Em ano eleitoral, parlamentares federais goianos destinaram R$ 105,2 milhões em recursos que poderão ser gastos em quase qualquer finalidade, sem fiscalização prévia, por 177 prefeituras de Goiás. O valor se equipara à soma do que os municípios receberam em 2020 e 2021, quando R$ 106,1 milhões desse tipo de recurso chegaram aos caixas das cidades.Levantamento feito com exclusividade para o POPULAR pelo Instituto Nacional do Orçamento Público (Inop) mostra que o montante foi indicado pelos goianos via transferências especiais, modalidade das emendas individuais a que parlamentares têm direito, e que foi apelidada de “pix orçamentário” porque transfere dinheiro diretamente às prefeituras, sem a necessidade de apresentar previamente nenhum tipo de projeto ou plano de ação para execução dos recursos públicos.A modalidade, que é questionada por órgãos de controle, está em vigor desde 2020 e permite que os parlamentares façam a indicação de até 50% de suas emendas nela. Para este ano, cada um dos mandatários do Congresso Nacional tem direito a R$ 17,6 milhões em emendas e podem, portanto, transferir até R$ 8,8 milhões desse dinheiro diretamente às prefeituras.À exceção de gastos com pagamento de folha e serviço da dívida, o dinheiro pode ser usado para qualquer finalidade, dentro de investimento, como obras ou compra de equipamentos, ou custeio, que diz respeito, por exemplo, à manutenção de serviços já existentes no município. Dos R$ 105,2 milhões destinados às prefeituras, R$ 91,2 milhões são para investimento e R$ 13,9 milhões para custeio.Em Goiás, 13 dos 17 deputados federais e um dos três senadores optaram pelas “emendas pix”, sendo que três dos parlamentares na Câmara dos Deputados atingiram o teto: o senador Luiz do Carmo (PSC) e os deputados Delegado Waldir (UB) e Magda Mofatto (PL). Os dois primeiros são pré-candidatos ao Senado; já Mofatto, à reeleição.Alcides Rodrigues (Patriota), Adriano do Baldy (PP), Célio Silveira (MDB), José Nelto (PP) e Glaustin da Fokus (PSC) também passaram mais de R$ 8 milhões, cada, apesar de não terem chegado ao teto. Todos são pré-candidatos a um novo mandato na Câmara dos Deputados (veja quadro ao lado).Ao POPULAR, Waldir diz que priorizou essa forma de pagamento “porque a Caixa demora dois ou três anos para liberar o recurso”. “Sou defensor do pix (orçamentário). Cada prefeito sabe da sua responsabilidade fiscal. Temos que partir do preceito de que todas as pessoas envolvidas são honestas.”Questionado sobre a falta de fiscalização prévia para gasto dos recursos, ele diz que, “se a Caixa fosse mais competente, não seria necessário usar essa modalidade”. “Além disso, a Caixa cobra operação bancária e financeira sobre os recursos. Será que é melhor eu dar R$ 880 mil para a Caixa ou atender mais quatro municípios? Prefiro atender o povo. O dinheiro vai na conta da prefeitura para resolver o problema da cidade.”A respeito da aplicação dos recursos, ele relata que cada prefeito pediu uma coisa diferente, e que acredita que o dinheiro será usado para isso. “Eu visitei os 246 municípios do estado e cada cidade deu para mim duas prioridades. Ambulância, asfalto, finalização de creche, móveis. Cada prefeito tem uma necessidade diferente.”Magda Mofatto e Luiz do Carmo não atenderam às tentativas de contato da reportagem.Unidades FederativasAlém dos 177 municípios, também vão receber “emendas pix” o estado de Goiás e o Distrito Federal. O governo estadual deve receber R$ 350 mil de uma emenda do deputado e ex-governador Alcides Rodrigues (Patriota); já o governo do DF vai receber R$ 100 mil de uma indicação de Rubens Otoni (PT). A reportagem tentou contato com Otoni para saber o motivo da destinação dos recursos ao DF, mas o deputado não respondeu.Ao todo, os parlamentares goianos somaram R$ 105,7 milhões em repasses via “emendas pix”, cujo pagamento já era para ter sido feito, mas travou em razão da greve dos servidores do Tesouro Nacional.O processamento das emendas é feito pelo órgão, e parlamentares estão preocupados porque, por ser ano eleitoral, o repasse das emendas precisa, obrigatoriamente, ser concluído até 2 de julho, isto é, três meses antes da eleição.Caso isso não ocorra, a transferência só poderá ser feita depois do segundo turno, previsto para ocorrer em 30 de outubro.Leia também:- TCM-GO não informa como foram os gastos de 2020-Imagem (1.2471844)