-Imagem (1.2528164)Coordenador de projeto do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), David Marques falou do problema da falta de medidas que blindem as instituições de segurança pública da influência político partidária. Doutor em Sociologia pela Universidade Federal de São Carlos, ele foi o entrevistado do programa Chega pra Cá, apresentado pela jornalista Cileide Alves, nesta terça-feira (13), no qual falou sobre o aumento da presença de profissionais da área nas eleições.Para Marques, há uma “permissividade complicada” nas regras que envolvem a participação de agentes de segurança pública como candidatos nas eleições. Ele destaca o fato de que há uma facilidade do policial estar em um palanque político hoje e, amanhã, retornar ao trabalho cotidiano caso não seja eleito.Na visão do especialista, a carreira poderia ter medidas como as que funcionam para outras profissões. Ele cita o caso dos promotores, que precisam cumprir uma quarentena longe do cargo antes de entrar em uma disputa eleitoral.“Na medida em que a gente tem instituições policiais ou do sistema de justiça, que são instituições de estado, a gente precisa que elas sejam blindadas das influências político partidárias, caso contrário, elas podem ser instrumentalizadas para uma atuação que não é de interesse público, passa a ser interesse de um grupo político específico”, analisa.Leia também:- Entrevista com David Marques, coordenador de projetos do Fórum Brasileiro de Segurança Pública- Policiais militares voltam ao 'top 10' das candidaturas em GoiásHá, hoje, no Brasil um crescimento da quantidade de candidatos ligados à segurança pública. Segundo dados compilados pelo FBSP, com números preliminares do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o número de policiais candidatos no Brasil cresceu 28,5% em relação às eleições de 2018. São 1.888 candidatos oriundos das forças de segurança e defesa ante 1.469 em 2018. A proporção média de participação dessas categorias em relação ao total de candidaturas é de 6,6%.Esse número também aumentou em Goiás. Levantamento do POPULAR, publicado em 30 de agosto, revelou que são 71 candidatos ligados à segurança no estado, aumento de 31% em relação a 2018, quando havia 54 postulantes. De acordo com o fórum, a proporção de candidatos em Goiás é de 6,5%, similar à média nacional.RadicalizaçãoMarques afirma que isso é resultado de um processo que ele chama de “radicalização política de policiais”. Segundo ele, um ápice desse processo foi o motim da Polícia Militar no Ceará, em 2020, que levou a uma série de consequências, como o aumento de agentes que entram na política com um perfil mais radicalizado e menos corporativista, como era comum. Ou seja, aqueles que se candidatam com o objetivo principal de defender pautas da categoria.O especialista explica que essa radicalização não é o simples fato do policial ter um perfil conservador, mas ela é revelada quando esses agentes se manifestam, por exemplo, sobre atos antidemocráticos. “A radicalização a gente tem tratado nesse sentido, de quando a opinião política vai convergindo para um sentido de ação concreta contra instituições democráticas estabelecidas”, diz.Marques cita que, dentro desse perfil de policiais radicalizados, há o fenômeno dos policiais influenciadores digitais. “Que se utilizam da sua posição de policial para fazer essa atuação política e, não raro, esse perfil vai se radicalizando”, explica.Ele ainda lembra que, apesar da crescente presença desses policias radicalizados, o perfil de agentes com um viés mais corporativista não deixou de existir. Marques chama atenção para o fato de que, fora os agentes de segurança, não há outros setores da política tentando dialogar com a categoria.Para ele, isso explica por que esses policiais acabam se identificando mais com a direita, no espectro político. Ele lembra que se popularizou no Brasil a expressão “bandido bom é bandido morto”, como forma de combate à violência. “A configuração do nosso debate acabou deixando no colo desse espectro político a política de segurança pública”, afirma.-Imagem (1.2528151)