Wolmir Therezio Amado é um possível candidato do PT ao governo de Goiás em 2022. Reitor da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC) por 18 anos, o professor agora quer levar a sua experiência pastoral e aquela adquirida na gestão educacional para a gestão do governo goiano.O ex-reitor colocou o nome à disposição para a disputa em evento do PT no dia 13 de novembro. O partido, no entanto, ainda prefere não bater o martelo quanto à candidatura de 2022, devido à possibilidade de integrar uma aliança no ano que vem. O objetivo é viabilizar uma candidatura de oposição ao governador Ronaldo Caiado (DEM).Ao POPULAR, Wolmir conta de sua intenção de disputar o cargo majoritário, mas também se diz aberto a abrir mão em prol de uma aliança com outros partidos. Apesar disso, descarta a possibilidade de concorrer a outro cargo na eleição de 2022.Por que o senhor decidiu se candidatar?Eu estive em alguma liderança pelo menos nos últimos 40 anos de vida. Eu estive na liderança pastoral, com atuação muito grande, sobretudo, no Conselho de Leigos (presidiu o Conselho Regional de Leigos do Centro-Oeste, de 1992 a 1998, e o Conselho Nacional de Leigos e Leigas Católicos do Brasil, de 1998 a 2004). Então foi uma atuação pastoral em igreja, em comunidade, em paróquia, em assessoria, em contato com as lideranças, e também com religiosos, escolas católicas, com pastorais sociais, com movimentos essenciais, foi uma jornada longa, de atuação muito intensa. De alguma maneira, na igreja, eu colaborava, ajudava, contribuía, assessorava, e eu também era ajudado. Eu também tive uma caminhada acadêmica, nos últimos 36 anos, como professor universitário. E, em particular, nessa caminhada acadêmica, 28 anos foram em gestão universitária, em vários cargos, até chegar aos quase 19 anos como reitor. Depois de uma jornada assim, eu pensei que poderia dar uma outra contribuição. Não encerrar esse ciclo de vida definitivamente, mas redirecioná-lo para um outro modo, de contribuição social. Eu vinha conversando com muita gente dentro do próprio partido, mas também várias outras lideranças, até chegar ao momento em que apresentei meu nome para a chapa majoritária do governo de Goiás. Então prosseguimos em um processo gradual de maturação. Isso foi proposto há 12 anos atrás.E como foi a filiação ao PT?A minha filiação formal ao PT se deu em 2009, quando eu estava na Prefeitura de Goiânia, despachando uma intensa agenda com o então prefeito Iris Rezende (MDB) e Paulo Garcia (PT) (na época, vice-prefeito). E então o prefeito disse “está na hora do senhor começar na política”. E eu disse “como entrar na política se nem filiação partidária eu tenho?”. Ele disse “então está na hora”. Aí eu olhei para os dois, e perguntei “qual partido?”. E ele disse “quem (você) escolher estará bem”. E aí o Paulo me disse “depois conversamos”. Foi então que ele sugeriu “faz a filiação no Partido dos Trabalhadores, pelo seu perfil, sua biografia, ela corresponde mais a um partido progressista, um partido de esquerda, voltado para programas sociais”. E então eu me filiei. Depois a universidade se tornou PUC Goiás e eu fiquei mais alguns mandatos. E agora me apresento ao partido com essa história de liderança popular e pastoral. E, portanto, estou à disposição do partido para esse projeto no país e em Goiás.O PT em Goiás tem tido uma cautela ao falar em candidato ao governo de Goiás porque também trabalha com a possibilidade de uma aliança. Como alguém que já se colocou à disposição para a disputa, o que acha disso?Primeiro que estou acompanhando todos os diálogos do partido. O meu nome não é apresentado fora desse contexto, mas nele. Nós estamos atentos a três aspectos das eleições de 2022. O primeiro é o governo federal. Queremos eleger Lula presidente do Brasil. Isso é unanimidade. (O entendimento é que) a sociedade vai chegando a tempos mais maduros, a um sentimento de interpretação do que aconteceu (no país nos últimos anos), que a poeira baixou e que agora, portanto, é o momento de recolocar as coisas nacionalmente. O segundo ponto é a formação das bancadas federal e estadual. E isso pensando em candidatos que sejam do próprio partido, mas também em outras lideranças com o partido. Como por exemplo o que disse o deputado Rubens Otoni (PT) sobre federalizar, em algo análogo às coligações. O terceiro aspecto é quanto à chapa majoritária, ao governo estadual. Nesse ponto, estamos conversando com lideranças de outros partidos, buscando alianças. Ponto. E eu constatei que o maior partido de Goiás hoje é o partido do “esperando”. Alguns dizem “eu serei candidato, mas estou esperando”. Nós perguntamos “será candidato por qual partido?”