Caso efetivamente vá para a disputa pelo governo de São Paulo, o ex-governador Márcio França (PSB), alvo de operação policial nesta quarta (5) deverá repetir a estratégia de vincular o postulante ao governo e atual vice-governador Rodrigo Garcia (PSDB) ao governador tucano João Doria, assim como fez com Bruno Covas (PSDB) no pleito de 2020 em São Paulo. Com isso, ele miraria o apadrinhado de Doria para reforçar sua posição de antípoda do atual governador.Antonio Neto (PDT), que foi vice de França na eleição municipal, saiu em sua defesa e endossou a narrativa de ação direcionada. “No Brasil de BolsoDoria, o uso político das instituições e da polícia virou instrumento de perseguição e intimidação visando à destruição de reputações de pessoas honradas.”Também próximo do ex-governador, o presidenciável Ciro Gomes (PDT), que no mês passado classificou como política uma operação da Polícia Federal contra ele no Ceará, afirmou: “Vivemos tempos estranhos neste país, quando o jogo dos interesses políticos atropela normas e códigos”.Uma das análises que correram o meio político é a de que a eventual instrumentalização do governo contra França teria por objetivo atingir indiretamente Geraldo Alckmin (sem partido), que se tornou desafeto de Doria. Faltam, entretanto, evidências que sustentem essa teoria. Indagado sobre as afirmações do ex-governador de que a operação teria sido política e esconderia interesses eleitorais, um dos delegados responsáveis pelo caso, Luiz Ricardo de Lara Dias Júnior, rebateu a tese em entrevista coletiva. Ele disse que a ação é resultado de um trabalho iniciado há dois anos.“A Polícia Civil ofereceu uma representação ao Poder Judiciário, o Ministério Público opinou favoravelmente à expedição desses mandados, e o juiz de direito“, disse.O delegado afirmou ainda que a operação envolveu meses de apurações. “Não foi fruto de um momento, é fruto de um trabalho da Polícia Civil, que foi amplamente idealizado, realizado, anteriormente.”Na nota em que se defendeu das suspeitas, França reafirmou a intenção de disputar o Bandeirantes em outubro. “Só deixarei de ser governador de SP se o povo paulista não quiser”, afirmou, acrescentando não ter “medo de ameaças ou de chantagem”.Nos cenários testados pelo Datafolha em dezembro, além do principal, que mostra o pré-candidato do PSB em segundo lugar, atrás somente de Haddad, há um outro em que França ocupa a terceira colocação (com 13%), precedido por Alckmin (28%) e Haddad (19%). A presença de Alckmin no embate, porém, é cada vez menos provável.