De 2,75%, no início de 2021, a taxa básica de juros, Selic, passou para 12,75% nesta semana como estratégia para deter o avanço da inflação, impulsionado principalmente pelo aumento do preço dos combustíveis. Um quadro nada favorável aos negócios e ao consumo, o que tende a ter reflexos nas eleições. Porém, pouco deve influenciar no apoio de empresários goianos ao presidente Jair Bolsonaro (PL), que busca a reeleição, conforme avaliam líderes de entidades empresariais.“Nós temos um cenário perfeito para tempestade”, define Rubens Fileti, presidente da Associação Comercial, Industrial e de Serviços de Goiás (Acieg). Entre as consequências da alta dos juros, ele menciona demissões por parte de micro e pequenas empresas, que sofrem mais o impacto da rápida elevação dos juros na despesa financeira. Um entrave a mais para a retomada após forte retração na pandemia, e que já esbarra, por outro lado, na falta de mão de obra qualificada e de insumos.Fileti lembra que as empresas têm de recorrer ao mercado financeiro para pegar empréstimo, mas observa que a conta não fecha, porque esbarram em garantias e outras dificuldades.“O dinheiro não sai ou sai com valor muito alto”, alerta, apontando as consequências: ir empurrando para frente a dívida, que só vai aumentando e estrangulando a empresa em todos os lados. “Cenário perfeito para o caos”, lamenta.Ainda assim, ele não atribui o desequilíbrio à política econômica adotada pelo atual governo, considerando tratar-se de crise mundial. “No cenário europeu, norte-americano, os problemas são iguais. O que está impulsionando a inflação é o combustível”, comenta. Cita ainda a queda na produção. “Devido à Covid, não temos muito para onde correr.”Além disso, o presidente da Acieg diz que o governo tem mesmo de tentar salvar alguns segmentos, a exemplo de desconto de IPI para alguns produtos, diante da situação emergencial. “Mas com isso também empurra o problema um pouco mais para frente, com aumento da dívida interna do país, o que é mais sério ainda”, avalia.Leia tambémNúmero de eleitores deve passar de 4,8 milhões em GoiásTSE tem recorde de atendimento para regularizar e emitir títulos de eleitorPara Fileti, a crise é entendida entre os empresários como decorrência da pandemia, de fatores externos, fechamento de mercados, guerra na Ucrânia, desafios que nunca existiram antes, o que explica sua projeção de que pouco deve influenciar no voto desse segmento, onde Bolsonaro teve amplo apoio em 2018. “Mas para a população em geral tem impacto grande sim”, contrapõe.“Reflexo sempre tem”Sandro Mabel, presidente da Federação das Indústrias do Estado de Goiás (Fieg), critica que “a velha forma de barrar a inflação é aumentar os juros”. Segundo ele, isso tem representado desequilíbrio no fluxo de caixa das empresas.“O empresário projeta investimento com base nos juros existentes, e a Selic subiu 10% em um ano”, comenta, apontando o agravante da queda nas vendas. “Não se trata de inflação por consumo disparado, não é isso, as pessoas estão ganhando menos.” A alta mundial do petróleo é uma das maiores vilãs da inflação, indica ele.Como agravante, Mabel menciona que a produção segue comprometida pelo problema de fornecimento de insumos em várias indústrias, como no setor plástico por falta de resina, em decorrência da pandemia.Mesmo assim, o presidente da Fieg, recém-filiado ao Republicanos, afirma que a economia sempre tem reflexo nas eleições. “Certamente, quem está pagando taxas de juros mais altas pode considerar que é decisão de governo”, responde quando questionado se a situação pode ser desfavorável à reeleição de Bolsonaro.A análise de Mabel tem respaldo nos resultados da sondagem industrial do primeiro trimestre, divulgados no dia 19 pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). A entidade destacou o crescimento forte da produção industrial entre fevereiro e março, mas também o aumento da preocupação dos empresários com a queda no consumo. Os resultados mostraram ainda maior insatisfação dos empresários com a margem de lucro e a situação financeira dos negócios. O indicador que mede a satisfação com o lucro operacional caiu três pontos. Bateu em 44,2 pontos, se afastando da linha divisória dos 50.Risco de inadimplênciaPresidente da Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas de Goiás (FCDL-GO), Valdir Ribeiro salienta que juros altos representam grande risco de inadimplência, e havendo inadimplência, as empresas têm mais dificuldade de obter crédito.“Portanto, é um sinal claro de que as empresas estão atravessando um momento conturbado, que se agrava com essa escalada nos juros”, constata.“À medida que os juros abocanham uma fatia maior do faturamento das empresas, o resultado líquido vai trazendo cifras cada vez menores, o que pode levar os empresários a tomarem decisões por vezes radicais, como ter que demitir funcionários”, expõe Ribeiro.Outra vertente prejudicada é a dos investimentos. “É questão de sobrevivência, para evitar que o problema vire uma bola de neve e as contas se descontrolem de vez. Claro que, com isso, as empresas são obrigadas a rever prioridades e, não raras vezes, os primeiros planos a serem revistos são justamente os programas de investimento, já que, em comparação, por exemplo, com despesas operacionais, eles podem ficar para depois”, discorre.Diante disso, o presidente da FCDL concorda com analistas políticos que costumam dizer que, em ano eleitoral, a situação da economia tem peso determinante no resultado das eleições. Ele acredita que os juros altos, “que travam o crescimento do país”, podem sim influenciar na votação em outubro. E vê na política econômica pontos que favorecem e comprometem o projeto de reeleição de Bolsonaro.“São muitas as manifestações públicas de empresários de diferentes segmentos apoiando a atual política econômica de fomento à iniciativa privada. Mas faltam, claro, ações mais contundentes neste sentido, como a reforma tributária e a desburocratização para facilitar o acesso das empresas a linhas de crédito.”Ele acrescenta que qualquer mudança mais profunda na política econômica só acontecerá a partir de 2023, seja qual for o resultado da eleição. “E o setor produtivo tem urgência. Mudanças precisam acontecer para que o Brasil volte a crescer com força.”“Grande vilão”Presidente do Sindicato do Comércio Varejista no Estado de Goiás (Sindilojas-GO), Cristiano Caixeta também vê impacto negativo de juros altos, “um grande vilão”.“Não há outra receita: se os compromissos financeiros das empresas aumentam, elas têm de cortar despesas para garantir um resultado líquido no azul, e isso, ao menos para as pequenas e médias empresas, está cada dia mais difícil de manter”, diz ele.Segundo o presidente do Sindilojas-GO, como os planos de investimentos e expansão são de médio e longo prazo, e como isso depende muito da capacidade de prever o cenário econômico, os empresários têm preferido dar passos mais conservadores, protegendo os patrimônios das empresas contra as oscilações provocadas pelas frequentes altas nos juros.Caixeta acredita que a alta de juros pode influenciar, mas não determinar o resultado das eleições.“Há sempre os prós e os contras. Em geral, o que a gente percebe é um sentimento de confiança dos empresários nas ações que a gestão do presidente Bolsonaro tem feito em prol das empresas, principalmente na questão da desburocratização e na flexibilidade para negociar os contratos com os empregados. Eu diria que o que mais precisa mudar é a carga tributária, um pleito do empresariado já de muitas décadas.”Ele acrescenta que os empresários vão apresentar aos candidatos a presidente “propostas que favoreçam o crescimento das empresas, ao mesmo tempo que fomentem a geração de emprego, renda e divisas para os estados e municípios”.-Imagem (Image_1.2451647)-Imagem (Image_1.2451648)-Imagem (Image_1.2451650)