Com poucas alternativas de aliança na reta final do prazo de janela e filiações partidárias, o PSDB goiano aposta no grupo de insatisfeitos da base governista e ainda não descarta caminhar ao lado do prefeito de Aparecida de Goiânia, Gustavo Mendanha (sem partido), pré-candidato ao governo de Goiás. O ex-governador Marconi Perillo, presidente estadual do partido, diz que sua definição ficará para junho, quando pode haver muitas mudanças no cenário. Marconi diz que o governador Ronaldo Caiado (UB) não valoriza “velhos amigos” e o acusa de usar ameaças e a máquina para “comprar” apoio de prefeitos.Nos últimos dias, prefeitos do PSDB aderiram ao governo; o ex-presidente do PSDB Jânio Darrot também anunciou apoio à reeleição de Ronaldo Caiado; e o prefeito de Aparecida, Gustavo Mendanha, está articulando com o grupo do presidente Jair Bolsonaro. O PSDB não ficou meio sem caminho em Goiás nos últimos dias?O PSDB já tem uma aliança natural com o Cidadania por conta da federação aprovada pelos dois partidos. Portanto, já temos um aliado. Tenho conversado com muitas lideranças aqui, independentemente se estaremos ou não juntos: com o senador Vanderlan Cardoso, com o senador Luiz Carlos do Carmo, com o presidente do PSD, que é meu amigo, Vilmar Rocha, com Gilberto Kassab, com Gustavo Mendanha, com o ex-governador José Eliton, que me anunciou a conversa com o PSB, com muitos nomes de diversos partidos. Tem muita coisa para acontecer. O meu foco nesses dias agora tem sido fazer a nominata para as chapas de deputados estaduais e federais, com pessoas novas, lideranças de cidades importantes. Estou feliz com o que está acontecendo. Há muita procura, muita boa vontade. Teremos uma nominata boa.Todo mundo que citou da lista com quem está conversando busca outros caminhos que não aliança com o PSDB.Antes estava até pior. Há seis meses era difícil conversar. Pelo menos estamos tendo abertura. Hoje já temos conversas e o fato de o PSDB estar bem nas pesquisas para o Senado e bastante razoável nas pesquisas para governador, tudo isso acaba ajudando, abre portas. E política é assim mesmo. Tudo pode acontecer. Acho que vamos ter de focar muito na política local. Felizmente, tenho relações boas, trato pessoal bom com quase todo mundo no Estado. O que achou da adesão de prefeitos do PSDB ao governo?Há no Estado hoje, claramente, um processo de abuso político, de abuso de poder incomparável e de abuso de polícia. Muitas vezes o prefeito é ameaçado de ter a polícia na prefeitura ou em casa se não aderir ao governo. Foi criada uma polícia política que o governador diz que é dele. Ele criou uma estrutura policialesca para perseguir adversários. E há também abuso de poder político, oferta de cargos, de dinheiro, de verba. Isso é crime, segundo a legislação eleitoral. Estamos encaminhando esses assuntos para o Ministério Público Eleitoral. É troca explícita de verba que é pública por apoio político. Não fazem questão de esconder. Sobre a traição, a deslealdade, é traço de caráter, independemente de ser político ou não. Tem pessoas que têm caráter mais questionável. O sr. também não recebeu adesistas por diversas vezes em seus governos?Não era eu que estava aderindo. E os nossos governos, modéstia à parte, foram de realização. As pessoas queriam estar perto de um governo que realizava. A prova disso é que ganhou cinco eleições seguidas.Mas também é passível de acusações de compra de apoio. Inclusive o governador Caiado lá em 2003 acusou o governo de comprar prefeitos, de buscar adesão em troca de ofertas. Mas ele apoiou nossa eleição em 1998, 2002 e depois de novo indiretamente em 2010 ao indicar o vice. O Caiado sempre foi um candidato mochila. Primeira mochila dele foi Marconi em 98. Depois pegou o Demóstenes (Torres) pra ficar nas costas dele. Depois pegou o Iris, depois pegou Wilder pra fazer a campanha dele. Então, é um candidato que a gente pode chamar de mochila. Sempre usou alguém. Agora, está procurando alguém aí, não sei se Moro ou Bolsonaro ou outro. O fato de Gustavo Mendanha tentar ser palanque do presidente Jair Bolsonaro (a entrevista ocorreu antes da decisão anunciada por Bolsonaro de que Vitor Hugo será o candidato do PL ao governo) em Goiás torna inviável a possibilidade de aliança com o PSDB no primeiro turno?Não, de forma alguma. Nós vamos continuar conversando e discutindo a questão regional, pelo menos no que depender de mim. O foco vai ser regional. Eu terei o candidato a presidente do meu partido e ele terá o dele, mas vamos tentar fazer uma concertação com vistas a uma frente de oposição aqui no Estado. Se isso for possível, ótimo. Vamos tentar. O nível de relacionamento que tenho com ele e outros líderes da oposição é muito bom. Mas acha acertado ele buscar esse