O grupo de apoiadores do governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, no PSDB goiano reforça o desafio que o governador de São Paulo, João Doria, terá agora na busca de unidade interna, depois de vencer as prévias de escolha do candidato a presidente da República da sigla, no último sábado (27). Nos bastidores, as lideranças em Goiás demonstram falta de disposição para pedir votos para Doria, desânimo com os rumos do partido e possibilidade de desfiliações, além de acusar "compra de votos" por parte do grupo do governador paulista.O presidente licenciado do diretório estadual, ex-governador José Eliton, diz que Doria terá uma missão "muito difícil de reconciliar o partido, restabelecer unidade e cicatrizar feridas". Eliton havia assinado com outras seis lideranças carta de apoio a Eduardo Leite, em outubro. Após o resultado, ele afirma que o governador gaúcho representava renovação real na sigla e era o nome que tinha mais condições de aglutinar apoios.O presidente do PSDB Jovem de Goiás, Rodrigo Rizzo, que também assinou a carta, diz ter ficado "muito decepcionado com a votação" e aponta risco de desfiliação tanto de jovens como de tucanos históricos em todo o País. "Perdemos a oportunidade de apoiar um projeto realmente de renovação, assim como foi Marconi Perillo em 1998", afirma. Atual secretária de Educação no Rio Grande do Sul, Raquel Teixeira, ex-deputada federal por Goiás e uma das coordenadoras da campanha de Eduardo Leite em Goiás, afirma que Doria terá "desafio enorme de unificar". "Espero que ele tenha habilidade suficiente para aglutinar", diz.Também signatário da carta de outubro, Giuseppe Vecci, ex-deputado federal e ex-presidente do PSDB-GO, minimiza as divergências e o processo tumultuado da votação no partido. "O PSDB está de parabéns por ter realizado as prévias, apesar das dificuldades no processo. E, apesar de meu candidato não ter sido escolhido, estou feliz pelo partido ter consagrado um nome de forma diferente." Vecci afirma que Doria tem condições de buscar unidade e que contará com seu apoio. "Agora ele é o nosso candidato e quero auxiliá-lo naquilo que ele tem de positivo e naquilo que podemos melhorar da candidatura dele. Pelo trabalho e esforço dele, tem todas as condições."Nas conversas de bastidores, parte dos goianos que apoiou Leite defende inclusive o caminho do ex-governador Geraldo Alckmin, que, com a vitória de Doria, mudará de partido com intenção de disputar o governo novamente e é cotado para ser vice do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "O PSDB em Goiás tem uma ala de centro-esquerda que é forte. Essa turma cogita isso", conta uma das lideranças.No grupo de parlamentares do partido em Goiás, a maioria ficou com Doria, embora alguns deles tivessem declarado apoio a Eduardo Leite anteriormente. Esse vaivém é usado por apoiadores do governador gaúcho para acusar "esquema pesado" por parte do grupo de Doria. "O que justifica a mudança de posição? E o que explica alguns fazerem questão de votar mesmo se preparando para deixar o partido?", questiona uma das lideranças do PSDB, sem querer se identificar.De seis deputados, apenas dois declararam voto em Eduardo Leite: Gustavo Sebba e Helio de Sousa, ambos estaduais.O PSDB havia decidido não divulgar resultados estratificados por Estado, justamente para evitar mais atritos no partido. No entanto, em Goiás, as informações são de que Eduardo Leite obteve mais votos tanto no grupo de filiados como de prefeitos e vereadores.Grupo de DoriaO ex-governador Marconi Perillo, que está no comando do PSDB goiano interinamente e havia declarado apoio a Doria no dia 17 de novembro, minimiza os atritos e afirma que o governador paulista tem muita determinação para buscar a unidade. "Ele é muito resiliente, determinado, obstinado. Ele vai pra cima. Caberá a ele agora buscar aglutinar os que perderam e aglutinar forças novas do centro", diz.Marconi afirma que o resultado das prévias era previsto, mas ressaltou que Eduardo Leite "teve votação expressiva e demonstrou sua força".A conclusão da votação foi anunciada no sábado, após adiamento por conta de problemas no aplicativo adotado pelo PSDB para computar a votação. Doria obteve 53,9% dos votos, contra 44,6% de Leite e 1,3% do ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio.