Há quase dez anos atento aos cases de sucesso para melhor investir em ações na Bolsa, o médico ginecologista e obstetra João Baptista de Alencastro, 59, mostrou ser ele mesmo exemplo de trajetória bem-sucedida, tanto na medicina quanto em investimentos no mercado financeiro.João segue na rotina de partos, cirurgias, consultas e aulas, além de estudos diários para gerenciar as aplicações e de atividades físicas. Faz tudo isso já em contagem regressiva para se aposentar e, em janeiro de 2023, iniciar uma viagem a 25 países, com duração prevista de dez anos, em companhia da mulher, a médica dermatologista Margareth de Alencastro.Os investimentos foram mantidos mesmo durante a pandemia, quando não deixou de atender nem de realizar cirurgias. Como não era do grupo de risco, relata que trabalhou até mais, acolhendo pacientes de outros profissionais que tiveram de manter rígido isolamento. Apesar da constante exposição a riscos, não teve Covid.O casal, que trabalha em uma clínica no Setor Bueno, em Goiânia, vai usufruir a partir do próximo ano de uma renda mensal de 2,5 mil dólares, garantida pelos anos de economia e planejamento logístico.Leia também:Inflação pode transformar presente em lembrancinha no Dia das Mães, em GoiásCom alta da Selic, especialistas indicam melhores investimentosDos 25 países, eles já conhecem 15, dos quais 5 na Europa, onde será a fase dois da viagem pelo mundo, quando pretendem morar um ano em cada país que João diz já conhecerem bem - Portugal, Espanha, França, Itália e Grécia. Antes, vão percorrer as Américas, do Chile ao Alaska, e se aventurar por outros continentes, em roteiro que inclui Japão, Nepal, Austrália, Nova Zelândia, Samoa Americana, África do Sul, Índia, Indonésia, Tailândia, Malásia e China. O plano é morar três meses em cada parada.O mesmo planejamento minucioso com as finanças, o médico demonstra ter ao organizar suas viagens internacionais. Também aí entram cálculos. Por exemplo, no Airbnb, de aluguel para temporada, ele conta que alugando com um ano de antecedência, tem desconto de 30%. Então, dá a entrada e já investe o valor das parcelas restantes, o que lhe permite reduzir os gastos com hospedagem com o desconto e os rendimentos.As viagens mais longas costumam ser no intervalo de nove meses, para acompanhar as gestantes até o parto. “É uma questão moral.” Quando os prazos não coincidem, ele diz que esclarece logo às pacientes sobre as datas das viagens, algumas de um mês, outras de 15 dias e ainda as de 9 noites, aproveitando feriados regionais, que não encarecem com maior demanda os destinos turísticos. São duas ou três viagens internacionais ao ano.Na ponta do lápisDe iniciante que achava muito chato aprender a lidar com dinheiro ao investidor que pode se aposentar em breve mantendo o patrimônio principal que lhe dará renda mensal estimada em 5 mil dólares - embora tenha estipulado metade disso para os gastos a cada mês na viagem de uma década de duração -, João fez muitas descobertas.“No começo, minha vaidade intelectual ficou ferida, era muito neófito e era muita informação. Mas aprendi sobre negócios, agora gosto”, afirma, definindo-se como pessoa curiosa, que sempre gostou de viajar, fala cinco idiomas, é “nadador de formação”, corre, faz musculação, pratica esportes de aventura nas viagens.“Existe uma inteligência emocional no mercado financeiro”, constata, apontando como investidores que obtêm maior retorno os mais tranquilos, maduros, sem ímpetos de arriscar demais almejando ganhos imediatos. “Nunca peguei no poço e subiu, compro já subindo e sobe mais, compensa.”Um anestesista resume o perfil de um bom investidor, acredita João, porque precisa ser muito atento e ter controle emocional. Foi o colega Leo, o anestesista Leonardo, quem lhe deu as primeiras lições sobre dinheiro e o valor do tempo, que não pode ser desperdiçado.