Em discurso em que repetiu por oito vezes a palavra “democracia”, o governador Ronaldo Caiado (UB) defendeu o respeito às urnas e a paz no País em solenidade de diplomação dos eleitos este ano, realizada no auditório do Tribunal de Contas do Estado (TCE-GO) e da qual ele participou de forma remota, de São Paulo.“Podemos muitas vezes criticar a democracia, mas não existe nenhum outro regime político capaz de dar ao cidadão tamanha liberdade de se expressar e de defender suas ideias. Eu, chegando aos 73 anos de idade, sou um defensor intransigente da democracia”, afirmou, sob aplausos.A ênfase no discurso ocorre em momento em que grupos bolsonaristas mantêm ataques antidemocráticos em todo o País e a Polícia Federal investiga radicais que preparam atos para o dia da posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A fala também ocorreu minutos depois de o deputado federal eleito Gustavo Gayer (PL) gritar, ao receber o diploma na solenidade, que “isso aqui é um teatro, quem manda no Brasil é o STF”.O governador disse que os ataques antidemocráticos prejudicam os mais necessitados. “Temos a responsabilidade de pedir a todos que reflitam: o Brasil precisa de paz. Qualquer ruptura social, provocada pelo descumprimento das regras democráticas, provocará sequelas irreparáveis e um sofrimento ainda maior aos mais vulneráveis”.Leia também:- Adiamento da reforma administrativa gera cobrança de aliados de Caiado- Governador, deputados e senador eleitos em Goiás são diplomados e ganham direito à posse- “Quero que o País dê certo”, diz única deputada federal do PSDB goiano sobre LulaCaiado defendeu o respeito às normas constitucionais e a luta pelo poder, em caso de derrota, nas eleições seguintes. “Nos curvamos ao resultado das urnas e, se derrotados, nos preparamos para cumprir o calendário eleitoral trazendo ideias convincentes e propostas que ativem o coração e a mente do eleitor.”Submetido a cirurgia cardíaca no dia 8 de dezembro, o governador deve permanecer em São Paulo até a próxima semana. Ele recebeu alta do hospital Vila Nova Star no dia 14, mas sua recuperação segue sendo monitorada pela equipe médica de São Paulo, comandada pela anapolina Ludhmila Hajjar. A médica apareceu ao lado do governador, além da primeira-dama Gracinha Caiado e das filhas Maria e Marcela, na participação remota da cerimônia. Eles entraram on-line da sede da organização Comunitas, como informou o Giro.No discurso, o governador reafirmou o compromisso de priorizar a área social em seu segundo mandato e pediu um “pacto para que Goiás seja o primeiro estado a romper o ciclo da pobreza de forma concreta”. “Vamos implementar programas sociais inclusivos, transformadores e emancipadores”, comprometeu-se.Caiado apontou quatro “reflexões” para o cumprimento dos mandatos dos diplomados - além dele e do vice, Daniel Vilela (MDB), o senador Wilder Morais (PL), 41 deputados estaduais e 17 deputados federais: espírito público; foco em combater as desigualdades e dar dignidade ao cidadão; respeito à independência dos poderes e aos segmentos organizados da sociedade; e responsabilidade fiscal.O governador disse que o respeito ao dinheiro público foi “a grande marca” do primeiro mandato e que o estado superou a crise fiscal. Ele também falou do que considera avanços em áreas prioritárias e destacou a segurança pública. “Tenho orgulho de ser o comandante em chefe das forças de segurança e sem elas, afirmo, não teríamos alcançado governabilidade no nosso primeiro ano de governo”, afirmou.No início do discurso ele citou o legado de Iris Rezende e Maguito Vilela, ambos mortos em 2021, e fez agradecimentos à família.A solenidade durou duas horas, com a entrega dos diplomas, em ordem alfabética, aos eleitos. Gayer não seguiu o protocolo de cumprimentar os integrantes da mesa, pegou o diploma das mãos do presidente do Tribunal Regional Eleitoral (TRE-GO), Itaney Campos, fez a crítica ao Supremo e pulou do palco. No corredor do auditório, em direção à saída, seguiu gritando, enquanto dobrava duplamente o diploma: “Viva o STF, viva Alexandre de Moraes”. No meio da plateia, houve gritos ironizando o comportamento do parlamentar e pedidos de que ele rasgasse o diploma e renunciasse ao mandato.Aliado próximo de Gayer, o deputado estadual eleito Fred Rodrigues (DC) seguiu o rito normalmente do recebimento do diploma. Ele ganhou o mandato na última semana de novembro, depois de decisão da Justiça Eleitoral retirando a inelegibilidade por ausência de quitação eleitoral.Último a discursar, Itaney também ressaltou a democracia, a confiança da população nas urnas e o combate à desinformação como vitoriosos das eleições deste ano. “Triunfou a democracia”, disse, sem fazer referência ao comportamento de Gayer.ViceDaniel Vilela, que visitou Caiado na semana passada em São Paulo, destacou em entrevista a melhora da situação fiscal do estado como razão para “otimismo e motivação” para o segundo mandato. “A expectativa é extremamente positiva. Com bastante ousadia e criatividade, será possível realizar muito mais”, afirmou.Sobre seu papel como vice, Daniel afirmou que já recebeu algumas missões por parte do governador e que seguirá colaborando em várias áreas, principalmente em questões políticas. “Papel do vice é colaborar, sempre que chamado”, disse. Caiado já afirmou que Daniel não será secretário.Sobre o espaço do MDB na equipe do governo, o futuro vice disse que não é momento de conversas a respeito por conta da cirurgia e recuperação de Caiado. “No momento adequado, eu tenho certeza de que o governador chamará todas as forças políticas que fizeram parte da sua aliança para que possam dar colaboração administrativa nesses quatro anos.”O POPULAR mostrou nesta segunda-feira (19) que lideranças do MDB, PP, PSD, PDT e SD elevaram o tom de cobranças sobre a distribuição de espaços no governo. Caiado deixou para fevereiro a reforma da estrutura administrativa e ainda não iniciou diálogo sobre as divisões políticas no futuro secretariado.-Imagem (Image_1.2581126)