É enganosa a publicação viral no Facebook que usa uma fala de Richard J. Roberts, vencedor do Prêmio Nobel de Medicina, para promover o tratamento precoce contra a covid-19.O autor do post usa a seguinte frase creditada a Roberts, acompanhada de foto do cientista: “Medicamentos que curam não são rentáveis, portanto, não são produzidos. A indústria farmacêutica não quer curar ninguém, e por um motivo muito simples e direto: a cura é menos rentável que a doença”. Na legenda, o autor do post enganoso escreve: “Por isso não queriam autorizar o tratamento precoce”, associando a reputação de um conceituado cientista a um tratamento sem eficácia comprovada.O comentário foi feito por Roberts em 2007, mas nada tinha a ver com o novo coronavírus, que estava longe de ser descoberto. Ao Comprova, o cientista afirmou ter dado a declaração sobre “antibióticos e em relação à motivação do lucro que impulsiona a indústria farmacêutica” e descartou relação com a pandemia.A reportagem contatou o perfil do grupo Bolsonaro 2022, um dos primeiros a publicar o conteúdo, mas não recebeu resposta. O Comprova considerou enganoso o conteúdo porque a frase foi tirada do contexto original e usada para induzir a uma interpretação diferente da intenção de seu autor.COMO VERIFICAMOS?A reportagem buscou informações sobre Richard J. Roberts e sobre seu trabalho com biologia molecular no processamento de genes – que lhe rendeu o Nobel. Por meio de pesquisa no Google, verificou-se que o comentário dele sobre a indústria farmacêutica foi feito em entrevista publicada na página 64 da edição de 27 de julho de 2007 do jornal La Vanguardia, da Espanha.Em seguida, o Comprova procurou também a Associação Brasileira de Ciências Farmacêuticas e o Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos no Estado de São Paulo para comentarem a alegação de que não haveria interesse em produzir medicamentos contra a covid-19, o que foi refutado por ambas as instituições.O próximo passo foi contatar o cientista pelo e-mail informado na página da Universidade Northeastern, onde ele aparece como docente. Para saber mais sobre a pesquisa de novos medicamentos, a reportagem entrevistou, por WhatsApp, Lucindo Quintanas, diretor da ABCF (Associação Brasileira de Ciências Farmacêuticas) e pró-reitor de pós-graduação e pesquisa da Universidade Federal de Sergipe, além de representantes do Sindusfarma (Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos).A equipe também procurou o autor de uma das primeiras publicações feitas utilizando a montagem no Facebook e o usuário que compartilhou o post relacionando-o ao “tratamento precoce”, mas eles não responderam até a publicação deste texto.O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 27 de outubro de 2021.VERIFICAÇÃOQuando questionado se a frase usada no post poderia ser aplicada em relação à pesquisa e ao desenvolvimento de remédios contra a covid-19, Richard afirmou que a situação é diferente também por aspectos econômicos. “É muito diferente. Em parte, devido ao número de casos em todo o mundo e à probabilidade de se tornar endêmica como a gripe. Em um caso como este, as consequências econômicas da doença são muito diferentes das de uma infecção bacteriana que ocorre com pouca frequência.” Além do posicionamento enviado ao Comprova, Richard já havia se manifestado a favor da Ciência em out...Leia mais no texto original: (https://www.poder360.com.br/coronavirus/frase-de-nobel-de-medicina-e-tirada-de-contexto-para-defender-tratamento-precoce/)© 2021 Todos os direitos são reservados ao Poder360, conforme a Lei nº 9.610/98. A publicação, redistribuição, transmissão e reescrita sem autorização prévia são proibidas.