apoio do Bolsonaro?Eu acho que ele tem todo o direito de procurar o caminho dele, a identidade dele, as relações políticas. Ele tem uma base na Assembleia e de deputados federais que estão ligados ao presidente da República e é algo que tenho de respeitar. Mas o PSDB faz discurso em nível nacional em favor da democracia, de críticas ao presidente, e o PSDB aqui pode ficar junto com o palanque do Bolsonaro? Eu vou ficar no palanque do PSDB, defendendo com convicção o passado, o presente e o futuro do PSDB no Brasil e em Goiás. Apenas acho que temos de separar as coisas: teremos palanques para presidente e o palanque aqui. O meu palanque é do PSDB, tenho 27 anos do partido, tenho todas essas convicções arraigadas e não vou mudar. Há nos bastidores informação de que, nesta negociação do Gustavo pelo apoio do Bolsonaro, ele teria feito acerto com o Republicanos, que indicaria seu candidato ao Senado. Acha que ainda há espaço para uma negociação com o PSDB?Não conversei isso com ele. Mas acho que sim. E, se não der, a gente pode ter duas, três, quatro candidaturas da oposição ao governo. Não vejo problema. No segundo turno, faz a concertação, discute programa de governo e tudo. E uma união com o PT está descartada?PSDB com o PT aqui é muito improvável por conta das relações históricas que a gente não teve. Eu respeito uma porção de pessoas do PT aqui de Goiás, com as quais tenho bom relacionamento, mas temos posição antagônica histórica, principalmente eu em relação ao PT. E o que acha do fato de José Eliton ir para o PSB e articular uma frente de oposição na centro-esquerda?O José Eliton já apoia a esquerda desde a eleição do (Fernando) Haddad no segundo turno (em 2018). E ele tem dito reiteradas vezes que o desejo dele seria apoiar essa concertação. Respeito. Ele me comunicou na sexta-feira de forma muito cordial e gentil, como sempre, que havia conversado com o ex-governador Geraldo Alckmin, com o presidente do PSB, Elias Vaz, e estava tratando da possível filiação e eu disse que respeitava a posição, a convicção dele, embora eu tenha a minha, que é conhecida de todos. Com quem PSDB poderia se aliar se resolver, por exemplo, lançar candidato ao governo?Tem um monte que vai sobrar da chapa do governo. Esse já é um caminho. Tem muita gente que não está satisfeita com as decisões do governo. Se Henrique Meirelles desistir, terá desistido exatamente porque não se acertou espaço com ele na chapa do governo. A desistência do presidente da Assembleia, Lissauer Vieira, também tem a ver com isso. A questão do vice-governador está mal resolvida. Os senadores também não estão satisfeitos. Tem uma série de arestas. Se de um lado há uso e abuso de poder político do governo para cooptar um ou outro prefeito, de outro lado as lideranças mais importantes, mais tradicionais, não estão satisfeitas. E aí vem aquela máxima de que o Caiado não gosta dos velhos amigos; sempre gosta de novos amigos. Esses novos que chegam agora daqui a pouco serão velhos também e por certo serão descartados. Na última entrevista ao POPULAR, o sr. havia dito que definiria candidatura em abril, maio. Agora está dizendo junho. Está difícil definir?Sempre disse aos companheiros que minha decisão seria em junho. Posso ter falado errado, mas será junho. Porque temos todo um processo de consulta, um cronograma de encontros, oitivas. Vou conversar com muitas instituições da sociedade civil das quais eu fui parceiro. Vou também me atentar às pesquisas para ver o que o eleitor quer. Se quer que eu entre ou não. Não tenho projeto pessoal, por vaidade. Já tive muitos cargos e sempre em sintonia com os eleitores. A desistência de Meirelles te deixa mais animado para o Senado ou não muda?Não muda. Eu vou seguir esse roteiro até junho. Apenas acho que a desistência do Meirelles é ruim para Goiás. Ele é um bom quadro, foi um bom ministro. Eu me dou muito bem com ele. Acho que ele avaliou bem as circunstâncias de entrar numa eleição aqui no Estado. Não sei dizer o que ele decidiu.O sr. falou que a desistência teria a ver com a falta de espaço dele na chapa governista, mas o que sabemos é que há outros motivos, porque ele tinha prioridade dentro do grupo do governo.Ah, eu acho que essa questão da chapa também pesou. Essa indefinição deve ter pesado muito ou deve estar pesando. Não há definição do nome para senador no governo, pelo menos pelo que ouço, antes de julho, agosto. Sobre o governador João Doria, houve o anúncio de Eduardo Leite de que segue no PSDB e ficará como reserva. O que acha?O Doria é o candidato escolhido nas prévias, é o candidato oficial do PSDB e é o candidato que a gente apoia. Mas ele não deslancha nas pesquisas. Não fica difícil?Vamos dar tempo ao tempo. Agora é hora de fazer chapa de deputado.