, segundo o MPF, era o Departamento de Pagamento de Propinas do grupo empresarial, “abastecido com recursos provenientes de uma miríade de crimes de corrupção, organização criminosa, evasão de divisas, câmbio não autorizado, cartel e crimes de licitação”. Segundo o juiz, isso revela “um contexto de corrupção e lavagem de dinheiro transnacionais”, o que justifica a competência da Justiça Federal.-Imagem (Image_1.2312792)