O empresariado brasileiro não deve se comportar de modo uniforme nas eleições, analisa o cientista político Francisco Tavares. Na sua interpretação, a divisão deve se apresentar da seguinte forma: os setores financistas sediados em endereços como a Avenida Faria Lima, que tendem a realizar operações de day trade, hedge e afins, devem manter o apoio ao atual governo, assim como o agronegócio exportador; já o empresariado industrial, que depende de mercado interno, e os empreendimentos de porte médio e pequeno devem retirar o apoio que, em sua maioria, dedicaram ao presidente Jair Bolsonaro (PL) em 2018.Pesquisas de diferentes institutos realizadas em 2022, cita Tavares, “são uníssonas em indicar uma importante diferença no processo eleitoral deste ano em relação ao de 2018”. Nas atuais eleições, as questões econômicas revelam-se como a principal preocupação do eleitorado e o fator de maior influência na decisão do voto, explica ele, “prevalecendo sobre assuntos como valores morais ou combate à corrupção”, acrescenta.Leia também: “Nesta seara, o atual governo não tem nada a oferecer: a inflação sobe, a renda do trabalho cai, o crédito é escasso, o investimento público está em mínimo patamar histórico, os empregos disponíveis são de baixa qualidade e problemas socioeconômicos que estariam no passado, como a fome, emergem avassaladoramente. Este quadro faz com que a elevadíssima rejeição ao presidente e sua inferioridade nas pesquisas de intenção de voto se mantenham, a menos que ocorram surpresas em searas como disseminação em massa de informações falsas ou desestabilização das instituições organizadoras do processo eleitoral.”Para Tavares, o Banco Central tem se revelado inepto na condução da política monetária e, paralelamente, o Ministério da Economia comete erros graves no plano da política fiscal e creditícia. “O fato é que a política de obsessão por metas fiscais que reduzem o investimento público e as políticas distributivas, tal como presente em Guedes (Paulo) e sua equipe, já se revelou empírica e teoricamente inadequada”, critica, mencionando o recente exemplo da Grécia como “emblemático do malogro desta linha de ação”.Na política monetária, o cientista político afirma que não haverá aumento de juros que consiga conter pressão inflacionária decorrente de contexto em que os preços administrados (como serviços públicos concedidos e petróleo) sobem vertiginosamente e as monoculturas exportadoras realizam resultados em moeda forte que não retornam à cadeia produtiva nacional, enquanto pressionam os preços de alimentos no mercado interno.“Assim, quem quer investir terá o acesso ao crédito dificultado por elevadas taxas de juros que, por sua vez, não conseguem debelar a alta dos preços. Este tipo de situação impacta negativamente sobre a viabilidade eleitoral de qualquer governante.”