Os líderes partidários de Goiás levantam dúvidas sobre a possibilidade de fusão ou federação de siglas, apesar de esquentarem as articulações em Brasília em busca de fortalecimento de bancadas. Conflitos regionais, divergências internas e interesses sobre a eleição das mesas na Câmara e no Senado são apontados como entraves para os acordos, pelo menos entre siglas de grande e médio porte.As negociações de líderes do União Brasil, MDB, PP, PSDB e Podemos esquentaram nas últimas semanas, com as cúpulas de olho em maior peso para articular cargos estratégicos no Congresso, fortalecimento nas conversas com o Executivo e contraponto às maiores bancadas.União Brasil e PP vêm conversando na tentativa de fazer frente ao partido do presidente Jair Bolsonaro (PL), que fez a maior bancada na Câmara, com 99 representantes. Embora tenham cogitado fusão, a possibilidade já foi descartada pela maioria dos líderes, que apontam chances de federação. Juntos, eles teriam 106 parlamentares.O governador Ronaldo Caiado (UB) diz que tem participado das reuniões da cúpula nacional para discutir a união, mas vê um alto grau de dificuldade para que as siglas fechem acordo.No contexto de Goiás, o governador não vê entraves, já que o PP o apoiou na reeleição e o presidente estadual do partido, Alexandre Baldy, se aproximou dele nesta campanha, quando disputou o Senado. Mas há obstáculos em outros estados e conflitos entre as cúpulas dos dois partidos. A federação estabelece atuação conjunta das legendas por quatro anos, incluindo unidade nas eleições municipais.Baldy afirma que as discussões dependem dos posicionamentos sobre a eleição da mesa da Câmara. Elas ficaram em suspenso diante das declarações de Luciano Bivar, presidente nacional do UB, de enfrentamento ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP), mas voltaram a ganhar força com os sinais de Bivar de apoio a Lira e o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Baldy também não vê dificuldades em relação ao contexto local, mas acha improvável o fechamento do acerto.Já o PSDB, que saiu ainda mais enfraquecido nas eleições deste ano, discute com MDB e Podemos a possibilidade de ampliar a federação, já fechada atualmente com o Cidadania. O partido elegeu 18 deputados federais e a união ampliaria o grupo para 73. Os quatro partidos apoiaram a senadora Simone Tebet (MDB-MS) para a Presidência da República no primeiro turno e mantiveram o diálogo após os resultados das urnas. Mas há também quem defenda no MDB a articulação com União Brasil, contra Lira.Emedebistas goianos apontam interesse na união com PSDB, especialmente porque poderia quase dobrar o tempo de televisão para as eleições estaduais. O presidente estadual do MDB, Daniel Vilela, vice-governador eleito, é o provável candidato em 2026. Para o partido, o fato de o PSDB local ser de oposição, comandado pelo ex-governador Marconi Perillo, não seria obstáculo em caso de uma decisão das cúpulas nacionais, principalmente após a derrota de Marconi para o Senado este ano.A reportagem não conseguiu contato com Marconi. A assessoria do tucano informou que ele daria retorno, o que não ocorreu.Única deputada federal eleita pelo partido em Goiás, Lêda Borges diz ser a favor de todas as articulações na tentativa de atrair outros partidos. “A minha posição já externada no partido é favorável a fusão, com mudança de nome e de número. Quem está no centro em um país polarizado como o nosso ficou no limbo. O PSDB tem de defender seu legado, mas se transformar em outro partido. Mesmo que escolha federação agora, que seja um caminho para fusão no futuro”, diz.Apesar de ser favorável à união com outras siglas, a deputada afirma que acha difícil um acordo com o MDB. Depois de se reunir com o líder do PSDB na Câmara, Adolfo Viana (BA), no dia 10, ela considera que as conversas com Podemos e PSC estão mais avançadas. “MDB e PSDB são dois partidos históricos, que já foram grandes, e acho difícil conciliar os interesses”, diz.Fortalecido com a vitória para novo mandato de governador do Rio Grande do Sul e cotado para presidir o PSDB nacional a partir do ano que vem, Eduardo Leite defendeu fusão ou nova federação com MDB e Podemos, em entrevista ao Estadão no início do mês.Já a direção do Podemos em Goiás não acredita em avanço de acordo com o PSDB e MDB. O presidente estadual da sigla, Eduardo Machado, afirma que o caminho mais provável é a fusão com o PSC. Ele também cita os conflitos locais como dificuldades para aproximação com outros partidos. “É melhor ser cabeça de lambari do que rabo de baleia. E a presidente nacional do partido (deputada federal Renata Abreu) também pensa isso”, diz.Apesar da federação manter estruturas estaduais dos partidos, com presidentes e orçamentos separados, os líderes afirmam que as atuais experiências mostram que sempre há um poder maior para um dos dirigentes, que passam pelos acertos das cúpulas nacionais.O senador Jorge Kajuru (Podemos) disse considerar mais provável que o partido faça acordo para formação de bloco do que federação com o PSDB, à qual é contrário, como desafeto de Marconi. Ele afirma que o partido terá novas reuniões para definir os rumos. O senador também cita conversas do partido com o PDT.NanicosOs partidos menores têm necessidade de fechar fusões para driblar a cláusula de barreira, que zera a distribuição dos fundos eleitoral e partidário e o tempo de televisão das siglas que não alcançaram número mínimo de representantes ou votos válidos na Câmara.Este ano, a cláusula excluiu 16 partidos da divisão de recursos e propaganda. Quatro deles, que conseguiram eleger deputados, fecharam fusão: Pros com Solidariedade e Patriota com PTB.O POPULAR mostrou no dia 9 de outubro, na semana seguinte ao primeiro turno da eleição, que os dirigentes dos partidos nanicos em Goiás acompanhavam as discussões de acordos para viabilizar as siglas.Leia também:- Com receio de votação dos projetos do agro, Caiado cancela viagem- Presidente do PSDB de Goiânia, Aava Santiago participará da equipe de transição de Lula -Imagem (Image_1.2563551)