Líder da oposição na Assembleia Legislativa do Estado de Goiás, o deputado estadual Talles Barreto (PSDB) diz que o governador Ronaldo Caiado (DEM) demorou muito a montar a sua base na Casa e, por isso, precisou barganhar mais via cargos comissionados, mais até do que em gestões passadas. “Os deputados para poder compor a base do governo e votar matérias do Executivo exigiram muito. Muito mais até que em governos anteriores”, declarou o parlamentar em entrevista ao jornal O POPULAR.Situação que, na opinião de Talles, explicaria a grande quantidade de indicados dos deputados estaduais Humberto Teófilo (PSL), Eduardo Prado (PV), Karlos Cabral (PDT) e Virmondes Cruvinel (Cidadania) exonerados no final do mês passado. Foram mais de 90 nomes, como mostrou reportagem do POPULAR no dia 28 de dezembro. Os quatro parlamentares eram aliados do governo estadual, mas votaram contra a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) da reforma da Previdência e o novo Estatuto do Servidor. Por serem servidores públicos, declararam que não poderiam aprovar projetos de lei que retiram direitos do funcionalismo. Resultado: perderam mais de R$ 250 mil em cargos comissionados no Estado.Talles, por sua vez, declara não ver disposição desses parlamentares em integrar a oposição. “Eles vão ficar em cima do muro”, acredita. E vai além, diz que não permitirá o uso da oposição para barganha de cargos, o que, segundo ele, já ocorreu muito no passado. Também não crê numa ‘reconciliação’ com o governador Ronaldo Caiado, que chegou a comentar com alguns parlamentares que prefere uma bancada menor, mas que vota 100% com ele, a ter aliados instáveis. Leia a entrevista de Talles Barreto na íntegra: Como o senhor avalia a retaliação do governador Ronaldo Caiado aos quatro parlamentares da base que votaram contra a PEC da reforma da Previdência e o novo Estatuto do Servidor e perderam postos comissionados no Estado?Primeiramente, quero fazer a avaliação de que o governador Dr. Ronaldo Caiado demorou muito a montar uma base na Assembleia. Usava a nova política como instrumento e posteriormente para montar e consolidar sua base teve que gastar muito em termos de barganha. Ele falava que não iria fazer barganha no governo dele e fez barganha. É um jogo de certa forma comum. Que ele falou que não iria fazer, mas praticamente sua base foi montada assim. Os deputados para poder compor a base do governo e votar matérias do Executivo exigiram muito. Muito mais até que em governos anteriores. E usaram, como falei até outras vezes, muito a oposição para barganhar. Usaram a oposição muitas vezes nas matérias inicialmente mais polêmicas, como o passe livre estudantil. Então, chegaram alguns projetos que a própria movimentação dentro da Casa exigiu muito isso (barganha) do governo. O senhor faz referência a todos os parlamentares que se diziam aliados e votaram contra a PEC da reforma da Previdência e o novo Estatuto do Servidor?Não queria enquadrar todos os parlamentares nesta situação. Por exemplo, o Major Araújo (PSL) apoiou o Dr. Ronaldo Caiado e nunca exigiu nada dele. E ele bateu muito no final agora do ano de 2019, em especial na reforma da Previdência, como no Estatuto do Servidor, fazendo duras críticas ao governo. Mas ele nunca barganhou cargos para isso. É fato. Então, não podemos misturar.Outro deputado que sempre foi coerente e defendeu o governo na tribuna foi o deputado Humberto Teófilo (PSL). Para nós foi até um pouco estranho a exoneração dos cargos dele, até porque ele participou no ano de 2019 incisivamente na defesa do governo. É fato. Ele defendeu a classe dele, como delegado da Polícia Civil, ele pontuou firmemente na defesa da sua categoria. Mas ele sempre subiu na tribuna e fez a defesa do governo. Diferente de outros parlamentares que votaram contra a reforma da Previdência, deputados que fazem da parte da CCJ (Comissão de Constituição, Justiça e Redação) e que quiseram presidir para poder justificar não poder votar, deputados que apresentam destaque na hora, sabendo que o presidente não iria aceitar, querendo fazer média com o servidor público e na realidade sempre ajudou o governo, votou as matérias do governo, e nunca subiu e defendeu o governo na tribuna da Assembleia. Então não pode comparar esses parlamentares. Humberto Teófilo tinha os seus cargos, barganhou cargos, mas defendia o governo. Outros não.O Dr. Ronaldo sempre falava que político, deputado querer casar e ter vida de solteiro não tem condições. E esses parlamentares quiseram fazer isso. Tinham um compromisso com o governo, eram da base, mas não votavam matérias do governo. Aí é muito fácil! Eram casados, mas queriam ter vida de solteiros. Não justifica a atuação desses parlamentares que se dizem governo e, mesmo votando contra (a PEC da reforma da