O deputado federal por Goiás Delegado Waldir (PSL) revelou ao jornalista Guilherme Mazieiro, do Intercept Brasil, a promessa de R$ 10 milhões em emendas do orçamento secreto para cada deputado que votasse em Arthur Lira para a presidência da Câmara dos Deputados em fevereiro deste ano. Ele foi eleito em uma vitória ampla, com 302 votos no primeiro turno – num total 513 deputados.Oferta para o delegado WaldirO deputado goiano revelou ao jornalista que recebeu uma oferta de R$ 10 milhões em emendas para votar em Lira. Ele ainda disse que outros R$ 10 milhões foram acordados no mesmo período, mas não soube precisar se também em troca do voto em Lira ou da aprovação de algum outro projeto à época, segundo a reportagem.“Quem manda no governo é o Lira”O goiano ainda revelou ao jornalista que, com as emendas do relator, o controle dos investimentos do governo federal saiu dos ministérios e ficou concentrado nas mãos de Lira e do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, do PSD de Minas Gerais. “Ele é quem carrega o governo. Quem manda no governo hoje é o Lira. Não é o Bolsonaro, é o Lira”, crava o deputado.Vitor HugoOutro nome também é citado na reportagem publicada neste sábado: Vitor Hugo, também do PSL de Goiás. Desafetos, Waldir afirma que Vitor Hugo (PSL) recebeu R$ 300 milhões em emendas secretas. Disse, ainda, que deputados da oposição também receberam verbas do orçamento secreto após negociarem com Lira.Votos por emendasDurante a entrevista o deputado ainda afirmou que se o orçamento secreto é uma novidade, a troca de votos por emendas, não. O Delegado Waldir disse que, ao votar a favor da reforma da Previdência, em 2019, cada parlamentar receberia R$ 20 milhões em recursos do governo. Por ser líder do PSL, ele levou o dobro. Como na época ainda não existia a emenda de relator, o dinheiro seria liberado pelo governo federal a partir de verbas de uso discricionário – ou seja, em que o Executivo pode decidir a aplicação."Orçamento paralelo"Reportagem do Jornal O Estado de S. Paulo em maio deste ano revelou que o presidente Jair Bolsonaro, no fim de 2020, montou um esquema para ampliar sua base no congresso por meio de um orçamento paralelo de R$ 3 bilhões em emendas. A reportagem ainda mostra que boa parte delas seriam destinadas à compra de tratores e equipamentos agrícolas por preços até 259% acima dos valores de referência fixados pelo governo.Resumindo: uma manobra 'secreta' de troca de votos por emendas do relator, um novo tipo de rubrica de gastos que totaliza R$ 18,5 bilhões em 2021, propostos por deputados que os nomes são mantidos em sigilo pela Câmara. Em decisão liminar, o Supremo Tribunal Federal mandou suspender o sistema por falta de transparência.O jornalista Guilherme Mazieiro conversou com o deputado por duas vezes, em outubro e em novembro. Nas ocasiões, o deputado detalhou que o sistema teve participação importante de um general de quatro estrelas da reserva, Luiz Eduardo Ramos, secretário-geral da Presidência da República. Ramos foi ministro-chefe da Casa Civil e da Secretaria de Governo e responsável pela articulação política com o Congresso.Promessas não cumpridas e racha no PSLWaldir não recebeu os milhões negociados. A verba foi bloqueada depois de um racha no PSL, em 2019. Segundo a entrevista do Intercept, em outubro daquele ano, a bancada do partido estava em uma guerra interna. O goiano acusou Bolsonaro de tê-lo destituído da liderança para colocar ali o filho, Eduardo Bolsonaro. Em uma reunião interna, Waldir chamou Bolsonaro de “vagabundo” e disse que “implodiria” o presidente. A crise se agravou e culminou com a saída de Jair Bolsonaro da sigla, em novembro.A primeira entrevista com Waldir foi realizada no gabinete dele em 26 de outubro. A entrevista completa você pode acessar aqui.