A quantidade de famílias goianas inscritas no Cadastro Único para Programas Sociais (CadÚnico) chegou a 1 milhão em fevereiro de 2022. Este é o maior número já registrado desde 2006, primeiro ano da série histórica disponível no site do serviço de Consulta, Seleção e Extração de Informações (Cecad) do CadÚnico, administrado pelo governo federal. As informações de fevereiro são as mais recentes publicadas no portal.Os dados mostram que em 2020, primeiro ano da pandemia, Goiás tinha 815 mil famílias cadastradas. Em 2021, o número subiu para 843 mil. Então, houve o salto para 1 milhão em 2022.O CadÚnico é a porta de entrada para que as famílias tenham acesso a programas sociais como o Auxílio Brasil, do governo federal, o Mães de Goiás, do estado, e o Renda Família + Mulher, da Prefeitura de Goiânia (no último, as inscrições já foram encerradas). O aumento na quantidade de famílias que buscam o registro indica maior procura por benefícios sociais como estes.Para conseguir fazer o cadastro, a família precisa ter renda de até meio salário mínimo por pessoa ou até três salários mínimos mensais no total. De acordo com os dados do Cecad, em fevereiro, 33% das famílias inscritas em Goiás estavam em extrema pobreza, condição de renda per capita de até R$ 100.Outros 15% estavam na faixa de pobreza (renda per capita de até R$ 200), 26% eram classificadas como de baixa renda e 26% tinham renda acima de meio salário mínimo. No Brasil, eram 33 milhões de pessoas cadastradas no CadÚnico em fevereiro. Destas, 52% (17 milhões) em situação de extrema pobreza.O cadastramento no sistema, porém, não garante pagamento de benefícios. Luíza Bruna Alves do Monte, 34 anos, moradora de Hidrolândia, município da Região Metropolitana de Goiânia, tem o cadastro feito, já recebeu Bolsa Família, mas não conseguiu acesso ao Auxílio Brasil.Luíza conta que está desempregada (teve uma gravidez de risco há pouco tempo, perdeu o bebê e ainda não conseguiu voltar a trabalhar) e o marido não tem emprego com carteira assinada. O alimento chega na mesa da família por causa de bicos que o esposo e os dois filhos, que estão na escola, conseguem. A renda, quando vem, costuma ser de R$ 60 por dia.O Auxílio Brasil foi criado pela gestão de Jair Bolsonaro (PL) no fim do ano passado para substituir o Bolsa Família, lançado durante mandato de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O programa é administrado pelo Ministério da Cidadania e paga cerca de R$ 400 mensais para cada família. No final de 2021, o Bolsa Família pagava cerca de R$ 100.Para abrir espaço no orçamento no ano eleitoral e viabilizar o Auxílio Brasil, Bolsonaro articulou a aprovação de Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que reduziu a previsão do pagamento de precatórios.DemandaA situação de pessoas que não conseguem ter acesso ao benefício do governo federal foi relata em estudo da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), publicado no dia 2 de maio. O levantamento mostrou que a demanda reprimida do Bolsa Família e Auxílio Brasil era, em fevereiro, de 1 milhão de famílias no Brasil. Em Goiás, eram de 29 mil famílias, o que representa 59 mil pessoas.A migração do Bolsa Família para o Auxílio Brasil ocorreu no ano passado, mas o estudo considerou os nomes dos dois programas na metodologia porque as bases de dados e sistemas operacionais não foram atualizadas considerando as novas nomenclaturas nem as novas variáveis de cobertura do novo benefício.Na conclusão do estudo, a CNM destacou que “as políticas sociais continuam submetidas às determinações da política econômica”.Dados publicados pelo Ministério da Cidadania mostram que 416 mil famílias foram atendidas pelo Auxílio Brasil em Goiás em maio. Os pagamentos foram feitos nos 246 municípios. A reportagem perguntou à pasta qual o tamanho da fila para pagamento do benefício em Goiás atualmente e se foi possível diminuir a demanda de 29 mil famílias registrada pela CNM, mas não houve resposta.DesafiosDiretora operacional e logística da Central Única das Favelas (Cufa) em Goiás, Raissa Jéssica Pereira da Silva afirma que a alta na quantidade de famílias no CadÚnico é consequência do aumento da necessidade por auxílios sociais. Raissa afirma que a entidade tem parceria com a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Humano e Social de Goiânia para cadastramento de famílias em vulnerabilidade nas comunidades. A Cufa também realiza palestras para informar a população sobre auxílios e direitos.A diretora explica que esse grupo enfrenta uma série de dificuldades para ter acesso a benefícios. Entre eles estão a distância entre suas casas e os órgãos públicos que fazem o cadastro, dificuldade de acesso à internet, falta de informação acessível e não enquadramento em regras, apesar de viverem em situação de dificuldade financeira. “Apesar de o salário mínimo ser de R$ 1.212, esse valor não dá para comprar nem o alimento do mês. E para cadastrar no CadÚnico e ter acesso a alguns benefícios, é um empecilho”, afirma.10 mil aguardam liberação de verba do PaçoEm Goiânia, 10.614 beneficiárias do programa Renda Família + Mulher já tiveram cadastro aprovado e aguardam a liberação de verba para começar a receber as parcelas do benefício. De acordo com a Prefeitura de Goiânia, um aporte de R$ 28 milhões do Tesouro municipal deve ser feito. A expectativa é que o pagamento para este grupo comece na primeira quinzena de junho.O Renda Família foi uma promessa de campanha de Maguito Vilela, cujo foco original era beneficiar com R$ 300 mensais durante um semestre 24 mil famílias com dificuldade financeira provocada pela pandemia.A Prefeitura, no entanto, encontrou dificuldade para alcançar pessoas que necessitavam do benefício, mesmo após prorrogações do prazo de inscrição, que foi até setembro de 2021. Ao todo, segundo o município, 14.050 famílias foram contempladas no programa original.Já o auxílio voltado para as mulheres foi criado a partir do valor remanescente do Renda Família. De acordo com a Prefeitura, 5.737 pessoas já receberam todas as parcelas, 2.628 tiveram acesso ao quarto repasse em 10 de maio e 4.242 estão na segunda parcela, além das 10.614 que aguardam liberação de mais verba. Com isso, o + Mulher alcançou 12,6 mil pessoas e pode chegar a mais de 24 mil.Secretária municipal de Políticas para Mulheres, Tatiana Lemos avalia que a procura pelo novo programa foi maior porque a população vulnerável teve dificuldade para cumprir as regras colocadas no primeiro benefício lançado, como valor venal de imóvel menor que R$ 100 mil. O principal problema foi a falta de acesso a documentação.A secretária afirma que a pasta também foi aos bairros fazer cadastramento de mulheres no CadÚnico, para que elas pudessem receber o auxílio.No governo estadual, o Mães de Goiás foi criado para atender mulheres em vulnerabilidade social que têm filhos de até seis anos de idade. Para participar, é preciso residir no estado e ter o registro no CadÚnico atualizado.Após a publicação desta reportagem, a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social de Goiás (Seds) informou que 106.352 pessoas cadastradas no CadÚnico estão aptas a receber o Mães de Goiás. Destas, 101.354 já estão recebendo o benefício. Segundo a pasta, as demais ainda não tiveram acesso ao recurso por diferentes motivos, como mudança de endereço e desistência. Inicialmente, a Seds havia informado que 101 mil era o número de pessoas cadastradas.-Imagem (1.2459580)