A Companhia de Desenvolvimento Econômico de Goiás (Codego), estatal do governo goiano, recebeu multa de R$ 5,86 mil por conta de uma caminhonete S10 que participou dos bloqueios de estradas nas manifestações contra o resultado da eleição presidencial no País, segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF). O veículo é de uso do Distrito Agroindustrial de Goiás (Daia), cujo gerente é Marlon Caiado, primo do governador Ronaldo Caiado (ambos do UB).A caminhonete foi multada em 1º de novembro, dois dias depois das eleições, em trecho da BR-060 em Anápolis, que havia sido bloqueado desde o dia anterior. As forças de segurança do estado atuaram para desobstruir as vias, após determinação do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.No dia 31 de outubro, Caiado minimizou os protestos e afirmou que havia determinado o desbloqueio, em diálogo com os manifestantes. A multa foi aplicada pela PRF na operação para desmobilizar a manifestação.O veículo da Codego era alugado e não tinha identificação da estatal, apesar da orientação de que todos os carros sejam plotados. Inicialmente, Marlon Caiado afirmou à reportagem que utilizou o veículo a trabalho no dia da multa e que houve equívoco por parte da PRF. Depois, ele alegou que não tem certeza sobre quem estava usando a caminhonete no momento da infração.Leia também:- Atos antidemocráticos têm casos de violência e crimes em série de bolsonaristas- Moraes manda, e PF faz buscas contra bolsonaristas por atos antidemocráticos- Moraes dá 48 h para que ministro da Justiça explique medidas contra vandalismo de bolsonaristasO gerente do Daia afirmou que apresentou defesa contra a multa na PRF, alegando que havia se deslocado “até a igrejinha, dentro do distrito, para buscar documentos sobre orçamento para construção de dois pontos de ônibus no local”. Segundo Marlon, na ida, havia o bloqueio da estrada, mas ele apresentou documento e justificativa para pedir que os manifestantes o deixassem passar, o que, segundo ele, foi autorizado.O auxiliar do governo alega que, quando foi retornar, já havia operação para dispersão do bloqueio, com bombas de gás lacrimogênio, e que ele apenas fez o caminho contrário. “Aí foi aquele tumulto e nós apenas retornamos. Claro que não participei de bloqueio. Zero, não tem a mínima possibilidade”, afirma.Marlon diz que não foi abordado pela PRF e que só soube da multa com a notificação que chegou à Codego. “Se eu tivesse visto (os agentes), teria conversado, mostrado meu crachá. É lógico que eu não estava protestando nem bloqueando.”O gerente também disse que “assumiu a defesa” se apresentando como responsável porque é o gestor do Daia e “o pessoal lá da Codego” não tem condição de pagar mais de R$ 5 mil de multa. “Se fosse um baixo valor, nós faríamos uma vaquinha e estaria resolvido esse assunto. Mas é um valor alto.”Marlon confirmou que o veículo ficava à disposição da gerência do Daia, mas diz que era utilizado também por outros funcionários.Outra versãoInformações de servidores da Codego apontam outra versão sobre o caso: de que Marlon, que é bolsonarista e já participou de outras manifestações em favor do presidente, teria deixado a caminhonete parada na formação da barreira, montada ainda no domingo (31), como participante do protesto. Segundo funcionários da companhia, ele chegou a ser alertado sobre o uso indevido do veículo.A penalidade aplicada ao condutor da S10 da Codego está prevista no artigo 253-A do Código de Trânsito Brasileiro: “Usar qualquer veículo para, deliberadamente, interromper, restringir ou perturbar a circulação na via sem autorização do órgão ou entidade de trânsito com circunscrição sobre ela”. A infração é considerada gravíssima e o CTB prevê suspensão do direito de dirigir do responsável por 12 meses.Ainda de acordo com informações de bastidores, a Codego não informou à PRF o condutor responsável, o que pode provocar nova multa. A legislação estabelece que, em casos de veículos registrados em CNPJ, é necessário a identificação do infrator. Caso não ocorra, haverá nova penalidade.Procurado, o coordenador do setor de Transportes da Codego, Cleudivino Evaristo Filho, disse não ter conhecimento da multa e não quis comentar a infração e o uso do veículo.ApuraçãoA direção da Codego respondeu por nota apenas que instaurou processo administrativo para apuração de responsabilidades. “O processo está em fase de oitiva. Sendo constatada qualquer irregularidade, os envolvidos serão responsabilizados conforme previsto por lei”, disse.A companhia não respondeu por que o veículo não era plotado e por quem era utilizado.Ao final da entrevista, Marlon disse que a reportagem deveria “tomar cuidado com um assunto antigo e que não tem significância” e que poderia prejudicá-lo, além de prejudicar a Codego e o governo.Disse ainda que não tem certeza se era ele que estava no veículo no dia da multa. “O bloqueio durou vários dias e eu fiz a contestação porque sou gestor da área e precisava apresentar lá uma defesa. Mas pode não ter sido nesse dia (que ele utilizou o veículo). Eu tenho motoristas que trabalham pra mim. Teria de puxar pelo satélite para saber as movimentações.”No dia 9 de novembro, depois de adquirir frota própria, a Codego fez a devolução da S10 à empresa Suporte Serviços e Comércio Ltda., do contrato de locação. Por óbvio, a estatal é responsável por pagar multas geradas durante vigência do contrato.Além da infração do bloqueio da estrada, a caminhonete também foi multada por não uso de cinto de segurança, 13 minutos depois da primeira multa. A infração é grave, com valor de R$ 195,23. Ao total, portanto, a dívida é de R$ 6.064,63.No dia 12 de novembro, O POPULAR mostrou que cinco pessoas e duas empresas de Goiás haviam sido multadas pela PRF por organizarem bloqueios na BR-364 nas manifestações golpistas. O valor total era de R$ 123,2 mil. Entre os multados, estava o empresário e ex-deputado estadual Victor Priori, de Jataí. Os dados parciais das multas foram repassados na época pela PRF ao Supremo.No dia 17 de novembro, empresas goianas e um empresário de Itumbiara tiveram contas bloqueadas nas investigações do ministro Alexandre de Moraes sobre líderes e financiamento das manifestações nas estradas.