Em contato com os números da previdência goiana desde o primeiro semestre, o economista e especialista em Previdência Paulo Tafner disse, em entrevista exclusiva ao POPULAR, que Goiás precisa apresentar uma proposta de reforma previdenciária em breve para não sofrer com a insolvência das contas públicas. Ele esteve em Goiânia na semana passada tanto para a finalização de seu estudo quanto para apresentar os impactos da reforma da Previdência federal no Estado.Por que fazer uma reforma da previdência?As pessoas estão sobrevivendo mais, o que foi crucial para as reformas não apenas no Brasil, mas também na Itália, Suécia, França, Estados Unidos, em todos os lugares. Esse é o primeiro vetor, mas, no caso do Brasil, outro vetor foi relevante porque tem um sistema complexo de Previdência, marcado por muitos privilégios. A grande maioria dos trabalhadores ganha, na média, R$ 1,2 mil de aposentadoria; e há poucos, servidores públicos, que ganham R$ 20 mil, R$ 30 mil e até valores superiores.Privilégios esses que motivam parte do déficit.A demografia, juntamente com a estrutura muito marcante de privilégios, fez com que a despesa previdenciária crescesse muito. No âmbito da União, mais de 50% de todo gasto é da Previdência e cresce, anualmente, R$ 50 bilhões. É o equivalente à antiga CPMF. Significa que, em um ano, seria necessária 100% de uma CPMF para manter o gasto constante; no segundo ano, duas. É insustentável. No âmbito dos governos estaduais e municipais, já existem lugares em que o gasto com aposentados e pensionistas é maior que o de ativos. O Estado de Goiás, neste ano, no mais tardar 2020, gastará mais com aposentados e pensionistas do que com ativos. Goiás tem quase R$ 3 bilhões de déficit previdenciário por ano. Como se pode gastar isso com previdência? O cidadão paga imposto e tem muito pouco de volta e, quando se chega ao limite, há um problema de ruptura institucional. Por que pagar imposto, se não tem nada de volta?A reforma aprovada pela Câmara dos Deputados resolve o problema?Não. Esse é um problema insolúvel, mas ela tem a virtude de equacionar certos aspectos disfuncionais. Primeiro, ajusta o que não é adequado, que é a aposentadoria por tempo de contribuição. A maioria dos países no mundo não tem isso. É um erro. Por conta disso, os segmentos de classe média se aposentam bem mais cedo e com valor de benefício bem mais alto. Então, a reforma estabelece idade mínima para todos, o que é um avanço para reduzir a desigualdade. A reforma também estabelece que servidores públicos poderão receber, no máximo, o teto (do INSS) de R$ 5.839. Óbvio que pode ter a pessoa que ganhou bem ao longo da vida, seja do setor público ou privado, que faz a sua poupança privada, para quando ficar mais velho receber mais. Mas da sociedade essa pessoa vai receber, no máximo, R$ 5.839.Há privilégios também em relação às pensões.A reforma retira a acumulação de benefícios. Na legislação atual, uma pessoa pode acumular cinco, seis benefícios, por exemplo, duas pensões, três aposentadorias e continuar trabalhando. Só que quem acumula, não é pobre, mas os segmentos médios. Um juiz, por exemplo, que dá aula em universidade e tem escritório de advocacia, recebe, no mínimo, três aposentadorias. Se a mulher dele for médica, professora de universidade e tiver consultório, ela também terá três aposentadorias. Quando eles morrem, os benefícios viram pensão e os filhos recebem seis. Um peão tem condições de fazer isso? Não. Vai ter no máximo um trabalho. Quando tem.Como os Estados serão impactados por essas modificações?Estados e municípios não ficaram na PEC, mas os princípios podem ser adotados pelos governos, adotados com os procedimentos legais que têm que ser feitos. Os governos vão estudar. Com isso, não apenas o servidor público da União vai ser mais parecido com o funcionário da iniciativa privada, mas o servidor público também. Isso é bom. Além do mais, ela tem um efeito positivo: ao fazer esse ajuste de justiça social, também tem impacto direto nas contas fiscais do governo. Obviamente, a Secretaria de Economia, no caso de Goiás, vai cuidar de fazer esses ajustes e, obviamente, trabalhar para o equilíbrio fiscal. E a reforma da previdência no Estado, é fundamental. Não adianta fazer esforço para segurar aumento de salário. O que tem que fazer é tomar medidas.O sr. tem acompanhado os números previdenciários de Goiás. O que encontrou?Um gasto crescente com aposentadorias e pensões, um gasto crescente com folha de pagamento, comprometendo 83% da receita líquida, e uma insustentabilidade fiscal. O que significa isso? Significa dizer que o Estado está caminhando a passos largos para, em breve, não ter capacidade de pagamento de seus compromissos, seja de pessoal, de fornecedor, prestadores de serviço e zero para investimento. Então, Goiás caminha a passos firmes para total insolvência. Tem sido feito um esforço no sentido de conter a despesa, para, minimamente, resistir e apresentar alternativas, sendo uma delas a proposta de reforma da previdência.