As mudanças promovidas nesta segunda-feira (1º) pelo prefeito Rogério Cruz (Republicanos) esvaziaram ainda mais a influência do presidente do Republicanos do Distrito Federal, Wanderley Tavares, na administração de Goiânia. Foram anunciadas no Diário Oficial do Município (DOM) a saída de Eduardo Merlin do comando da Secretaria Municipal de Administração (Semad) e a transferência do controle de duas câmaras deliberativas para a Secretaria Municipal de Finanças (Sefin).Os aliados indicados por Wanderley, conhecidos como o “grupo de Brasília”, tinham o controle sobre a Câmara de Acompanhamento de Despesas com Pessoal (Cadepe), a de Despesas com Custeio Administrativo (Cadeca) e o Programa de Governança de Organização do Desenvolvimento Integrado (Progovi). As três câmaras foram criadas no final de março de 2021, quando o grupo “se instalou” no Paço municipal.O Cadepe sempre teve como presidente o titular da Semad. Já a Cadeca e o Progovi estavam com Arthur Bernardes, que chegou ao Paço por indicação de Wanderley em 16 de março de 2021 primeiro como titular da Secretaria Municipal de Governo (Segov) e depois como chefe do Escritório de Prioridades Estratégicas (EPE). Quando Bernardes mudou de pasta, em fevereiro deste ano, o controle sobre as duas câmaras também foi transferido.Quando foram instituídas, cada uma das três câmaras tinha cinco titulares, dos quais três eram representantes do grupo de Brasília. Agora, com as mudanças, nenhum.A Cadepe e a Cadeca são responsáveis por dar ou não aval para qualquer alteração nos gastos com pessoal ou custeio que fuja da programação financeira estabelecida pelo orçamento municipal, que exija transferência de recursos entre pastas distintas ou que cause impacto nos gastos públicos.Já o Progovi é responsável pelo fluxo de governança, com poder de priorizar e definir alocação de investimento, indiretamente controlar todos os principais projetos da prefeitura e garantir que os processos internos sigam o fluxo de governança proposto pela gestão.Conforme O POPULAR apurou, Merlin ficou sabendo da exoneração pelo titular da Secretaria Municipal de Governo (Segov), Michel Magul, e não pelo prefeito, na manhã de quinta-feira (28), quando foi chamado para uma conversa. Foi mais ou menos quando a Sefin foi informada que a presidência da Cadeca e do Progovi sairiam da EPE para a pasta de Finanças.Na semana passada teria havido uma articulação sem sucesso para a saída de Bernardes da chefia da EPE e definiu-se, então, pelo esvaziamento da sua pasta. Ele já foi considerado braço direito do prefeito na gestão, mas foi perdendo força após atritos com vereadores e o forte desgaste causado pela aprovação da reforma do Código Tributário Municipal (CTM).No lugar de Merlin, foi nomeado Denes Pereira, presidente do PRTB goiano. Antes de ir para o executivo municipal, Denes estava no comando da Indústria Química do Estado de Goiás (Iquego), laboratório farmacêutico pertencente ao governo estadual.Outras perdasNo final de março, o grupo de Tavares perdeu o comando da pasta de Finanças, que estava com Geraldo Lourenço desde 16 de abril de 2021 e sempre teve forte influência de Bernardes, que costumava aparecer nas coletivas à imprensa quando o assunto envolvia a Sefin.No começo de julho, o prefeito exonerou outra indicação do presidente do Republicanos no DF, o titular da Secretaria Municipal de Inovação, Ciência e Tecnologia (Sictec), André Rodrigues Martins, que também entrou em abril do ano passado.A Sictec cuida de projetos que envolvem grande volume de recursos e são considerados cruciais para a gestão municipal, como a modernização do sistema de informática para dar celeridade aos processos internos.A reportagem tentou contatar Bernardes e Denes, sem sucesso. Até o fechamento desta