As indicações do genro e do filho do pastor Arilton Moura, suspeito de tráfico de influência dentro do Ministério da Educação (MEC), para dois cargos na Prefeitura de Goiânia em maio do ano passado teriam partido do religioso e do pastor Gilmar Santos, outro envolvido no esquema chamado de “Bolsolão do MEC”. Os dois pastores mais o genro de Arilton, além do ex-ministro da Educação, Milton Ribeiro, e do ex-assessor do ministério, Luciano Musse, foram presos na quarta-feira (22) pela Polícia Federal durante a Operação Acesso Pago.O deputado federal João Campos, presidente do Republicanos em Goiás, mesmo partido do prefeito de Goiânia, Rogério Cruz, informou por nota que tinha conhecimento das indicações pelos religiosos, mas não sabia se haviam sido efetivadas. Questionado se as indicações foram feitas diretamente ou não pelos pastores ao executivo, Campos respondeu via assessoria não saber.A Polícia Federal investiga um esquema de tráfico de influência e corrupção para liberação de recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), ligado ao MEC, na época em que o comando da pasta estava com Milton.Helder Diego da Silva Bartolomeu, casado com a filha de Arilton, e Victor Iuri Amorim Correia, filho do pastor, foram nomeados para um cargo comissionado de assessor técnico no departamento pessoal da Secretaria Municipal de Planejamento Urbano e Habitação (Seplanh) de Goiânia no dia 25 de maio de 2021. Ambos foram exonerados no dia 11 de maio deste ano e receberam neste período R$ 2,1 mil cada um. O pagamento foi feito em julho, segundo o Portal de Transparência da Prefeitura.Leia também:- Os fios que ligam servidores de Goiânia ao escândalo do MEC- Justiça manda soltar pastor de Goiânia e ex-ministro da Educação presos pela PF- Genro de pastor recebeu propina de R$ 30 mil, diz MPFO presidente goiano do Republicanos tem uma relação de proximidade com Gilmar e Arilton. A filha de Gilmar foi assessora em seu gabinete, na Câmara dos Deputados. Levantamento feito pelo jornal carioca O Globo em abril mostrou que Arilton esteve 90 vezes no Congresso Nacional e foi Campos o deputado que mais o recebeu. Foram cinco reuniões com Arilton e duas com Gilmar no gabinete.O deputado também acompanhou algumas vezes os pastores em visita ao MEC e a outros ministros, conforme já noticiado, e ao POPULAR em março afirmou conhecer Gilmar há mais de 30 anos, tendo contratado a filha dele “por mérito”. A reportagem questionou a assessoria de Campos se as nomeações de Helder e Victor na Prefeitura foram feitas por ele e a resposta foi que ele tinha conhecimento das indicações feitas pelos pastores ao Paço Municipal.A nomeação de Helder para um cargo na Seplanh foi revelada em março deste ano no auge do noticiário envolvendo as suspeitas de corrupção no MEC enquanto Milton ainda estava no cargo. Na época, entretanto, não se sabia do parentesco dele com o pastor, apenas que o acompanhava nas viagens pelo Brasil e não ia ao trabalho. Já a nomeação de Victor e o parentesco de ambos com Arilton foi mostrado pela primeira vez pelo POPULAR nesta quinta-feira (23).ExoneraçãoRogério Cruz falou nesta quinta sobre o caso de Helder, um dia após a prisão deste pela Polícia Federal. Disse que a exoneração demorou um ano porque foi o tempo de tramitação do processo interno aberto para investigar a conduta do servidor, que nunca teria comparecido à secretaria. O procedimento administrativo teria sido aberto no dia 15 de junho de 2021. A prefeitura diz que o dinheiro que foi pago pode ser cobrado.O prefeito não respondeu, porém, qual o motivo de abrir um processo interno para exonerar alguém que ocupava um cargo cuja nomeação depende apenas de decreto. O POPULAR entrou em contato com a assessoria do Paço questionando sobre isso e sobre a situação de Victor Iuri, mas até o fechamento desta reportagem não houve resposta.O POPULAR também questionou sobre quem indicou os nomes dos parentes de Arilton para cargos na Prefeitura e informou à assessoria que o deputado federal falou que seriam sugestões dos pastores, mas também não houve retorno.Um especialista em direito administrativo ouvido pelo POPULAR disse que, por ser um cargo comissionado, a exoneração não depende de procedimento administrativo muito menos de justificativa, e mesmo que a Prefeitura quisesse abrir o processo para se preservar e ter provas de que Helder nunca compareceu ao trabalho e até cobrar o que já foi pago de volta não precisava esperar a conclusão para exonerar o genro do pastor.A reportagem tentou localizar Helder, Victor e seus possíveis advogados, mandou mensagens para os dois primeiros nas redes sociais, mas até o momento sem sucesso.