As duas empresas com sede em Goiânia envolvidas no escândalo relacionado à compra, pelo governo federal, de caminhões de lixo com preço supostamente superfaturado também já negociaram com o estado de Goiás. Dados do Portal da Transparência mostram que a Fibra Distribuição & Logística e a Globalcenter Mercantil venceram licitações que somam R$ 27,7 milhões entre os anos de 2020 e 2021 para venda ao governo estadual de caminhões de lixo e outras máquinas. No entanto, as empresas não conseguiram entregar os produtos e não houve pagamento.As licitações foram realizadas por meio da Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa). Em um dos processos, a Fibra Distribuição foi selecionada para vender ao estado 50 pás-carregadeiras por R$ 23,7 milhões (R$ 475 mil cada). A data de solicitação é de setembro de 2021.O proprietário da Fibra é Jair Balduino de Souza. A empresa fica localizada no Setor Três Marias I e tem capital social de R$ 1,2 milhão, segundo a Receita Federal. Segundo o empresário, os produtos não serão entregues porque houve aumento no preço no mercado, na comparação entre o momento em que o pregão foi feito e quando a secretaria solicitou os equipamentos. De acordo com Jair, apenas o custo da máquina atualmente é de R$ 500 mil e seria necessário vender cada uma a cerca de R$ 550 mil. Já a Globalcenter foi selecionada em duas licitações. Na primeira, de dezembro de 2020, o objetivo era comprar 36 caminhões de lixo, mas a Globalcenter foi selecionada para fornecer 9, com custo total de R$ 3,5 milhões (R$ 395 mil por cada veículo). Na segunda licitação, de fevereiro de 2021, o objetivo era comprar um caminhão de lixo, pelo qual o estado pagaria R$ 404,9 mil.Dono da Globalcenter, Herbert Rafael Lacerda Neco também afirma que não fez entregas porque houve demora na solicitação realizada pela secretaria e o preço dos caminhões de lixo no mercado aumentou. Herbert afirma que chegou a pedir reequilíbrio dos valores à pasta, o que não foi aceito. Por descumprir o contrato, a empresa foi punida administrativamente. Segundo o proprietário, a Globalcenter não participa de licitações desde os primeiros meses de 2021. Consta no site da Receita Federal que a empresa está localizada no Residencial Center Ville. No endereço está atualmente uma casa abandonada. Herbert afirma que após dificuldades financeiras da empresa, devolveu o imóvel, que é alugado, ao dono. O capital social da Globalcenter é de R$ 2,5 milhões. Herbert argumenta que o valor é considerado baixo diante da quantidade de dinheiro que a empresa movimenta.Jair e Hebert negam ter recebido pagamentos relacionados à venda de caminhões de lixo para a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), estatal ligada ao Ministério do Desenvolvimento Regional. As duas empresas foram citadas em reportagens do jornal Estado de S.Paulo, que mostraram aumento na quantidade de veículos deste tipo comprados a partir de 2020. As publicações também apontaram indícios de superfaturamento de preços. Os dois empresários afirmam que, assim como em Goiás, participaram das licitações, mas não conseguiram entregar os equipamentos.MáquinasQuestionada sobre a necessidade de aquisição de máquinas como caminhões de lixo e pás-carregadeiras por parte da Seapa, a pasta informou em nota que a compra destes produtos faz parte do Programa Mecaniza Campo, que tem “como objetivo atender as principais demandas apresentadas pelos municípios goianos em relação a maquinário e infraestrutura rural”. Segundo a pasta, os recursos são repassados por órgãos como Sudeco e Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), a partir de emendas da bancada federal goiana.A secretaria informou também que recebe os recursos e realiza as licitações, por meio de ampla concorrência pública. “As máquinas são entregues às prefeituras mediante a assinatura de termo de cessão de uso. A utilização é fiscalizada pela secretaria. Todo o processo é feito com transparência e estrita observância do trâmite previsto na legislação, incluindo abertura a qualquer empresa que se enquadre nos requisitos legais para concorrência pública”, argumentou. Segundo a Seapa, desde 2019, a pasta já fez a cessão de uso de 31 caminhões de lixo a municípios goianos, todos adquiridos com verba de emendas da bancada federal. A entrega de 30 veículos deste tipo e mais oito retroescavadeiras foi anunciada pelo governo estadual em fevereiro deste ano. Na época, foi divulgado que os equipamentos custaram, no total, R$ 12,54 milhões.EmpresasNa nota, a Seapa afirmou que a Globalcenter ganhou a licitação, mas não honrou o contrato, o que deu origem a processo administrativo em desfavor do fornecedor. Segundo a pasta, o processo ainda está em andamento, “com respeito ao contraditório e à ampla defesa”. O resultado deve sair nas próximas semanas. Quanto à Fibra, a secretaria afirmou que a empresa participou e venceu ata de registro de preços para fornecimento do item pá-carregadeira. O órgão disse que, por falta de novos convênios com municípios, a ata não chegou a ser utilizada. (Colaborou Deivid Souza)-Imagem (Image_1.2461458)