Previdência e o novo Estatuto do Servidor), muitos deles articularam para que as matérias pudessem ser aprovadas. Algum dos deputados que tiveram indicados exonerados apresentaram disposição de se declarar oposição?Eu falo que não adianta eles quererem ser oposição porque não são oposição, nunca foram oposição. Nos outros governos também eram da base do governo. E vão tentar ser de todas as formas, vão tentar justificar ao governador.Agora, para ser oposição, fazer oposição, tem que querer e não acredito que eles irão querer fazer oposição de forma alguma. Eles vão ficar em cima do muro. Agora, não vão usar a oposição para barganhar cargo. Eu acho que isso é injustificável. Não vamos entrar nessa. E usaram muito isso no passado. Agora, quero ver, porque se eram da base do governo e nunca usaram a tribuna para defender o governo, agora que vão para a oposição, não vão fazer oposição de forma alguma. Não vão cheirar nem feder. A verdade é essa. O senhor acredita numa “reconciliação” do governador com esses parlamentares?Não acredito que o Dr. Ronaldo possa realmente aceitá-los de novo. Qual o impacto do episódio para a agenda do governo estadual na Assembleia Legislativa em 2020?As matérias em 2020 serão menos polêmicas. Todo governo coloca as matérias mais difíceis, mais polêmicas, especialmente no primeiro ano de governo, quando ainda tem um crédito na sociedade. Esse governo só ficou falando mal do governo passado, buscando justificativa pela sua inoperância. Um governo que não fez nada pelo social. Não melhorou as rodovias. Mal mexeu na manutenção dessas rodovias estaduais. Tanto é que o déficit do Estado não é o que eles falaram. Fecharam o ano com déficit bem abaixo do apresentado anteriormente. Como avalia o papel da oposição, em particular do PSDB, no ano de 2019 na Assembleia Legislativa?O PSDB fez o seu papel, um papel forte de oposição, atuante dentro do cenário da Assembleia Legislativa do Estado de Goiás. Eu, a deputada Lêda (Borges, PSDB), o deputado Gustavo Sebba (PSDB) e também o próprio deputado Helio de Sousa (PSDB) atuamos firmementes. Perdemos para a base do governo dois deputados que nós gostamos, Diego Sorgato (PSDB) e Tião Caroço (PSDB). Mas faz parte do jogo. Cada um com a sua situação, com a sua região. Mas estaremos firmemente em 2020 fazendo oposição, com coerência, com responsabilidade, e cobrando do governo as ações que são responsabilidades do governo. Ser governo não é só sentar atrás de uma cadeira e achar que falar mal de outro governo vai justificar seus quatro anos. Tem que ter ações. E nós vamos cobrar essas ações. O PSDB vai lançar candidato em Goiânia e o senhor colocou seu nome à disposição, certo?O PSDB terá sim candidato à Prefeitura de Goiânia. Eu sou pré-candidato a prefeito. Já sentei com grande parte do partido. Já fizemos algumas avaliações importantes. Estamos sentando agora com (Giuseppe) Vecci (PSDB) que teve um plano de governo importante e bacana há três anos e meio para disputar Goiânia. Vamos aproveitar isso também. Acho que temos um histórico. O PSDB sempre teve grandes quadros. Acho que temos que dar orgulho aos goianos, aos goianienses que nós perdemos. Na realidade, há 20 anos atrás o goiano tinha mais orgulho de bater no peito e falar da sua cidade. Hoje, infelizmente, nós temos muita dificuldade no trânsito, na saúde, na mobilidade, temos que melhorar muito a educação.Tenho a convicção que iremos fazer um trabalho bacana para podermos chegar neste ano e dar uma outra nova oportunidade das pessoas nos conhecerem e dar uma oportunidade de um plano diferente. Acho que é isso que precisamos buscar. Goiânia precisa revitalizar o seu Centro. Estive em Curitiba visitando o transporte público de lá que tem oito BRTs (Bus Rapid Transit). Um transporte público de altíssima qualidade, de nível europeu. Acho que precisamos dar alternativas, incentivos, isenção de IPTU (Imposto Predial Territorial Urbano), ISSQN (Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza), poder trabalhar isso. Acho que podemos apresentar algo diferente, algo bacana, porque o PSDB é forte, tem história, tem passado, tem presente e pode ter certeza que terá futuro.É importante ressaltar o apoio do presidente Jânio Darrot (presidente estadual do PSDB). Em todos os momentos sempre se colocou à disposição do partido ter uma candidatura própria, em aceitar bem o nosso nome. Tenho uma relação muito bacana, uma relação muito forte, dos mesmos objetivos. Ele está fazendo um trabalho excepcional à frente do PSDB e com certeza é um dos grandes quadros que nós temos. E está nos respaldando para a eleição de Goiânia. Isso é muito importante porque nós sabemos do peso do presidente do partido, da dedicação dele, e todo o esforço que ele está fazendo por nós. Ele tem o nosso reconhecimento.