O governo de Goiás distribuiu 2 mil cestas básicas em dez bairros de Aparecida de Goiânia horas antes do lançamento da campanha do governador Ronaldo Caiado (UB) à reeleição na cidade. Caiado escolheu o município em que seu principal adversário, Gustavo Mendanha (Patriota), foi prefeito por cinco anos para a estreia das atividades.A entrega anterior de cestas na cidade havia ocorrido em maio deste ano, como parte da Campanha de Combate à Propagação do Coronavírus, criada em março de 2020 pelo Gabinete de Políticas Sociais (GPS) e comandado pela primeira-dama, Gracinha Caiado.O blog recebeu vídeos (veja imagens abaixo) que mostram caminhão da Agência Goiana de Assistência Técnica, Extensão Rural e Pesquisa Agropecuária (Emater) estacionado na Rua da Saudade, na Vila Souza, em Aparecida, carregado de cestas sendo retiradas por policiais militares. Parte foi colocada em viatura do 8º Batalhão da PM para distribuir em outras ruas e parte era entregue a pessoas que se aproximavam dos agentes.Os vídeos não mostram qualquer verificação ou registro de quem está recebendo o benefício. A rua fica a 4,3 quilômetros de distância do local do evento de Caiado, a Associação Comercial e Industrial de Aparecida (Aciag), no Residencial Village Garavelo, em frente à prefeitura do município.Leia também:- André Fortaleza, do MDB, será coordenador da campanha de Marconi em Aparecida - “A legalização do aborto é uma questão de saúde pública”, diz Helga MartinsA distribuição de cestas do governo teve início no primeiro semestre de 2020, por conta da pandemia do coronavírus e quando a gestão estadual havia descontinuado o principal programa social do governo anterior, o cartão Renda Cidadã. Em agosto do ano passado, a administração lançou um novo auxílio, batizado de Mães de Goiás, mas a distribuição de cestas foi mantida, em etapas conforme novas compras. Ao informar o lançamento da quinta etapa do programa de distribuição das cestas, em 25 de julho, o governo divulgou que 200 mil unidades - adquiridas por meio de licitação, ao preço de R$ 16 milhões do tesouro estadual - seriam retiradas pelas prefeituras do armazenamento na sede da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), para a distribuição.Segundo a divulgação, o modelo do programa estabelece que cada prefeitura faça a retirada da sua cota de cestas, seguindo agendamento feito com a OVG. "As administrações municipais serão as responsáveis por fazer o alimento chegar às casas das famílias contempladas pela doação, todas inscritas no Cadastro Único (CadUnico), banco de dados do governo federal com as informações das famílias em situação de extrema pobreza ou de pobreza", informava o governo.A assessoria do GPS afirmou ao blog que, diferentemente da entrega no interior, a distribuição na Região Metropolitana de Goiânia é realizada "de porta em porta, por colaboradores e voluntários da OVG, GPS, secretarias, Emater e Forças de Segurança, visando a agilidade na entrega dos alimentos diretamente às famílias e de maneira a evitar aglomerações".Desde que foi iniciada a entrega da quinta etapa, no dia 4 de agosto, 45 bairros de Goiânia receberam total de 13,4 mil cestas, mas a distribuição em Aparecida só ocorreu nesta quarta-feira (18) e com a quantidade de 2 mil no mesmo dia.O GPS nega que o cronograma da entrega tenha relação com o evento da campanha e diz que as distribuições são recorrentes. Ao total, desde 2020, houve fornecimento de mais de 1,1 milhão de cestas.Sobre o fato de não haver checagem dos beneficiários, o GPS informou que não é possível negar cesta básica a quem solicita. O colegiado afirma que utiliza a base de dados do CadÚnico para calcular o Índice Multidimensional de Carência das Famílias Goianas (IMCF) e definir bairros com maior índice de vulnerabilidade social na Região Metropolitana.Sobre a permanência do programa mesmo com o Mães de Goiás, o GPS diz que as cestas garantem a segurança alimentar, enquanto o cartão é mais restrito: oferece segurança de renda ao fornecer R$ 250 por mês para mulheres em situação de extrema vulnerabilidade social com filhos de 0 a 6 anos de idade. "O recurso deve ser usado para compra de alimentos e medicamentos e é uma decisão estratégica do governo para a proteção da primeira infância", afirma.As 2 mil cestas de Aparecida foram entregues, além da Vila Souza, nos setores Rosa dos Ventos, Jardim Miramar, Retiro do Bosque, Nova Olinda, Virginia Parque, Setor dos Estados, Norberto Teixeira, Expansul e Jardim das Acácias.O advogado Dyogo Crosara, especialista em direito eleitoral, afirma que a legislação proíbe vinculação da distribuição de benefícios com a campanha. Assim, seria preciso apurar se houve algum convite para o evento ou distribuição de material do candidato juntamente com as cestas. "Pode-se falar em indício de utilização do benefício em favor do candidato por conta da coincidência de datas, mas é preciso haver elemento que comprove o vínculo com a campanha. A distribuição em si não é vedada se o programa já existia no ano anterior." Nos vídeos recebidos pelo blog não é possível observar vinculação com a campanha governista.A lei eleitoral estabelece, no artigo 73, a probição de "fazer ou permitir uso promocional em favor de candidato, partido político ou coligação, de distribuição gratuita de bens e serviços de caráter social custeados ou subvencionados pelo Poder Público".****E-mail: fabiana.pulcineli@opopular.com.brTwitter: @fpulcineliFacebook: fabiana.pulcineliInstagram: @fpulcineli-Imagem (1.2512720)