O mandato do governador Ronaldo Caiado (DEM) chega ao seu último ano em 2022, com a entrada do estado no Regime de Recuperação Fiscal (RRF), programa de auxílio federal, tanto desejado pela atual gestão. Para o secretário da Governadoria, Adriano da Rocha Lima, este será um ano de entregas, considerando o alívio fiscal e a intensificação de programas sociais iniciados no fim de 2021.Questionado, o secretário descarta a ideia de que a maior intensidade de programas sociais em 2022 tenha relação com o fato de se tratar de ano eleitoral, já que Caiado vai disputar a reeleição. “O objetivo é entregar aquilo que é o programa de governo, que foi estabelecido em 2018 durante a campanha. E a preocupação do governador é entregar, ainda que ele, pela legislação eleitoral, não possa participar do momento de entrega, e não receba a repercussão política.”Ele ainda acrescenta: “Quando você faz um programa de governo é um programa para todo o seu mandato, não vai excluir o último ano porque é um ano de eleição. Então tudo que está sendo feito é uma continuidade do que vem sendo trabalhado pelo governador, não há nada de forma oportunista para o ano de eleição.”Economia“É o primeiro ano que conseguimos finalmente ter um equilíbrio fiscal no estado. Pegamos um estado quebrado. Se fosse uma empresa privada era decretada falência”, avalia o secretário, que prevê um ano de investimentos. “Em 2021 também tivemos recursos, mas a situação estabilizou agora no fim do ano e vamos entrar em 2022 com o equilíbrio consolidado, o que vai permitir o pleno investimento em políticas públicas”, complementa.SocialRocha Lima prevê que, com o alívio financeiro, o estado concentre esforços nos programas sociais criados, por meio de leis aprovadas na Assembleia Legislativa de Goiás no segundo semestre de 2021. “Programas como o Mães de Goiás e outros programas sociais já foram intensificados desde o fim de 2021 e vão continuar de maneira bastante intensa em 2022, principalmente por conta da pandemia”, avalia.Além do Mães de Goiás, que prevê um auxílio mensal de R$ 250 a mães de filhos com até 6 anos de idade e que tenham renda familiar per capita de até R$ 89, o governo também conta com as bolsas: Qualificação, que dará R$ 250 às pessoas em situação de vulnerabilidade que participarem de cursos profissionalizantes; Alfabetizador, que quer fomentar a alfabetização de adultos; e a destinada a profissionais da educação que atuem nos ensinos infantil e fundamental.Também foi criado um auxílio-alimentação voltado para 5 mil adolescentes, com idades entre 14 e 18 anos, que participem do programa de contratação de menor aprendiz do Estado. Além disso, o governo aprovou na Alego, no ano passado, a criação do programa Pra Ter Onde Morar. Ele consiste no pagamento de R$ 350 mensais para pessoas que têm dificuldade de pagar aluguel ou prestações de casa própria. O benefício é destinado a quem está inscrito no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal (CadÚnico).SaúdePara o secretário, também é momento de retomada na saúde, depois de dois anos de pandemia, mas sem perder o foco, diante da chegada da variante ômicron do vírus da Covid-19. “Apesar de ser mais transmissível, o que temos visto é que a sua onda tende a ser mais curta. Esperamos que em um mês e pouco já esteja descendo”, avalia.“O governador teve a responsabilidade no momento que precisava restringir, mesmo tendo pessoas contra, teve a responsabilidade de manter o isolamento, controlando a expansão da Covid-19, conseguiu expandir o sistema de saúde e agora está no momento da retomada”, diz.Rocha Lima acredita que o estado esteja mais preparado hoje para lidar com a pandemia. “As policlínicas e os hospitais foram quase todos concluídos e temos alguns que vão ser inaugurados agora no primeiro trimestre.” Ele também cita a obra do hospital de Águas Lindas, iniciada depois que o governo federal desativou o hospital de campanha, que funcionou em 2020 para atender pacientes da Covid-19.