Apesar de a maioria dos 15 candidatos a prefeito de Goiânia destacarem em seus planos de governo preocupação com a situação do transporte coletivo – há dois que praticamente não citam o tema -, os corredores preferenciais e exclusivos previstos no Plano Diretor de 2007 e considerados o eixo de desenvolvimento da cidade são praticamente ignorados pelos prefeitáveis. Ou então tratados de forma bem rasa.Levantamento feito pelo POPULAR mostra que quatro candidatos não falam de corredores em seus planos e dez não abordam o sistema BRT Norte-Sul, cuja obra ao que tudo indica não fica pronta até o fim da atual gestão e atravessa a cidade inteira. Para especialistas ouvidos pela reportagem, não há como se discutir transporte público e mobilidade sem passar pelo tópico.O Plano Diretor de Goiânia, de 2007, previa a existência de 6 corredores exclusivos e 16 preferenciais. De acordo com o documento, os corredores serviriam como “elementos estruturadores do modelo de ocupação do território” e a cidade se desenvolveria a partir destas vias, com a permissão de maior adensamento e uso de solo diferenciado. Porém, após 13 anos, Goiânia só conta com dois corredores exclusivos e três preferenciais, sendo que um deles não estava previsto originalmente (Corredor Universitário).Mesmo quando tratam de corredores, os candidatos algumas vezes são vagos no termo, usando a expressão “corredores de tráfego” ou falando apenas dos exclusivos. Lendo os planos entregues por eles na Justiça Eleitoral não é possível saber se estão ou não falando de transporte coletivo ou se diferenciam “exclusivo” de “preferencial”.A deputada estadual Adriana Accorsi (PT) é quem mais fala em corredores (veja quadro), prometendo continuar o processo de implantação dos corredores exclusivos “para garantir conforto e agilidade aos usuários” e priorizar o investimento neste ponto. Porém, ela não se aprofunda na proposta. Em três vezes, ela fala de corredores de tráfego, não deixando claro se está se referindo aos previstos no Plano Diretor ou às principais vias de fluxo de carros. Ela também promete projetos para captação de recursos “em agências multilaterais” para investir em corredores exclusivos.Já sobre o BRT, a candidata não fala em concluir a obra como os outros candidatos fazem – reportagem de hoje do POPULAR mostra que o eixo não fica pronto neste ano -, mas promete criação de polos de desenvolvimento ao longo do corredor.O candidato Alysson Lima (Solidariedade) fala de implementar linhas verdes nos principais corredores da cidade, sem explicar se está se referindo ou não aos de ônibus. Provavelmente não, pois logo em seguida fala em ampliar a política dos “semáforos inteligentes” “em conexão com os veículos do transporte público coletivo” para dar maior agilidade às viagens.Ao falar dos corredores exclusivos e preferenciais, o candidato afirma que vai criar um “plano municipal permanente de mobilidade urbana, com ênfase no Plano Nacional de Mobilidade Urbana e no Estatuto das Cidades”, mas não faz menção ao Plano Diretor.Na verdade, só um candidato faz referência ao Plano Diretor quando cita os corredores: Antônio Neto (PCB). Ele promete “ampliar a implantação dos corredores exclusivos para transporte coletivo conforme prevê o Plano Diretor”. Mas não cita se é o de 2007 ou o que está em discussão desde julho do ano passado na Câmara Municipal.A revisão do Plano Diretor entregue pela atual gestão da Prefeitura prevê a ampliação no número de corredores, a transformação de alguns que hoje são preferenciais em exclusivos e cria um novo modelo, os estratégicos. Estes últimos não teriam vias prioritárias, mas teriam maior frequência de ônibus e de pontos instalados.O senador Vanderlan Cardoso (PSD) e o deputado estadual Major Araújo (PSL), curiosamente, apresentaram praticamente a mesma – e única proposta – citando corredores de ônibus. A frase é quase igual. O primeiro falar em “implantar corredores de ônibus exclusivos de acordo com estudos técnicos e sempre dialogando com a população”. O segundo só troca o verbo por “revisar”.Especialistas apontam gargalo no sistema coletivoEspecialistas ouvidos pelo POPULAR dizem que discussões envolvendo transporte coletivo passam, necessariamente, por apontar propostas para os corredores de ônibus. Doutora em Transportes e professora da Universidade Federal de Goiás (UFG), a arquiteta e urbanista Erika Kneib diz que existem dois grandes gargalos neste assunto: financiamento e infraestrutura. E neste segundo caso, o corredor é o ponto mais importante a ser debatido.Para o perito em trânsito Antenor Pinheiro, não é possível discutir transporte público sem falar de corredor. “Omitir essa necessidade é confessar que as coisas devem continuar com a intensificação, perpetuação e predominância dos investimentos na infraestrutura do transporte individual motorizado (carros e motocicletas) em detrimento do transporte público coletivo”, comentou.Antenor explica que o sistema de transporte público é baseado numa rede de linhas estruturais (que transportam mais passageiros) e alimentadoras (que ligam as estruturais aos bairros) e que os corredores são fundamentais para que a velocidade dos ônibus seja mais próxima do ideal. Segundo ele, atualmente a média está entre 8 e 11 km/h, quando deveria estar entre 27 e 30 km/h. E isso impactaria em uma série de fatores, desde o custo da viagem até atrasos e superlotação.“Discutir políticas de transporte público coletivo sem considerar a infraestrutura na qual ele se desenvolve e funciona é enxugar gelo, é esconder do eleitor o verdadeiro problema que hoje compromete a infraestrutura ideal do sistema”, afirmou.Erika destaca que quanto mais lento for a viagem de ônibus, mais em desvantagem fica em relação a outros modais, como carros e motos, agravando a situação do setor, já que também estimula a migração do usuário para o transporte individual. “Não é uma opção (a discussão), é obrigatório”, afirma.Para ela, a primeira coisa a se fazer em relação aos corredores é garantir a implementação dos que estão previstos no Plano Diretor e em seguida discutir a qualidade deles, pensando no desenvolvimento urbano.Assunto tratado de forma vagaMesmo quando citam os corredores, nem sempre os candidatos estão falando de transporte coletivo. O deputado estadual Virmondes Cruvinel (Cidadania), na única vez que fala do tema, é para tratar de melhorias na iluminação pública. Manu Jacob (Psol) diz que é contra a privatização do BRT. A vereadora Cristina Lopes (PL) fala duas vezes que é preciso investir nos corredores, mas destaca como mais importante “criar um modelo de gestão” para melhorar a qualidade do transporte.O ex-governador Maguito Vilela (MDB) nas três vezes que cita corredores e BRT sugere a integração das linhas com terminais, sem detalhar.O deputado federal Elias Vaz (PSB) fala em alocar recursos públicos para priorizar a infraestrutura de transporte em massa e cita como exemplo os corredores, mas, assim como os concorrentes, de forma vaga.Os candidatos Fábio Júnior (UP), Samuel Almeida (Pros) e Talles Barreto (PSDB) não falam em corredor em seus planos. Vinícius Gomes (PCO) não apresentou o documento.