O cientista político e professor da Universidade Federal de Goiás (UFG) Pedro Célio Alves Borges classifica como “cinismo estrondoso” o fato de parlamentares goianos afirmarem que não é momento para discutir impeachment do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), “principalmente quando os efeitos da incapacidade do Executivo são milhares de mortes de brasileiros que poderiam ser evitadas.” Na visão de Pedro Célio, não faltam motivos para a abertura do processo, como crimes de responsabilidade e desrespeito à Constituição por meio de palavras e atos desde o início do mandato. “Quanto ao ambiente político para prosperar um processo de impeachment, eu não o vejo com clareza. Bolsonaro continua detendo condições para sua continuidade no cargo, o que nada têm a ver com a sua atuação reprovável, criminosa e juridicamente fácil de ser enquadrada.” O professor destaca que a polarização da eleição na Câmara dos Deputados entre Baleia Rossi (MDB-SP) ou Arthur Lira (PP-AL) mostra que alas importantes da base de Bolsonaro estão se desgarrando para articular a candidatura do emedebista. “Se pensarmos nas agonias do País e nas expectativas frustradas de moralização política, ela representa muito pouco. No entanto, dada a necessidade de impor freios a um governante tresloucado e negacionista, ela deve ser valorizada e reforçada, inclusive pelas forças originalmente de oposição.”De acordo com o professor, a eleição de Arthur Lira significa blindagem parlamentar e tranquilidade a mais para Bolsonaro e seus filhos diante da possibilidade de serem alcançados pelos processos judiciais em andamento.O presidente da Câmara é responsável por definir se um processo de impeachment será, ou não, apreciado. No comando da Casa atualmente, Rodrigo Maia (DEM-RJ), recebeu dezenas de pedidos, mas não deu andamento a nenhum. A eleição para o novo presidente está marcada pela 1º de fevereiro.