reportagem, eles não retornaram aos recados deixados em seus aplicativos de mensagem.A Prefeitura de Goiânia afirmou que não se pronunciaria sobre as mudanças.Mudança de secretário já é a 48ª na atual administração municipalA posse do presidente goiano do PRTB, Denes Pereira, como titular da Secretaria Municipal de Administração (Semad) representa a 48ª troca efetuada pelo prefeito Rogério Cruz (Republicanos) no primeiro escalão desde que tomou posse, em janeiro do ano passado, há 19 meses. O executivo argumenta que o novo titular é presidente goiano de um partido com quatro representantes na Câmara Municipal e com forte ligação no governo estadual, fortalecendo a ligação entre Paço e Estado.Levantamento feito pelo POPULAR mostra que apenas nove pastas nunca tiveram trocas no comando neste período e que quatro já passaram por três mudanças - uma média de um secretário a cada cinco meses.Boa parte das mudanças envolve ajustes para a entrada ou saída de pessoas ligadas ao presidente da regional do Republicanos no DF, Wanderley Tavares. As primeiras entre março e abril do ano passado, quando o grupo chegou. Em outubro, eles avançaram sobre a Semad, colocando Eduardo Merlin, que era o secretário-executivo, no lugar de Fabiano Bissoto, ligado ao Republicanos goiano.A crise com o desgaste pela aprovação do Código Tributário Municipal (CTM), que resultou em aumentos no IPTU mal recebidos pela população, provocou uma série de mudanças, que afetou desde a pasta da Comunicação (Secom), com a saída de Marcos Teixeira, até o grupo de Brasília, que deixou o comando da Secretaria Municipal de Finanças (Sefin) e do Governo (Segov) entre fevereiro e março.Algumas mudanças tiveram a ver com crises que o Paço tentou administrar, como a que afetou o Instituto Municipal de Assistência à Saúde dos Servidores de Goiânia (Imas). O plano de saúde do funcionalismo municipal passa por problemas financeiros graves e teve de lidar com uma série de paralisações no atendimento entre o final do ano passado e o começo deste. Foram quatro titulares até alcançar uma aparente tranquilidade na administração com a troca mais recente, em abril.Pelo menos duas vagas que já foram consideradas de primeiro escalão pela atual gestão estão vagas. No começo de abril, o ex-vereador Felisberto Tavares deixou o comando da Secretaria Executiva para Assuntos Comunitários.E desde abril de 2021, quando o MDB ligado a Daniel Vilela rompeu com Rogério Cruz, uma secretaria extraordinária ocupada por Leandro Vilela nunca foi novamente preenchida após a saída deste e nem há informação se o cargo foi extinto pela administração.Ex-titular da Semad diz que saída foi com “muito respeito”Exonerado da Secretaria Municipal de Administração (Semad), Eduardo Merlin diz que o anúncio foi feito a ele com “muito respeito” e que deixa o cargo com o sentimento de missão cumprida. Merlin assumiu o lugar de Fabiano Bissoto quando este resistiu a atender solicitações feitas por Wanderley Tavares.Ao POPULAR, Merlin disse que não houve nenhum fato externo que teria causado sua saída. “São decisões de gestão. Fui comunicado com muito respeito, foi tranquilo”, afirmou.Nos menos de 10 meses que ficou no cargo, ele destaca o trabalho feito de modernização no sistema de gestão, dizendo que assumiu uma estrutura “dos anos 90” e deixa tudo preparado para a mudança.Ele também diz que conseguiu solucionar o problema de atrasos nos pagamentos feitos pelo Paço por problemas no sistema ou de processo. “Hoje está tudo em dia.”Leia também:- Prefeitura de Goiânia troca comando de Secretaria de Administração- Rogério Cruz fez 44 trocas no 1º escalão da Prefeitura de Goiânia em 500 dias- Rogério Cruz: "Brasília nunca influenciou a gestão de Goiânia"-Imagem (Image_1.2501894)-Imagem (1.2501897)