“Então vamos dar sequência ao que temos feito com a regionalização da saúde e ampliação de leitos. Esse era o grande objetivo a ser cumprido e agora tem esse arremate final com algumas policlínicas a mais que estão sendo inauguradas, que é outra marca forte do governo.”EducaçãoO secretário afirma que na educação o trabalho deve ser de continuidade. “O governo ampliou as escolas de tempo integral e deu condições de estrutura física para todas as escolas terem condições de receber os alunos de volta ao ensino presencial”. Segundo ele, também tem sido intenso o trabalho do estado para que os alunos tenham acesso à tecnologia digital. “Hoje a educação digital é tão importante quanto português, matemática etc. Os alunos estão todos com chromebooks, além de recursos para as escolas terem acesso à internet.”EstradasNas vias estaduais, o secretário afirma que o objetivo é seguir com o trabalho de redução dos quilômetros de estradas sem condições de trafegabilidade. “A gente recebeu um estado com quase 5 mil quilômetros de estradas sem condições de trafegabilidade. Isso já reduziu para pouco mais de mil. Isso está sendo bem intensificado desde o ano passado e continua de forma mais acelerada em 2022.”Transporte públicoPara Rocha Lima, a reformulação do transporte público será outra marca de 2022. “Nós começamos com projeto de lei que foi aprovado no fim do ano, em dezembro, que reformula toda a governança, reformula a CMTC, a CDTC e dá condições para que tenham tarifas mais baixas, tarifas que podem variar de acordo com a distância percorrida”. Ele informa que, na segunda-feira (17), a parte física da reformulação será anunciada, com a reforma de veículos e cronograma de implantação.Segurança públicaO secretário afirma que, em 2022, o governo dará continuidade à ampliação de presídios, com celas modulares. “Isso já foi licitado e vai ser expandido agora, num custo muito mais baixo do que o padrão.”Ele também afirma que deve ser um ano de investimento em tecnologia de monitoramento na segurança pública. “Vão começar alguns testes em cidades de Goiás, e a ideia é expandir gradativamente para outros municípios que precisam receber esse tipo de tecnologia.EnergiaNa energia, Rocha Lima espera que seja um ano melhor para Goiás, já que em 2022 a Enel tem que atingir as metas estabelecidas para todas as distribuidoras do país. “Aqui em Goiás, na época da privatização, flexibilizaram as metas para facilitar a concorrência, só que isso volta ao normal agora. É um ano em que eles estão investindo a ordem de R$ 2 bilhões.”O secretário também afirma que o estado, por meio do programa de eficiência energética, pretende construir usinas para suprir a energia. “Construir usinas fotovoltaicas que vão abastecer o estado como fonte de energia.” Ele lembra também que, com o projeto de privatização da Eletrobras, há uma obrigação de construir duas usinas termelétricas no Centro-Oeste – uma em Goiás e outra no Distrito Federal. “O que obriga que cheguem ao estado de Goiás gasodutos. Você não tem como alimentar uma termelétrica desse porte se não tiver gasoduto.”Meio ambienteNo meio ambiente, o secretário destaca a criação do sistema de licenciamento ambiental eletrônico. “De forma digital, muito mais facilitado, e, obviamente, como foi uma mudança drástica, passou por alguns ajustes e agora eu acho que atingiu a maturidade para que a gente tenha uma agilidade grande em todos os processos de licenciamento ambiental.”Nos últimos dias, o estado também enfrentou problemas com as chuvas no Nordeste goiano. O governador chegou a ir à região, o que deve embasar políticas públicas em 2022.Caiado precisará mostrar ações, avaliam cientistas políticosPara cientistas políticos ouvidos pelo POPULAR, 2022 é o ano em que o governador Ronaldo Caiado (DEM) precisará mostrar ações, principalmente na economia. Para os especialistas, depois de um primeiro ano de governo em que a gestão adotou um discurso de que herdou um estado quebrado de