Apesar de as mulheres terem potencial para depositar mais da metade dos votos nas urnas eletrônicas (representam 53% do eleitorado goiano e do brasileiro, segundo o Tribunal Superior Eleitoral, TSE), a presença deste grupo nas chapas proporcionais na eleição deste ano em Goiás não segue, em geral, a mesma lógica.As mulheres continuam sendo minoria entre os nomes escolhidos para disputar a eleição. Além disso, candidatas e especialistas afirmam que, mesmo com o nome aprovado, mulheres enfrentam o desafio de conseguir fazer campanha competitiva.Entre os 26 partidos que lançaram chapas para deputado estadual, 19 formaram lista em suas convenções com até 35% de mulheres. Os demais têm entre 36% e 43%. Na chapa de deputado federal, 12 têm até 35% de mulheres. Os outros partidos alcançaram porcentuais que variam entre 37% e 50%.Na disputa para a Câmara dos Deputados, MDB, Republicanos e PCB aprovaram chapas em que metade dos candidatos são mulheres. No caso do último, a lista tem apenas duas pessoas. Os partidos podem registrar chapas com até 42 nomes para deputado estadual e 18 para federal.Os dados são de levantamento feito pelo POPULAR com base nas atas das convenções dos partidos registradas no TSE até o dia 11 de agosto. As siglas podem fazer mudanças até 20 dias antes da eleição. Em caso de falecimento do candidato, a substituição pode ocorrer após este prazo.A legislação eleitoral estabelece cota de gênero de 30% para que partidos registrem as listas de candidatos a deputado (a regra também vale para eleição de vereador). Como historicamente a participação feminina é menor, a regra ficou conhecida como “cota de mulheres”.As atas das convenções do PDT e do Avante mostraram porcentual de 25% e 28%, respectivamente, nas chapas para deputado estadual. George Morais, presidente do PDT, e Thialu Guiotti, presidente do Avante no estado, argumentaram que ocorreram mudanças na lista após a convenção e que o registro oficial de candidatura terá 30% ou mais de mulheres nas chapas.DinheiroA lei também determina que 30% da verba do Fundo Eleitoral seja destinado a candidaturas de mulheres. No entanto, os partidos podem privilegiar projetos específicos e deixar outras candidatas com pouco recurso ou nada.“Isso não é, de fato, estimular a participação de mulheres em uma seara competitiva”, afirma a advogada especialista em direito eleitoral Nara Bueno. “As discussões atuais a respeito de mulheres concorrendo a cargos eletivos é mais necessária do que nunca. Dados estatísticos mostram que as mulheres são maioria do eleitorado e da população. Então, se não estamos vendo essas estatísticas demográficas refletidas nas candidaturas, algo está muito errado”, diz Nara.Presidente da Comissão de Direito Político e Eleitoral da Ordem dos Advogados do Brasil em Goiás (OAB-GO), Marina Morais explica que há relação direta entre a aplicação de recursos e o sucesso de projetos políticos. “Comprovadamente na Ciência Política, recursos financeiros e tempo de televisão são fatores decisivos para a eleição. Existe índice de correlação alto entre eleitos e investimentos. Quando tiramos esses insumos materiais, essas candidaturas se tornam menos viáveis”, explica Marina.Projetos Rosilene Rodrigues (PSDB) vai disputar sua primeira eleição neste ano como candidata a deputada estadual e destaca a necessidade de aumentar a representação de mulheres nas casas legislativas. “Se eu não entro na política, fico esperando outras pessoas tomarem decisões por mim. Eu quero tomar as decisões”, afirma.Lilia Monteiro (Rede) é candidata a deputada federal pela segunda vez e avalia que dificuldades culturais e financeiras são as principais responsáveis por afastar as mulheres da política. “A mulher se integra, ela ousa, é mais corajosa, quer fazer uma campanha de forma completa. O contexto social dificulta bastante. No caso de mães de família, com crianças pequenas, tem engajamento, mas não tem possibilidade de estar integralmente em uma campanha”, afirma.Um dos nomes na candidatura coletiva Dias Mulheres Virão, Daniela Dias (PSOL) afirma que ela, Thaís Elizabeth e Stefani Amancio decidiram lançar o projeto juntas com o objetivo de mostrar que mulheres, independente das funções que ocupam na vida profissional e pessoal, podem enfrentar desafios e participar da política.“Sabemos que não é fácil. A maioria dos eleitores é mulher e a maioria dos eleitos é homem. Existem mais mulheres votando em homens para decidir o que é melhor para a gente. Não quero isso”, diz Daniela.O resultado das últimas eleições confirmam o cenário citado pela candidata. A Assembleia Legislativa de Goiás tem atualmente apenas duas deputadas. Nenhuma delas faz parte da mesa diretora da Casa. Na eleição de 2018, Goiás também elegeu apenas duas mulheres para a Câmara dos Deputados.Partidos de esquerda também enfrentam dificuldadeA campanha majoritária em Goiás terá presença predominante de homens. Existem nove candidaturas ao governo lançadas e apenas duas delas são de mulheres, Cíntia Dias (PSOL) e Helga Martins (PCB). Na chapa de Vitor Hugo (PL), a vice ficou com uma mulher, Keila Borges (PL). O candidato declarou, desde a pré-campanha, a vontade de ter uma mulher evangélica no posto. Não há regra de cota de gênero dentro das chapas majoritárias.Mesmo em partidos com mulheres no comando, como PSOL e PT, as dirigentes afirmam que houve dificuldade na formação de chapa proporcional e a paridade não foi alcançada. Na federação PSOL/Rede, as chapas para deputado estadual e federal têm, de acordo com a ata da convenção, 36% e 44% de mulheres, respectivamente. Cíntia afirma que a federação trouxe dificuldade para o grupo conseguir igualdade na chapa. “Não estamos nem um pouco orgulhosos, mas não depende dos nossos esforços”, disse.No PT, a presidente estadual Kátia Maria afirma que mesmo com incentivo para a participação, conseguir pelo menos 50% de mulheres é um desafio. A federação PT/PCdoB/PV registrou ata com 34% de mulheres candidatas a deputada estadual e 44% na chapa para federal.Leia também:- Divulgar número antes da hora pode render ação- Fabiana e Cileide estreiam podcast sobre eleições-Carta pela democracia é lida em conjunto por três mulheres e um homem