A quantidade de recursos enviados por parlamentares estaduais e federais aos municípios goianos via “pix orçamentário” equivale a até 395% do valor previsto por um município para investimentos em 2022, o que, para especialistas, demonstra a dependência que cidades têm de deputados e senadores para custear serviços e fazer obras.A análise do POPULAR comparou a soma das emendas estaduais e federais à previsão de orçamento que as cidades de Goiás teriam disponível para realizar algum investimento no ano.Esse valor foi encontrado subtraindo as previsões de receita corrente e despesa corrente feitas pelos municípios em suas Leis Orçamentárias Anuais (LOAs), e organizadas pelo Tribunal de Contas dos Municípios (TCM-GO). A reportagem considerou apenas os municípios que tiveram valor per capta de emendas acima de R$ 300.Em Itauçu, a soma das “emendas pix” estaduais e federais previstas para este ano é de R$ 3,5 milhões, o que ultrapassa e muito a previsão de recursos que a cidade teria para investir em 2022: R$ 891,4 mil. Ao POPULAR, o prefeito Clayton Melo (UB) diz que o município “só tem condições de fazer obras com parcerias com estado e União.”Segundo ele, fora a parte de custeio (R$ 800 mil de emendas federais), o dinheiro do “pix orçamentário” será utilizado para trocar lâmpadas de vapor por LED, além de reformar o hospital municipal.Terezópolis de Goiás deve receber R$ 5,7 milhões de “emendas pix” neste ano, o que quase iguala a previsão de recursos que estariam disponíveis para investimento na cidade (veja quadro). O prefeito Uilton Pereira (PSC) relata “ser insuficiente” o que a prefeitura recebe de Fundo de Participação dos Municípios (FPM) e sua cota-parte de ICMS.Segundo ele, que está no terceiro mandato como prefeito, a quantidade desse tipo de emenda parlamentar foi pequena nos últimos dois anos, devido à pandemia de Covid-19, e que, agora, está “aproveitando.” “Já fui assessor de deputado e sei como funciona a engenharia. Estamos em uma época próspera para atrair recursos ao município. Nos últimos dois anos, os recursos ficaram focados na Covid. Essa parte de investimentos ficou parada e temos onde investir.”Já o prefeito de Ipiranga de Goiás, Alex de Queiroz (PSD), afirma que, “hoje em dia, os municípios não conseguem fazer obras com recursos próprios.” “É inviável. Os recursos próprios são a conta de custear o dia a dia. Para fazer obras, temos que contar com as emendas. Por isso, corremos atrás.”Dependência Ao menos 151 cidades goianas devem receber “emendas pix” tanto dos deputados estaduais quanto de parlamentares do Congresso Nacional neste ano. Um total de R$ 176,1 milhões.Especialista em orçamento público e diretor do Instituto Nacional do Orçamento Público (Inop), Renatho Melo explica que os dados demonstram que “o orçamento público se transformou em uma ferramenta de intervenção dos deputados nos municípios.” “Eles viraram sócios dos prefeitos, que dependem muito desses recursos para fazer uma boa gestão, desde que tenham qualidade técnica para fazer as coisas acontecerem.”Melo, porém, ressalta: “Esse volume de recursos para municípios pequenos é um alerta aos prefeitos, que precisam cumprir os normativos que lhe são impostos. A aplicação da lei muda de acordo com a área que ele escolhe executar os recursos, e, ao executar em vários objetos, é como se ele executasse vários convênios e cria um embaraço técnico que precisa ser organizado.”Leia também: -Goiânia e Formosa podem ter a maior fatia da ‘emenda pix’ -‘Emendas pix’ para Goiás disparam em ano eleitoral -Assembleia Legislativa aprova envio de emendas a municípios por ‘PIX orçamentário’-Imagem (1.2472235)