. “Ah, estou esperando”. Então esse é um verbo usado de modo muito recorrente aqui e acolá. E o partido tem nome, tem gente qualificada, tem parlamentares, lideranças populares, intelectuais, empresários. Então é claro que podemos compor um bloco com nomes de outros partidos, mas não é por falta de nomes próprios.E quem o PT teria condição de apoiar hoje se não tiver candidatura própria?A primeira condição para fazer aliança é assegurar um palanque para o projeto nacional. Então com quem estiver disposto a apoiar um projeto nacional de que o PT assuma a Presidência da República, na pessoa do Lula, nós faremos aliança.Como o senhor avalia as chances do PT em Goiás, considerando que o estado tem um histórico conservador em suas escolhas eleitorais?A probabilidade objetiva é o que aparece nas pesquisas por estado: em Goiás, Lula ganha. E é um estado que quatro anos atrás votou majoritariamente em Bolsonaro e que mudou a posição, o modo de interpretar. Como eu disse, são efeitos maduros da política. Ou seja, a população começou a avaliar os comportamentos da ultradireita, que age com autoritarismo, com truculência, com a capacidade de separar famílias, gerar conflitos, criar polêmicas de cunho negacionistas, fazer chacota da ciência, desprezar vacinas. Essas coisas quase infantis prejudicam a própria direita. Nós também pensamos que esta onda de decepção, que é nacional, já chegou ao estado e deve mudar sua visão sobre o governo estadual. Porque será muito bom se o governo do estado for do mesmo partido, ou pelo menos do mesmo bloco partidário, que o governo federal. E é claro que nós faremos muito pelo desenvolvimento social, econômico e ambiental, como foi feito nos governos passados, se houver uma coincidência entre o governo de Goiás e o governo federal a partir de 2023. Ainda há outra percepção aditiva, além das pesquisas, que é a população não ver melhora no preço do gás, da gasolina, da moradia, do desemprego, da defasagem de escolaridade, das consequências da pandemia em suas vidas, da quebradeira que aconteceu para pequena e média empresa, que foram impactados por essa crise econômica e também do impasse sanitário que nós vivenciamos. Nós também temos um quadro ambiental muito dramático aqui no Cerrado. A cada ano se ateia mais fogo, e tem que ter uma ação programática para conter essa devastação. Precisará surgir um governo que se proponha a um desmatamento zero. Além disso, somos conhecidos como um estado exportador de comida, de soja e de carne. Mas a carne é exportada para europeus e asiáticos, e os ossos ficam para os goianos. Realmente isso é imoral, um atentado à vida. Nós queremos colocar, portanto, a dimensão social, não apenas como um braço do governo, como em uma secretaria ou na função da primeira dama – o que também é bom que se tenha, mas isso é pouco. Os pobres, os problemas sociais e ambientais devem estar no coração do governo.E nessa perda de apoio goiano a Bolsonaro há espaço para Lula? Lula já tem espaço no coração e na cabeça das pessoas. Agora, o que nós precisamos é que o projeto partidário seja mais compartilhado. Queremos um país que de fato seja um país de todos. É isso que nós defendemos. O senhor comentou em uma outra resposta a fala do deputado Rubens Otoni, em relação às federações partidárias. O que o senhor acha dessa possibilidade? Os partidos de esquerda estão preparados para se unir em uma aliança de quatro anos?A minha avaliação é completamente favorável sobre isso. As federações criam um bloco partidário. Isso ajuda para a governabilidade e, ao meu ver, ajudará para o desenvolvimento do país. Então superar essa ideia de Centrão e criar esses blocos, desde que haja uma fidelidade. Quatro anos (duração mínima de uma federação) é um tempo de mandato de um presidente. Então as pessoas continuam no seu partido, mas dentro de um bloco que dá estabilidade ao governo e sem troca-troca no Congresso Nacional. Em relação a essas alianças, saiu uma matéria na Folha de São Paulo falando dessa possibilidade do Geraldo Alckmin ser o vice de Lula no ano que vem. E tem essa conversa do Alckmin se filiar ao PSB. Um partido que, na possibilidade dessa aliança, já pede para encabeçar algumas chapas estaduais. Eles não chegam a falar de Goiás, mas como o senhor vê essa possibilidade?São várias possibilidades. Então temos que aguardar o desfecho da decisão nacional do partido para ver a forma com que podemos dar o passo seguinte também aqui no estado.E o senhor, pessoalmente, se não for candidato ao governo pelo PT, pretende buscar outro cargo? Talvez como deputado federal?Por enquanto, veja bem, para deputado federal ou estadual, eu não estou disposto. Minha disposição ao partido, nesta fase da vida, é para a chapa majoritária. É assim que me coloco nesse instante. Mas me coloco à disposição do partido, claro, para ajudar nas candidaturas de deputados estaduais, federais, e colaborar no governo federal, colaborar no município de Goiânia mais para frente. Posto que há uma caminhada longa, uma jornada longa por ser feita. Mas nesse instante digo que não há dúvidas que realmente o nome está colocado para o governo do estado.O PT tem repetido muito que vai trabalhar com uma oposição ao governador Ronaldo Caiado na eleição do ano que vem. Qual vai ser o mote dessa campanha?Nós temos um modo de ser e de fazer diferente daquele do governo Caiado. Então não vamos ficar gastando tempo das pessoas para falar bem ou mal desse governo. Nós queremos apresentar o nosso projeto governamental, o nosso jeito de ser, o nosso corpo de valores, nossa caminhada histórica, o que já foi feito de bom para o país. E não temos disposição de ficar falando da atual gestão. Que ele possa fazer o melhor governo. O que pedimos é a credibilidade e a confiabilidade da sociedade para olhar e ouvir esse projeto que queremos apresentar. Queremos mostrar isso no campo democrático para a sociedade escolher. Não será Caiado, nem o grupo dele, que irá escolher, nessa história de que já está ganho.