De dez principais promessas de campanha do governador Ronaldo Caiado (UB) para a área social, que ele aponta como prioritária do segundo governo, a metade ficará de stand by, à espera das definições do governo federal.Sob argumento de que não quer programas conflitantes, mas complementares, a gestão estadual vai aguardar a formatação dos projetos do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que tem o setor como marcas de seus dois primeiros governos (2003-10).Os demais já têm planos para implantação em 2023, mas a maioria depende de aprovação na Assembleia Legislativa de Goiás (Alego), que só retoma os trabalhos na segunda quinzena de fevereiro. Assim, os programas devem ser ampliados ou criados apenas em março.O governo Caiado chegou a programar o envio de parte dos projetos ainda em 2022, mas acabou desistindo diante dos desgastes da votação da taxação do agro e dessa decisão de formatar um pacote conforme caminhos do governo federal.A ampliação do Mães de Goiás e da Bolsa Aluno coincide com promessas feitas por Lula na campanha. Com o retorno do Bolsa Família, o petista prometeu, além da continuidade dos R$ 600 mensais do Auxílio Brasil, o pagamento complementar de R$ 150 a mais por filhos menores de seis anos.Leia também:- Caiado aguarda Lula dar tom da relação de governos- Bolsonaro viaja aos EUA e despreza rito democrático da transição- Minissérie resgata a história da política do Brasil desde a redemocratizaçãoO Mães de Goiás, criado no fim de 2021, beneficia justamente famílias com crianças de 0 a 6 anos, em situação de extrema pobreza, com repasse mensal de R$ 250. A promessa de Caiado era incluir também o grupo em situação de pobreza, o que beneficiaria mais cerca de 30 mil famílias.Auxiliares do governo afirmam que não faz sentido ampliar o programa se a gestão federal fará o pagamento complementar com o mesmo critério.Já o Bolsa Aluno, também criado no fim de 2021, hoje paga R$ 111 aos estudantes do ensino médio, em iniciativa para reduzir a evasão escolar. Durante a campanha do segundo turno, Lula acatou a proposta da ex-presidenciável Simone Tebet (MDB), futura ministra do Planejamento, de incluir o auxílio a estudantes no plano de governo.O modelo é baseado no Cartão Escola 10, programa do governo de Alagoas, que tem pagamento de incentivo tanto para quem retorna ao ensino médio como repasse mensal a quem tem alto índice de presença nas aulas. A equipe de transição sinalizava para um pagamento de R$ 150 mensais.Caiado havia prometido incluir estudantes do 9º ano no grupo de beneficiários e aumentar o valor em 50% para alunos de escolas de tempo integral. O governo goiano também diz não haver sentido em manter o pagamento da mesma forma que a gestão federal pretende implantar.HabitaçãoAs promessas da área de habitação terão uma parte iniciada em janeiro, mas outra também deverá aguardar os planos do governo federal. Lula criou o Minha Casa, Minha Vida, em março de 2009, e já avisou que retomará o programa. Ele havia sido rebatizado de Casa Verde e Amarela durante a gestão de Jair Bolsonaro (PL), com mudanças e menos investimentos.O presidente da Agência Goiana de Habitação (Agehab), Pedro Sales, diz que vai reservar uma parte dos recursos da pasta para parcerias com o novo programa. Segundo ele, a soma dos subsídios dos dois entes vai alcançar a população de menor renda, o que é prioridade do governo Caiado.O estado, no entanto, já quer iniciar a prometida ampliação da construção de casas, com intenção de entregar até dez mil em 2023. Quase seis mil já estão em construção, mas o plano é aumentar com criação de programa de compras de unidades construídas por prefeituras e reserva de unidades a custo zero em parcerias com construtoras.O Aluguel Social deve ter novos beneficiários - cerca de 10 mil -, mas haverá uma avaliação do impacto do programa, com possibilidade de redução do atual quadro, de 38 mil contemplados.A ampliação do programa Jovem Aprendiz também ficará à espera das definições de mudança na legislação federal. A votação do Estatuto do Aprendiz, prevista para a primeira quinzena na Câmara dos Deputados e que promove várias alterações nas normas, foi cancelada. A promessa do governo goiano foi alcançar 10 mil jovens.Outros dois programas do plano de governo de Caiado já existem no governo federal: Família Acolhedora e Aquisição de Alimentos (PAA) da agricultura familiar. O segundo já teve iniciativas em Goiás, mas em baixo valor, de menos de R$ 5 milhões da União, segundo o governo goiano. A intenção agora é investir R$ 25 milhões de recursos estaduais, mas também dependerá de projeto de lei.O primeiro, de acordo com o plano de governo, teria um programa local, com capacitação e remuneração de famílias para acolhimento de mulheres vítimas de violência.“Não podemos criar programas conflitantes. Eles têm de ser complementares, para aproveitamento mais adequado dos recursos. Temos de entender exatamente o que o governo federal vai fazer para implantarmos algo complementar, de ampliação das pessoas contempladas dentro do orçamento do estado. Se mandássemos (os projetos de lei) agora seria precipitado”, afirma o titular da Secretaria Geral da Governadoria, Adriano da Rocha Lima.De programa novo prometido na campanha e que terá início breve, está confirmado a Bolsa Dignidade, para idosos de 60 a 65 anos, de baixa renda. O programa, no entanto, tem de passar pela Alego.A ampliação do Restaurante do Bem e das bolsas para estudantes universitários (ProBem) está garantida para 2023, segundo informações da equipe da área social. O primeiro terá duas novas unidades no interior, possivelmente em Quirinópolis e um município do Entorno do Distrito Federal, e as bolsas alcançarão mais 10 mil alunos ao longo do próximo ano.Criação de “autoridade social” segue indefinidaNão há ainda definição no governo estadual sobre a criação de “autoridade estadual social” em um “Banco Central dos pobres”, conforme havia anunciado o governador Ronaldo Caiado (UB) no dia seguinte à eleição em primeiro turno, no dia 4 de outubro.Parte da equipe da área social articula a substituição da figura, que dependeria de criação por lei, pela contratação de uma consultoria para avaliação dos programas. Os auxiliares alegam que bastaria um grupo independente que monitorasse e estudasse as políticas públicas do setor.Conforme mostrou O POPULAR em outubro, a ideia perdeu força depois do rompimento do consultor do governo Marcelo Garcia, que manifestou insatisfação com o apoio de Caiado à reeleição do presidente Jair Bolsonaro (PL) no segundo turno.O próprio Gabinete de Políticas Sociais, comandado pela primeira-dama Gracinha Caiado - que passou a ser alvo de ataques de Marcelo nas redes sociais -, também tinha resistência à proposta, sob alegação de que passaria imagem de possíveis problemas nos programas do órgão.Apesar da posição contrária de parte da equipe, um outro grupo de auxiliares diz que o governador vai, sim, levar adiante a proposta, até por coerência com o anúncio. O cargo seria criado no conjunto da reforma administrativa, que deve ser enviada à Assembleia Legislativa em fevereiro.A proposta original é de que a autoridade seria um nome com ampla experiência no setor e mandato de dois anos, com autonomia e poder de veto, que seria responsável por monitorar o andamento e a eficácia dos programas, além de propor novas políticas públicas na área.As informações no governo são de que não haverá mudanças na atual equipe. Além do Gabinete, há a Secretaria de Desenvolvimento Social (Seds), comandada por Wellington Matos.