“Tinha Ambev e vendi, nunca mais olhei, terminei o namoro. Pra que vou ficar estudando Ambev se não tenho mais?”, exemplifica. Priorizar o que importa, não procrastinar, aprendizados feitos também na pós-graduação em filosofia.Nesses quase dez anos economizando, João é disciplinado e minucioso. Anota tudo em três cadernos, um de ideias, outro de contas e mais um de lucros. “Com o tempo, você nota uma lógica, gosto de colocar no papel para ver”, comenta.Ele observa que para juntar dinheiro, tem de fazer contas e cortar despesas. “Por exemplo, quanto se gasta com um lanche? Somando todos os dias, quanto fica? Não poderia ser mais barato e saudável preparando em casa?” Nas viagens, experiências e não compras, no dia a dia, o básico, funcional, sem ansiedade em adquirir o carro do ano ou o último modelo do celular. A microeconomia pode ser parâmetro para a macro, analisa, lembrando a importância de avaliar sempre a liquidez.Para conseguir liquidez e começar a investir, foi preciso vender um carro, dois consultórios e um apartamento. A partir daí, corte de gastos para aplicar em média 60% de sua renda todo mês, enquanto a mulher, Margareth, arca com boa parte das despesas correntes.Ao que vem sendo poupado, se soma a renda sobre renda. Para isso, vale muito o estudo de pelo menos uma hora por dia sobre renda fixa, renda variável, CDBs (Certificado de Depósito Bancário) e como investir em debêntures incentivadas, ações e fundos imobiliários. Caso a caso, ressalta, mencionando a oportunidade da renda fixa com os juros em alta hoje no Brasil.A escolha da assessoria financeira é outro fator determinante, segundo ele, que já contou com a colaboração de Thiago Nemézio, líder de alocação da Blue3, escritório autônomo de investimentos credenciado a XP. Hoje, seu assessor é Bruno Malheiros, sócio e assessor de investimento da Blue3.‘Por trás do papel, tem uma rede de produção’Tem em todo lugar? Esse é um critério para o médico João Baptista de Alencastro ao investir, como no caso da rede de farmácias Drogasil. “Penso na economia comportamental”, acrescenta, e cita a empresa Pets, “que ama cachorro, cuida”.Para o médico, cujo trabalho “é bem real”, mercado financeiro não é especulação. “Por trás do papel tem gente, é uma rede de investimento e produção, que cria empregos.”Ao verificar como funcionam as empresas antes de definir para onde destinar recursos, João diz buscar afinidades, preceitos, sem descuidar, claro, da remuneração. “Comecei a gostar mais do Brasil”, declara, elogiando que o país é muito bom no agronegócio. Cita Havaianas, marca que se firmou em vários países.Como investidor, afirma que “nada de alto risco”. “Ganho porque é constante, mas é pouco”, embora admita “alguma assimetria”, como Bitcoin, “tenho meio só, comprei porque podia dar um lucro danado e deu”.A experiência acumulada e o êxito no projeto de garantir renda para aposentadoria e viagens ao longo de dez anos, a partir de janeiro de 2023, também têm rendido a João convites para palestras em eventos que reúnem superinvestidores. Ele compartilha o que considera uma forma ética de ver o mundo. “Conhecimento tem de ser distribuído, prosperidade para todo mundo.”João se revela um case de sucesso, com repercussão ainda maior após entrevista ao site InfoMoney, ao qual detalhou seus investimentos: cerca de 25% do meu patrimônio está em ações, quase 10% em fundos imobiliários, entre 20% e 25% em multimercados, 3% em ouro e o restante em renda fixa. “Meu objetivo é que minha carteira sempre tenha uma rentabilidade de pelo menos IPCA + 4%, mas na maioria das vezes superei esse rendimento.”Informou ainda que após dez anos viajando, terá renda mensal para mais 14 anos. Daí, pretende avaliar se mora em alguma cidade que o tenha fascinado mais no percurso, ou se volta para o Brasil. Mas quer que o destino final seja mesmo Goiânia, onde nasceu.