Ao custo de R$ 4,3 milhões bancados pela prefeitura de Aparecida de Goiânia, o festival de comemoração do centenário da cidade motivou questionamentos sobre promoção eleitoral do ex-prefeito Gustavo Mendanha (Patriota), pré-candidato a governador.O evento Aparecida é Show, que começou no dia 4 e termina nesta terça-feira (10), teve declaração de voto de artista, aclamação e menções a Mendanha por parte de locutores como, por exemplo, “o grande mito da política moderna no Brasil”.Especialistas ouvidos pelo POPULAR afirmam que os episódios podem configurar irregularidade conforme a lei eleitoral.Leia também:Mendanha diz que “estado está doente e governador não faz nada”Vídeo que circulou nas redes do segundo dia do evento mostra o discurso de um cantor afirmando que votará em Mendanha, ao fazer agradecimento a lideranças políticas da cidade. “Agradecer também o ex-prefeito Gustavo Mendanha. Não estou fazendo campanha, viu, gente. Só estou falando que ele é o meu governador. Eu vou votar no Gustavo Mendanha. Eu, viu?”, afirmou.O vídeo não mostra a imagem de quem está falando no palco. Segundo a prefeitura, trata-se de um cantor identificado como Lorenzo. O município afirma que ele não foi contratado, não recebeu cachê e se apresentou em momento dedicado a “artistas da terra”, que pedem para “dar uma palhinha” durante o evento. Ele antecedeu o show de Xand Avião, que teve cachê de R$ 300 mil.No terceiro dia do evento, em imagens divulgadas pelo próprio ex-prefeito, Mendanha foi chamado ao centro da arena e anunciado como “grande mito da política moderna” e “esse é cara”. As cenas mostram efeitos de luz e som com o anúncio da chegada do ex-prefeito, que percorreu o centro com acenos aos populares segurando o chapéu.No domingo (8), no encerramento do rodeio, Mendanha desfilou a cavalo carregando a bandeira de Goiás, atrás do prefeito Vilmar Mariano (Patriota), que carregava a de Aparecida.O advogado eleitoral Dyogo Crosara aponta que a declaração de voto de forma isolada não configuraria necessariamente ilícito eleitoral, mas os episódios conjuntamente aponta promoção.“Ele na arena com a bandeira, as citações, a forma com que chegava, todos esses elementos denotam conduta vedada. É o conjunto que aponta utilização de evento público para promoção.”O professor de Direito Eleitoral Alexandre Azevedo também afirma que a declaração de voto, em evento custeado com recursos públicos, e a forma da participação dele - sendo ovacionado nos discursos de locutores - podem ser consideradas propaganda eleitoral extemporânea e abuso de poder político econômico.“A simples presença, participação como ex-prefeito, não teria problema. Mas os excessos na apresentação podem configurar uso da estrutura para reforçar o nome dele”, diz Alexandre.Dyogo Crosara também vê problema no modo como se deu a participação de Mendanha. “Como ele é pré-candidato, e é sabidamente, e há uma promoção pessoal dele com recurso público, há conduta vedada (prevista no artigo 73 da lei eleitoral).”Para Crosara, as irregularidades podem provocar condenação a pagamento de multa. Já Alexandre acha que há risco inclusive de inelegibilidade, por conta da presença do candidato.visão pessoalA prefeitura de Aparecida afirma em nota “que respeita a legislação vigente” e que o cantor Lorenzo “apenas expressou uma visão pessoal, sem pedido de voto”.Além de Xand Avião, o Aparecida é Show teve atrações como os cantores da música gospel Jesse Aguiar e Isadora Pompeo, Saia Rodada, César Menotti e Fabiano, Léo Magalhães, a banda católica Rosa de Saron, Leonardo, Zé Ricardo e Thiago, Zé Vaqueiro e Wesley Safadão.Segundo a prefeitura, o custo foi de R$ 2,4 milhões para a contratação dos artistas e R$ 1,8 milhão para a estrutura do evento.A gestão municipal também afirmou que “orientou que se respeitasse a lei em todos os momentos do evento, o que tem sido de fato cumprido”.Mendanha disse não ter nenhuma preocupação em relação a possíveis ilícitos. “Não houve pedido de voto. Sempre demos espaço para os talentos da terra e, às vezes, um ou outro empolga mais, mas foi o único episódio. Eu mesmo orientei para ninguém falasse de eleição”, afirmou.Quanto à presença e a forma de anúncio do seu nome, ele disse que são naturais as manifestações para o caso de um ex-prefeito por dois mandatos.O POPULAR questionou a Procuradoria Regional Eleitoral e o Ministério Público de Goiás (MP-GO) se receberam denúncias e se há algum procedimento de apuração sobre o evento em Aparecida. O MP-GO não localizou nenhum procedimento. A reportagem não recebeu resposta da PRE até o fechamento desta edição.