O tenente-coronel da PM Edson Luis Sousa Melo Rocha afirmou em um programa de debates da TV estatal TBC que a Polícia Militar de Goiás deveria matar mais e sugere que estas mortes teriam relação com a redução dos índices de criminalidade. Edson foi comandante da segurança do governador Ronaldo Caiado (Republicanos) e deixou o cargo no dia 30 de março para disputar as eleições para deputado federal pelo Podemos.“Eu sou bem tranquilo em dizer isso. Acredito que a polícia deve matar mais. Deve matar mais. No sentido de bandido. Por quê? Isso reflete diretamente nos dados que aqui eu tenho”, afirmou ao rebater as declarações do agente da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Fabrício Rosa, pré-candidato a deputado estadual pelo PT.O programa TBC Debate teve cerca de meia hora de duração e foi disponibilizado no canal do Youtube da emissora na quarta-feira (22). O tema era letalidade nas ações policiais. A fala do tenente-coronel foi por volta de 11 minutos do programa, e ele chegou a colocar este trecho específico em sua conta no Instagram no mesmo dia. O post do policial teve 178 comentários, amplamente favoráveis, até a tarde deste sábado (25).Em resposta, Fabrício citou casos que tiveram repercussão no estado em que policiais se tornaram réus acusados de excessos que culminaram na morte de civis, como o caso em que quatro pessoas foram mortas numa ação policial no começo do ano em uma chácara em Cavalcante. Ele cobrou que houvesse mais rigor nas investigações. “Não estou querendo dizer que todo policial comete isso (homicídio), mas a gente não pode cair nesta atrocidade, nesta leviandade de dizer que todo policial age correto. Isso não é verdade. Nós temos que as corregedorias e o controle externo do Ministério Públicos, nós temos de colocar câmeras (no uniforme)”, afirmou Fabrício.Leia também:- Ações policiais em Goiás resultaram na morte de 579 pessoas em 2021- Início das buscas por Lázaro Barbosa completa um ano- Clube de tiros realiza feira de armas em GoiâniaO tenente-coronel argumenta que as mortes não são intencionais por parte dos policiais e que são provocadas pelos próprios suspeitos que reagem a abordagens atirando, o que faz com que os agentes de segurança reajam em legítima defesa. “A escolha é sempre do bandido.” Ao pedir que a sociedade fique do lado dos policiais nesta hora, Edson os compara a Jesus e diz que não se pode ficar do lado de Barrabás, uma referência bíblica. “Que não escolhamos Barrabás em vez de Jesus. Deveríamos estar preocupados com o policial.”Ao falar sobre o tema no programa, Edson Melo afirmou que tem “propriedade sobre o assunto” porque já participou de diversas ocorrências em que pessoas vieram à óbito. Antes de integrar a segurança de Caiado, Edson Melo fez parte de grupos especializados da PM, como a Rotam e o Batalhão de Choque. “Letalidade policial é um termo de esquerda. É usado de forma política para atingir a polícia.”Em 2021, 579 civis foram mortos em ações da Polícia Militar em Goiás, um número 9% menor do que o ano anterior, mas mesmo assim o segundo maior da série histórica, iniciada em 2008. Se somar com o número de homicídios registrados no ano passado, o de mortes em ação policial representa 32% deste tipo de ocorrência. Em 2020 foram 623 mortes em abordagens policiais no Estado. Boa parte do programa, após esta fala sobre “matar mais” do tenente-coronel, acabou se tornando uma troca de acusações entre os convidados, na qual cada um dizia que o outro não merecia estar na corporação que integra.Em nota, o governo estadual afirmou que o tenente-coronel não faz mais a segurança pessoal do governador e emitiu uma opinião pessoal, “que não representa as diretrizes e a política de segurança do governo de Goiás”. O governo também ressalta que o policial nunca teve participação na gestão da segurança pública de Goiás, “que é de responsabilidade exclusiva da Secretaria de Segurança Pública”.“Em Goiás, a polícia age com firmeza, mas dentro da legalidade. A criminalidade caiu consideravelmente nos últimos anos por consequência de um trabalho integrado das forças de segurança, pelo uso da inteligência, pelo investimento na valorização e qualificação dos profissionais que atuam na rua e pela intolerância com a corrupção”, afirmou o governo na nota. O POPULAR entrou em contato com o tenente-coronel e ele informou que a assessoria dele responderia a demanda. Porém até a conclusão desta reportagem não houve retorno.Também foram contatadas as assessorias da Secretaria de Segurança Pública do Estado de Goiás (SSP) e da PM, mas sem sucesso.