O presidente Jair Bolsonaro (PL) fez novos ataques, nesta quarta-feira (12), aos ministros Luís Roberto Barroso e Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal). O mandatário acusou os dois magistrados de ameaçar e cassar “liberdade democráticas” com o objetivo, segundo Bolsonaro, de beneficiar a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).“Quem esses dois pensam que são? Que vão tomar medidas drásticas dessa forma, ameaçando, cassando liberdades democráticas nossas, a liberdade de expressão porque eles não querem assim, porque eles têm um candidato. Os dois, sabemos, são defensores do Lula, querem o Lula presidente”, declarou Bolsonaro, durante uma entrevista ao site Gazeta Brasil.Bolsonaro foi questionado por um dos entrevistadores sobre um recente artigo em que Barroso defende a regulação das redes sociais. No texto, o ministro cita o “aparecimento de verdadeiras milícias digitais, terroristas verbais que disseminam o ódio, mentiras, teorias conspiratórias e ataques às pessoas e à democracia”.“De terrorismo ele entende. Ele defendeu o terrorista Cesare Battisti, italiano que matou quatro pessoas de bem”, declarou Bolsonaro. O mandatário afirmou ainda que Barroso teria conseguido sua indicação ao STF, no governo Dilma Rousseff (PT), por ter atuado na defesa de Battisti.“Acusar de terrorismo? Quando se fala em matar gente, terrorismo, eu aponto os quatro cadáveres do Battisti. Qual crime eu cometi, senhor Luís Roberto Barroso? Que crime eu cometi? Quais foram as fake news que eu pratiquei? Falam que tem um gabinete do ódio, me apresente uma matéria que seria do gabinete do ódio”, afirmou o presidente.Em seguida, Bolsonaro investiu contra Moraes e lembrou o julgamento, pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral), que rejeitou a cassação da chapa presidencial por participação em esquema de disparo em massa de fake news nas eleições de 2018.Na ocasião, Moraes, que será presidente do TSE em 2022, afirmou que, se houver disparo em massa de fake news nas próximas eleições, os responsáveis serão cassados e “irão para a cadeia por atentar contra as eleições e a democracia”.“Eu fui julgado no TSE, a chapa Bolsonaro-Mourão, no final do ano passado; e lá foi a vez do senhor Alexandre de Moras falar claramente: ‘houve sim fake news, houve disparo em massa, sabemos; no ano que vem – que é neste ano – se tiver vamos cassar o registro e prender o candidato’”, afirmou Bolsonaro.“Olha, isso é jogar fora das quatro linhas [da Constituição], eu só tenho isso a dizer a vocês. Eu sempre joguei dentro das quatro linhas. Não se pode falar em terrorismo digital. Que terrorismo é esse? É o que ele acha que é? Quem são os checadores de fake news no Brasil? Contratados a troco de quê?”Críticas ao TSEBolsonaro também criticou a decisão do TSE de cassar o deputado estadual Fernando Francischini (PSL-PR) pela disseminação de fake news. No dia da eleição de 2018, Francischini divulgou vídeo em que afirmou que as urnas eletrônicas haviam sido fraudadas para impedir a votação no então candidato Bolsonaro.Nesta quarta, Bolsonaro alegou que Francischini disse a verdade no vídeo. “Por que o TSE cassou um deputado do Paraná que tinha 400 mil votos? Que começou a fazer uma live 10 minutos antes de acabar as eleições em 2018 e falou a verdade na live, não mentiu. Que o pessoal ia apertar o 17 [número do candidato] aparecia a cara do Lula. Uma verdade, cassou por causa disso”, declarou.O novo ataque de Bolsonaro a ministros do Supremo, em especial Moraes, agradou apoiadores mais radicais do presidente, mas acendeu alerta no Palácio do Planalto, no Congresso e na própria corte. No Planalto, o argumento utilizado ao longo da quarta (12) era de que a citação a Moraes, responsável pelos inquéritos que miram Bolsonaro, familiares e apoiadores, foi uma fala do presidente que saiu “sem querer” na entrevista por ser a um veículo de direita, voltado para seus eleitores. Interlocutores afirmam que ele não pretende aumentar a tensão com o STF.Aliados mais próximos lembram que com a situação econômica sem previsão de melhora, a nova variante do coronavírus, inflação em alta e liderança de Lula (PT), o desgaste com o STF e reflexos nos inquéritos contra o presidente só trariam mais problemas no ano eleitoral. Poderiam ainda afugentar interessados em alianças nos estados.Apoiadores da chamada ala ideológica, entretanto, comemoraram o tom de Bolsonaro. Allan dos Santos, um dos alvos dos inquéritos relatados por Moraes, compartilhou o vídeo em que o presidente ataca ministros no seu grupo do Telegram e escreveu em seguida: “Ai, Allan, para de arrumar desgaste com o STF” e “Bolsonaro: De terrorismo o Barroso entende”.Caso a previsão do Planalto não se concretize e Bolsonaro continue com os ataques, o principal anteparo do STF hoje é o inquérito das milícias digitais. A PF aguarda decisão de Moraes sobre a inclusão do presidente no caso. O pedido foi feito no relatório sobre a live em que ele atacou sem provas as urnas eletrônicas.Com Bolsonaro formalmente investigado, a PF pode incluir na apuração cada caso em que o presidente atue na disseminação de desinformação ou ataque às instituições e seus integrantes ao longo de 2022.O inquérito apura a existência de uma organização criminosa que se beneficia financeiramente e politicamente da produção e difusão de fake news e de ataques às instituições. Além do evento da live, que depende de autorização de Moraes, a PF entende que o grupo atuou desde 2019 em outros momentos, que podem se repetir neste ano.