A mobilização de empresários, com ameaça de divulgação de lista de vereadores nas redes sociais e em faixas nas ruas, adiou a votação, na Câmara de Goiânia, do veto do prefeito Rogério Cruz (Republicanos) à mudança de nome da Avenida Castelo Branco para homenagear o ex-prefeito Iris Rezende Machado. Antes tida como certa, a derrubada do veto agora é dúvida diante das investidas dos comerciantes da região.O autor da proposta, Clécio Alves (MDB), e outros vereadores mais experientes da Casa ainda apostam que haverá aprovação, mas alguns mais novos admitem que podem ceder às pressões. Clécio teve até um bate-boca com um dos empresários no WhatsApp, depois de receber mensagem com o título “Vereadores que acabarão com 5,4 mil empregos em Goiânia” e uma lista com nomes favoráveis à proposta da mudança da avenida. A mensagem foi enviada por Ricardo Cantaclaro e ainda completava: “Não votamos neles nunca mais! Essa lista circulará enquanto houver eleições por todo lado, a começar dos seus redutos. Você vai sair da lista ou continuar derrubando o veto do prefeito?”Segundo vereadores, Clécio enviou áudios em tom exaltado, exigindo respeito, e mostraria as mensagens em plenário na sessão desta quinta-feira (17). A Câmara deixou de abrir a sessão ordinária por falta de quórum. Os empresários, que defendem que a alteração prejudica a identidade da via como polo de comércio agropecuário, chegaram ao Legislativo às 7h30 e percorreram os gabinetes à procura dos vereadores. A mobilização foi organizada pelo Sindicato do Comércio Varejista de Goiás (Sindilojas-GO), que alega prejuízos ao comércio, custos para os cofres públicos e “desorientação” na população.Às 9h18, Clécio, no comando da mesa como vice-presidente, disse que havia apenas 6 dos 35 vereadores em plenário e que aguardaria até 9h25 o quórum. Depois voltou a contar e anunciou a não abertura por falta de quórum.A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara aprovou na quarta-feira (16) a derrubada do veto do prefeito. No mesmo dia, o Fórum de Entidades Empresariais de Goiás (FEE) divulgou nota de repúdio contra a iniciativa dos vereadores. Eles alegam que a mudança é rejeitada por 95% dos moradores da região.Clécio disse que o projeto estará na pauta da sessão da próxima terça-feira (22) e que não acredita em recuo dos vereadores, ressaltando que 32 assinaram o projeto quando foi apresentado na Casa. “Espero que não cedam às pressões porque Goiânia não vai entender. Estão desmoralizando a memória de Iris, que tanto fez o bem para o Estado, para Goiânia e para o agronegócio, como ministro da Agricultura e como um representante do setor”, afirmou o autor.Familiares e amigos de Iris, além de lideranças políticas que condenam homenagens a figuras ligadas à ditadura militar, também são favoráveis à derrubada do veto.Além de Clécio, cinco vereadores afirmaram à reportagem que não acreditam em recuo. Porém, outros dois dizem que há articulações também junto à Prefeitura e que é possível que o veto não seja derrubado. Parte também acha que a votação ficará para depois do Carnaval, na semana seguinte. O Legislativo havia aprovado o projeto no dia 21 de dezembro, mas 20 dias depois o prefeito vetou, sob alegação de necessidade de abaixo-assinado de moradores da região afetada e que a troca traria transtornos à população e “a um grande número de empresas ali estabelecidas e ao próprio município, ocasionando uma enorme burocracia e gastos a todos os envolvidos”.Na terça-feira, a Procuradoria da Câmara fez parecer que considera o veto antijurídico e descarta a necessidade de abaixo-assinado. Conforme mostrou O POPULAR na segunda-feira (14), Ana Paula Rezende, filha de Iris, criticou nas redes sociais a decisão do prefeito Rogério Cruz. “É uma pena que o pensamento de muitos seja tão pequeno”, afirmou.VaivémA Câmara de Goiânia já havia aprovado o nome de Iris Rezende, que morreu em novembro do ano passado em decorrência de um AVC, para o Parque Mutirama. A proposta foi do presidente da Casa, Romário Policarpo (Patriota), com assinatura de todos os demais vereadores.Na ocasião, pelo menos mais seis vereadores apresentaram outras propostas para homenagear Iris, mas apenas a de Clécio foi aprovada. A ideia inicial do vereador era acrescentar o nome do ex-prefeito à Avenida Anhanguera. Diante de críticas, ele mudou a proposta para a Castelo Branco. A Lei Orgânica do município autoriza a substituição de logradouros que homenageiam ditadores ou pessoas ligadas à ditadura.Em outra polêmica, o Senado aprovou projeto de Luiz do Carmo com mudança do nome do Aeroporto Internacional Santa Genoveva, em Goiânia, para Iris Rezende, o que provocou reação de familiares de Altamiro de Moura Pacheco, doador da área em que funciona o terminal, e da igreja Católica.A informação de familiares é que a área foi doada com a condição de homenagear Santa Genoveva, padroeira de Paris, e mesmo nome da mãe de Altamiro. A família de Iris criticou as reações e se posicionou a favor da homenagem.Os deputados federais e senadores goianos chegaram a se reunir, mas não houve consenso. O projeto está parado na Comissão de Viação e Transportes da Câmara dos Deputados, aguardando designação de relator.