Para 43% dos evangélicos, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi o melhor presidente que o Brasil já teve. Isso é mais do que o dobro do montante (19%) que prefere Jair Bolsonaro (PL), segundo pesquisa Datafolha feita entre 13 e 16 de dezembro.No patamar geral, 51% dos brasileiros de todas as religiões veem no petista o auge do presidencialismo nacional, numa lista em que também pontuam FHC (7%), Getúlio Vargas (4%), Juscelino Kubitschek (4%) e, embolados com 1%, José Sarney, João Batista Figueiredo, Dilma Rousseff, Tancredo Neves (morto antes de assumir), Itamar Franco e Jânio Quadros.Evangélicos, portanto, são menos simpáticos a Lula do que a média. Mas a predileção pelo ex-presidente derruba uma tese levantada com frequência por pastores próximos ao bolsonarismo: a de que a maioria esmagadora dos evangélicos é fiel ao atual ocupante do Palácio do Planalto e alérgica ao petismo.Quando a pergunta se inverte, qual o pior presidente que já comandou o Brasil, Bolsonaro leva a pior: 35% dos evangélicos lhe dão esse título, e 25%, a Lula. A média geral é de 48% e 18%, respectivamente -também mencionados, Fernando Collor (8%), Dilma (7%), FHC (2%) e José Sarney (2%).Num cenário em que Lula e Bolsonaro duelam no segundo turno, o empate técnico detectado em sondagens anteriores continua: 46% dos adeptos da fé evangélica optam pelo ex-mandatário, e 44% querem ver o atual ser reeleito.Num primeiro turno com a dupla mais Sergio Moro (Podemos), Ciro Gomes (PDT) e João Doria (PSDB), Lula se isola na dianteira: 39% dessa parcela de fé o escolhem, enquanto 33% vão de Bolsonaro. Os demais somam 18%, e o restante se divide em votos brancos/nulos ou ainda não sabem responder.O líder do Executivo não é bem avaliado por evangélicos em geral, embora o quinhão religioso lhe seja menos arisco do que a média. Enquanto 53% do total de entrevistados avaliam a gestão bolsonarista como ruim ou péssima, 39% dos fiéis dizem o mesmo -em setembro, quando o instituto de pesquisa fez a pergunta pela última vez, 41% rejeitavam o governo.O atual levantamento contou com 3.666 entrevistados maiores de 16 anos, abordados presencialmente em 191 cidades do país. A margem de erro é de dois pontos para mais ou menos. Se considerarmos apenas o bloco dos eleitores evangélicos, a margem vai para três pontos.É verdade que, sem a base evangélica, que ajuda a brecar sua queda de popularidade, o estrago poderia ser maior para Bolsonaro. Os números, contudo, não são generosos mesmo no eleitorado que tanta atenção recebe do presidente.A promessa cumprida de emplacar um "terrivelmente evangélico" no STF (Supremo Tribunal Federal), materializada na última quinta-feira (16) com a posse do pastor André Mendonça na corte, foi o aceno mais importante nesse sentido.As sondagens passadas, contudo, sugerem que Bolsonaro há muito saiu da zona de conforto com o grupo. No começo do ano, a proporção dos eleitores evangélicos que avaliam mal sua administração era de 30%. Pois subiu para 39%. Na via inversa, os 40% que a aprovavam são hoje 32%.Os números do Datafolha reforçam uma estratégia que o PT deve adotar para tentar cativar o eleitor evangélico: mais foco em temas econômicos e sociais e menos em pautas identitárias --esta, a trincheira por excelência de Bolsonaro com o eleitorado conservador.No fim de novembro, Lula pediu que o PT não caia na história de que evangélicos "são como se fossem um gado" e recomendou que o partido atente ao perfil do típico frequentador dessas igrejas: pobre, periférico, e com mais mulheres negras do que em outros estratos sociais.Caberia à legenda, portanto, neutralizar debates que envolvam discussões morais e lembrar para esse grupo que a mesa era mais farta nos tempos petistas.