gestões anteriores, a administração passou por dois anos intensos da pandemia da Covid-19, que se tornaram o foco do debate, mas o rumo deve mudar neste último quarto ano de seu mandato. O cientista político Guilherme Carvalho avalia que o governador fez três anos de uma gestão focada no corte de gastos, com vistas ao equilíbrio fiscal, e agora “tende a ser um Caiado mais social”. “Um Caiado que entrega programas sociais até para conseguir se comparar com os seus adversários”, diz o estudioso, ao vislumbrar nessa virada de chave uma intenção política, já que o governador disputa, em 2022, a reeleição.Para ele, esse deve ser um ponto explorado na disputa eleitoral. Carvalho pontua que os adversários poderiam usar do seguinte argumento: “Olha, o Brasil está em uma tremenda dificuldade econômica e o governador está preocupado com contas públicas, enquanto as pessoas estão passando fome.”O especialista avalia que o governador tem o desafio de alinhar, junto à sua base na Assembleia Legislativa de Goiás, um discurso mais social para o ano de 2022. “Mostrar que as contas estão em dia, então no próximo mandato essa não será a preocupação dele, e, ao mesmo tempo, mostrar que os próximos quatro anos tendem a ser com o olhar mais voltado para a população e não apenas para a estrutura fiscal do estado”, detalha.Carvalho lembra, ainda, que o avanço da ômicron, nova variante da Covid-19, pode ser um desafio para o governador neste ano, do ponto de vista político. “A postura dele durante a pandemia foi responsável do ponto de vista da saúde pública. Então vai depender do estado de calamidade que a ômicron possa trazer. Isso vai forçá-lo a tomar decisões difíceis e talvez impopulares, como ele fez em momentos anteriores.”Para ele, Caiado também tem o desafio de trabalhar sua relação com os servidores, diante da entrada de Goiás no Regime de Recuperação Fiscal (RRF), que impõe um teto de gastos e causa algumas medidas impopulares entre os funcionários públicos, como o não pagamento da data-base. Carvalho avalia que esse deve ser um ponto muito explorado pela oposição na campanha eleitoral. “E ele com certeza não assumirá compromissos que não possa entregar aos servidores, então essa vai ser uma grande sinuca para o governador.”Professor na Universidade Federal de Goiás (UFG), o cientista político Robert Bonifácio acrescenta que houve uma mudança na preocupação da população brasileira desde 2020, quando a principal questão era a pandemia da Covid-19. “Não é mais a pandemia, é o estado da economia. Então o governador vai ter que mostrar ações no campo econômico, com resultados positivos, obras, políticas públicas. Vai ter que ser mais propositivo e mostrar um pouco mais o que está fazendo”, afirma. Para Bonifácio, os programas sociais aprovados na Assembleia no ano passado devem ser o destaque deste último ano de mandato. “Esses programas sociais são uma resposta, uma tentativa de, ao longo deste ano, mostrar que o governo estadual está agindo, fomentando a economia, reduzindo desigualdade”, cita.Para o cientista político, essa será uma maneira diferente de o governo agir do que a forma com que atuou na pandemia. “Na pandemia você precisa mostrar cuidado, e ele foi muito bem sucedido nisso, do meu ponto de vista. Agora ele precisa mostrar que faz. Esse é o desafio dele”, reforça. Na sua avaliação, o foco nos programas sociais é uma tentativa do governador de dar satisfação no campo econômico para a população goiana.Já a professora Maria Aparecida Skorupski, do curso de Ciência Política da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO), avalia, porém, que dificilmente esses programas não serão vistos como eleitoreiros. “Se colar, colou, mas não são programas que resolvem os problemas do estado. Daqui para frente vai ter muita investida por conta do ano eleitoral. O Brasil está em um quadro complicado, do ponto de vista político, e a gente não pode esperar muito do governo Caiado”, conclui.-Imagem (Image_1.2387187)