Em reação a cortes de recursos e ataques à ciência e ao meio acadêmico, ex-reitores de universidades e institutos federais do País iniciaram mobilização para lançar candidaturas e garantir apoios a representantes da educação no Congresso Nacional e legislativos estaduais. Já são 9 nomes dispostos a encarar as eleições deste ano, mas a intenção do grupo é chegar a pelo menos 15.Os educadores realizaram na quinta-feira (27) o 1º Painel “Eleições 2022 e a defesa da Educação, Ciência e Tecnologia”, com debate sobre bandeiras para a campanha eleitoral deste ano. O painel foi mediado pelo ex-reitor da Universidade Federal de Goiás (UFG) Edward Madureira, uma das lideranças do movimento nacional e pré-candidato a deputado federal por Goiás. O plano é fazer outros paineis e debates nas próximas semanas.“Tem bancada da bola, do boi, da Bíblia, da bala. E não tem da educação. O pessoal da área está compreendendo que não adianta mais só gritar. Se não houver representantes, as coisas não vão melhorar”, diz Edward.Os pré-candidatos integram partidos da esquerda - PT, PSB, PDT e PCdoB - ou ainda não fecharam filiação.Edward afirma que o “subfinanciamento” no governo do presidente Jair Bolsonaro (PL) foi o que mais pesou para a mobilização. No Orçamento da União para este ano, o presidente cortou quase R$ 740 milhões do Ministério da Educação (MEC) e houve tesourada também nos anos anteriores.Além dos pré-candidatos, faz parte da estratégia aglutinar vozes de peso da ciência e da educação, como os ex-ministros da Educação Renato Janine - atual presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) - e Fernando Haddad, o ex-ministro de Ciência e Tecnologia Sérgio Rezende, entre outros.Recursos para as universidades e para a pesquisa, mudanças na lista tríplice para reitor e assistência estudantil estão entre as bandeiras dos pré-candidatos que representam a educação. A UFG viu este mês o nome para a reitoria eleito pela comunidade acadêmica ser rejeitado pelo presidente Bolsonaro. Em vez da primeira colocada da lista, Sandramara Chaves, ele nomeou como reitora o terceiro nome, de Angelita Nunes. Ambas são do mesmo grupo de Edward. “Temos de trabalhar para acabar com o sistema atual e não sofrer este abuso que fizeram com a UFG”, defende o ex-reitor.O ex-reitor já disputou cadeira de deputado federal em 2014 pelo PT e se desfiliou do partido em 2017, quando foi nomeado para novo mandato de reitor. Agora, voltou a conversar com o PT, mas também teve convites do PSB e do PCdoB. A definição deve ocorrer em fevereiro.Ex-presidente da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), ele diz que começou a observar o interesse de ex-reitores em candidaturas e decidiu entrar em contato com “grandes nomes nacionais da educação”, recebendo respostas entusiasmadas sobre a mobilização. “A gente tem uma respeitabilidade, uma visibilidade. Se não for por este caminho, vamos ficar nas mãos desses negacionistas até quando?”, diz.Além das lideranças nacionais e dos pré-candidatos, os painéis têm convites para sindicatos ligados às universidades e aos institutos técnicos. “Queremos que as pessoas da educação e da ciência se envolvam e comecem a considerar a possibilidade de ter um representante genuíno. Porque todo mundo fala de educação, é pauta para todos, mas quando se olha para o Congresso Nacional hoje, temos 2 ou 3 nomes de fato engajados e representantes da área. Queremos mobilizar candidatos, mas muito mais mobilizar eleitores. Para que entrem em campanha.” Edward diz que candidaturas anteriores de ex-reitores não tinham organização e mobilização nacional e, ainda assim, houve casos de sucesso, como da ex-deputada federal e atual prefeita de Juiz de Fora (MG), Margarida Salomão, e do ex-deputado e ex-prefeito de São Carlos (SP) por dois mandatos Newton Lima Neto, ambos do PT.O ex-reitor do Instituto Federal de Goiás (IFG) Jerônimo Rodrigues da Silva está na lista dos pré-candidatos, com plano de disputar eleição para deputado estadual.