O escritório de advocacia contratado pela Companhia de Investimento e Parcerias do Estado de Goiás (Goiás Parcerias) em processo que está sob investigação e que levou à ordem de destituição da diretoria na semana passada não funciona no endereço informado no contrato da estatal e registrado na Receita Federal.Conforme revelou O POPULAR na sexta-feira, 20, a Goiás Parcerias contratou em maio um escritório de advocacia de Taquaral de Goiás (no Centro goiano), no valor de R$ 402 mil, sem licitação e com “adiantamento” de R$ 102 mil. O endereço registrado pelo escritório Silva Sociedade Individual de Advocacia é Rua Dr. Paulo Letti, 775, Setor Central.Neste mesmo local, funcionam uma farmácia e um pequeno escritório de advocacia que pertencem ao advogado David Dutra. Ele afirma que não conhece o advogado Paulielio Ataídes da Silva, representante da Silva Advocacia, e que não faz ideia do motivo para seu endereço estar no registro do outro escritório. Nos últimos dois dias, apenas a farmácia estava funcionando e o escritório estava fechado.David Dutra é amigo íntimo do secretário de Indústria, Comércio e Serviços (SIC), Wilder Morais, que é natural de Taquaral. A biografia de Wilder no site oficial do ex-senador mostra a proximidade: “Eu não tinha dinheiro para custear os estudos e minha família não tinha como me ajudar. Havia, portanto, a alternativa de eu recorrer ao crédito educativo. Mas quem seria meu avalista? David Dutra, um homem que me viu nascer e crescer nas ruas da pequena Taquaral ajudando meus pais no sustento da família, sensibilizou-se com meu pedido e resolveu ser meu avalista. Com isso uma grande pedra foi tirada do meu caminho e pude, graças a Deus, prosseguir em minha jornada de estudante universitário”.A Goiás Parcerias é jurisdicionada à SIC.A reportagem conseguiu falar com David Dutra na farmácia. Ele afirmou que tem o escritório há 45 anos e que nunca teve sócio nem parceiros nem ouviu falar em Pauliélio. Questionado se recebe correspondências em nome do escritório Silva Advocacia, ele disse que não.David afirmou ainda que Wilder foi “criado em sua casa” e que as famílias são muito amigas, mas que não sabe informar se houve alguma relação do secretário com o escritório contratado pela Goiás Parcerias.O POPULAR tentou contato com Wilder nos últimos dois dias pelo celular e por meio da assessoria de imprensa da SIC, que foi informada do assunto da reportagem, mas afirmou que o secretário estava em compromissos e não poderia dar uma resposta.A reportagem também tenta falar com Paulielio desde a semana passada, sem sucesso. Houve a tentativa por dois celulares - um registrado na Receita e um fornecido nos documentos do contrato com a Goiás Parcerias: o primeiro é inexistente e o outro não atendeu nos últimos dois dias. Também houve contato pelas redes sociais, sem resposta.O POPULAR também voltou a procurar o ex-presidente da Goiás Parcerias, Eduardo Macedo, mas ele não atendeu o celular nem deu retorno às mensagens. No sábado, 21, dia seguinte à decisão do governador Ronaldo Caiado (DEM) de destituir a diretoria da Goiás Parcerias, Eduardo Macedo enviou uma mensagem à reportagem reafirmando que não há nenhuma ilegalidade no contrato. “Quem vai dizer isso é o TCE (Tribunal de Contas do Estado)”, afirmou, acusando a reportagem de “prejudicá-lo sem que devesse nada e não tivesse chance a defesa”. O POPULAR publicou a matéria na sexta-feira com todos os argumentos apresentados pelo então presidente.Paulielio foi advogado do então diretor financeiro da Goiás Parcerias, Robson Rodrigues de Lima, responsável pela liberação dos pagamentos, que também caiu junto com Eduardo Macedo.ProcuradoriaA Procuradoria Geral do Estado (PGE) informou ao POPULAR que tem condições legais para auxiliar as estatais em consultoria jurídica ou representação judicial e que já havia prestado serviços para a Goiás Parcerias. A informação contesta um dos argumentos do ex-presidente Eduardo Macedo, que havia dito que não poderia contar com auxílio da PGE por ser da administração indireta e que a contratação do escritório de advocacia ocorria principalmente pela necessidade de elaboração de regimento interno e manual de contratação em sintonia com a legislação, além de atualização do estatuto.Segundo a PGE, a legislação permite que a pasta atue no “assessoramento jurídico aos entes da administração indireta do Estado, a critério do procurador-geral e em caso de necessidade”. “Neste ano, a PGE já prestou auxílio em questões pontuais a várias estatais, tais como, Metrobus, Agehab, Iquego, Goiás Fomento, Codego e Saneago. A PGE já prestou assessoramento jurídico para a Goiás Parcerias em 2008, em ação judicial trabalhista, bem como consultoria jurídica em parcerias público-privadas (PPP) nos anos de 2013, 2015 e 2018”, completou a PGE.A estatal também já tinha assessoria jurídica, de responsabilidade de Thiago Montelo de Sousa, que tem cargo comissionado na empresa. Segundo Eduardo Macedo, ele prestava serviços por quatro horas diárias e não conseguia atender a demanda da estatal sozinho.