O conflito de quase dois anos dos governadores de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), e do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), ganhou um novo capítulo nesta terça-feira (23), com a afirmação de Caiado de que tem “abundância” de dados contra o colega, e que deve provar na Justiça as acusações que fez em relação a ele.A fala de Caiado foi feita à imprensa ontem, após receber a primeira dose da vacina contra a Covid-19, quando questionado sobre a ação movida por Ibaneis contra ele no Superior Tribunal de Justiça (STJ), em que requer esclarecimentos sobre acusações feitas pelo goiano em entrevista ao Bom Dia DF, da TV Globo, em 26 de fevereiro, quando disse não aceitar “um cidadão envolvido em corrupção na área da saúde vir dizer o que tenho que fazer no Estado de Goiás.”À época, Caiado rebateu declaração de Ibaneis, feita dias antes, de que fecharia a fronteira com Goiás devido ao aumento de casos de Covid-19 no Entorno de Brasília. “O Governo de Goiás está negligenciando seus pacientes. Sem leitos e hospitais, transfere a obrigação de cuidar de sua população a nós, do DF”, disse Ibaneis ao portal Metrópoles, em 23 de fevereiro.No início deste mês, o governador do DF voltou a atacar Caiado, desta vez em entrevista ao UOL, quando disse que o goiano “tem seus problemas psiquiátricos.” A declaração gerou nova reação de Caiado que, em nota, afirmou que Ibaneis “só pensa em negociatas.” “Por isso teve dois sócios travestidos de secretários na mira da polícia: o secretário da Saúde foi preso e o de Transportes comanda uma máfia no Entorno.”Ontem, Caiado repetiu novamente as acusações: “Tudo o que falei, falei com prova. Temos uma abundância de todos os dados que comprovam tudo o que eu disse. O secretário da Saúde envolvido com corrupção. Foi preso em Brasília e ficou muito tempo preso. Quando ameaçou a delação, foi solto. Segundo: a máfia do transporte junto com a ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) para tentar ter o monopólio do transporte no Entorno de Brasília. Tudo isso eu responderei no momento em que for notificado”.Como mostrou O POPULAR ontem, Caiado se refere a Francisco Araújo, ex-secretário de Saúde do DF, que foi preso em setembro de 2020, por suspeita de fraudes na compra de testes para a Covid-19, assim como à transferência da gestão, regulação e fiscalização do transporte público de 33 municípios na região do Entorno para o Governo do Distrito Federal (GDF) — o secretário de Transportes do DF, Valter Casimiro, também foi investigado pela Polícia Federal em esquema no Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit).ANTIGOO conflito entre Caiado e Ibaneis começou ainda em 2019. Naquele ano, o governador do DF, aproveitando insatisfação de empresários goianos por conta de cortes em incentivos fiscais, fez série de reuniões com empresários na tentativa de atraí-los, o que causou mal-estar.Em seguida, veio a público um desentendimento entre os dois por conta de uma operação de testes do veículo sobre trilhos ligando Brasília a Valparaíso, da qual o governador do DF participou sem a presença de Caiado. O episódio gerou ligação do segundo para o primeiro e a conversa terminou com Ibaneis mandando o goiano “à puta que pariu.”Ainda em 2019, também houve atrito por conta do Hospital de Águas Lindas, que Ibaneis queria visitar, apesar de a obra ser de responsabilidade do governo de Goiás, mas acabou cancelando devido à atuação de aliados políticos dos dois lados.No ano passado, já após o início da pandemia de Covid-19, Caiado reclamou das flexibilizações de funcionamento de atividades comerciais feitas pelo GDF, em meio às medidas de restrição adotadas por governadores para conter o avanço da doença. Porém, mais recentemente, diante do colapso das redes de atendimento de saúde tanto em Goiás quanto no DF, a briga voltou a esquentar. Caiado chegou a dizer, em entrevista ao POPULAR, que as novas variantes da Covid-19 entraram em Goiás por Brasília.Poderes avaliam combate à CovidO governador Ronaldo Caiado (DEM) participa nesta quarta-feira (24) da reunião, em Brasília, para tratar do combate à Covid-19 no Brasil. O encontro será entre o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e os presidentes da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), além do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux, mas Bolsonaro convidou governadores considerados seus aliados — além de Caiado, Ratinho Júnior (PSD), do Paraná; Wilson Lima, do Amazonas, e Cláudio Castro, do Rio de Janeiro, ambos do PSC; Romeu Zema (Novo), de Minas Gerais; Renan Filho (MDB), de Alagoas; e Marcos Rocha (PSL), de Rondônia.À imprensa ontem, Caiado afirmou que na pauta devem estar os esforços para que Estados Unidos e China “voltem os olhos e liberem cada vez mais vacinas (para o Brasil).” No caso dos Estados Unidos, segundo ele, “a parceria deve ser estendida não só com Canadá e México, mas também com outros países”, em referência ao empréstimo de doses da vacina AstraZeneca feito a esses países. Já sobre a China, Caiado relata ser necessária a liberação de insumos para produção de vacinas no Brasil. A reunião, porém, também deve tratar da necessidade de coordenação nacional relacionada à Covid-19. Cobranças nesse sentido têm sido feitas a Bolsonaro tanto pelo Congresso quanto pelos governadores, que já divulgaram duas notas públicas. Caiado assinou as duas. (MNC)