Ao refutar as críticas de que apenas trocou nomes de obras e programas das gestões anteriores, do PSDB, o governador Ronaldo Caiado (União Brasil) afirma que tem mudado “conceitos” em seu governo. Ainda focado no discurso de combate à corrupção e de superação de dificuldades financeiras, Caiado afirma que “não é que queira falar do passado, mas da realidade”.Em entrevistas ao POPULAR e à CBN Goiânia nesta segunda-feira (14), o governador disse não ter recursos para instalar câmeras em fardas de policiais, falou da possibilidade de acertar data-base com o funcionalismo e fez alerta sobre o baixo porcentual de vacinação infantil.Seu discurso segue muito focado em corrupção e dificuldades financeiras, temas fortes da campanha de 2018. A eleição deste ano será diferente daquela e provavelmente novos candidatos para enfrentá-lo. Não acha que a população espera novas pautas, que tem outras demandas, e esses temas não estarão superados?Corrupção não é um tema que será superado em momento algum. Não há gestão se não houver boa transparência no gasto público. Ela é condicionante à boa gestão. O tema será outro mesmo porque Goiás não convive com isso mais. Você não me tem no Jornal Nacional, na Globo News, nas manchetes dos maiores jornais envolvido em corrupção, é lógico que o tema já não é prioritário. O que há este ano é o desafio da retomada. Eu fui o único Estado a criar a Secretaria da Retomada. Duvido que algum Estado tenha feito com tamanha precisão a obra do governo que foi entrar na casa das pessoas. Qual é a grande obra do meu governo? Entrar na casa das pessoas. Você não vai ver aeroporto de Anápolis na minha gestão. Aquilo era caixa de campanha, nunca foi aeroporto. O maior crime ambiental do mundo e até hoje nenhuma medida foi tomada. Você vai ver ações direcionadas, com base científica, com estudo. Tem nada de achismo. Alimentação de crianças, aluguel social, valor da água com subsídio a carentes, combustível congelado, incentivo contra evasão escolar, uniformes, saúde descentralizada, segurança pública. Cidadão hoje nem lembra mais o que era Goiânia de seis anos atrás. Da mesma forma da corrupção, manchetes eram problemas de segurança. É claro que no momento em que se resolve o problema, ele deixa de ser o mote da campanha, mas não é que não deva ser priorizado. Corrupção não vai ser o tema e segurança também não porque as pessoas vivem em um Estado em que respiram segurança.E qual vai ser o mote desta campanha? O mote é o cidadão, a pessoa física.Mas o que vai propor para pedir mais quatro anos de mandato? A continuidade?Você há de convir que, se houve recuperação do Estado do ponto de vista fiscal, combate à desigualdade e melhoria da qualidade de vida das pessoas, abrindo emprego e dando condições de renda, é o que as pessoas querem. Não se atinge isso com corrupção nem com má gestão. Então, hoje, modéstia à parte, somos o único Estado do País a fazer RRF. Isso é que é gestão.O sr. disse que as pessoas respiram segurança e hoje divulgará dados de queda de criminalidade. Porém, há sucessivos casos em investigação de mortes por policiais, excessos e desproporcionalidade em operações. Isso é menor?Tem de ser investigado. Excesso não se tem. Ninguém está acobertando excesso. O que queremos é que em Goiás o cidadão transite.Mas não acobertar significa se posicionar contra. O que tem sido feito?Está sendo levantado. A polícia tem seus protocolos nas operações e deve cumprir.Sim, e quando é descumprido?De acordo com o levantamento feito, eles vão fazendo esse levantamento.Há rigor?Lógico que tem rigor. Lógico. É uma instituição respeitada. Ela tem total independência para fazer isso.Então, a gestão não estimula nem respalda excessos em nome de uma redução de índices de criminalidade?Pelo contrário, a vida inteira eu pedi que, dentro dos protocolos existentes e dentro daquilo que é a prática das minhas forças de segurança, combatessem a criminalidade. É isso que tem resultado.O que acha da proposta de câmeras em fardas e viaturas?Olha, esse negócio é... Eu tenho de primeiro dar aos meus policiais gastos com condições de armamento, de qualificação para enfrentar bandido com ponto 50, para enfrentar bandido com a tecnologia máxima que estão tendo. Os gastos são limitados.Então não tem dinheiro para as câmeras?Infelizmente, não tem. Tenho de priorizar os gastos.Mas já houve aumento de gastos com armamento.Está longe de terminar. Estou substituindo ainda, em etapas, para dar aos meus policiais a qualificação que eles precisam.Mas isso não daria uma garantia maior de redução dos excessos? Isso ocorreu em São Paulo, inclusive.São Paulo? São Paulo não é referência de segurança.Mas houve redução, sim, de letalidade policial nos batalhões depois do uso de câmeras.São Paulo, não. São Paulo não é referência. São Paulo, Rio de Janeiro, não são referência de segurança. Goiás é que é referência.Então, é uma questão de dinheiro e não decisão política?Temos de ter condições. Eu não posso abrir mão daquilo que é fundamental para o meu policial, que não tem carro, não tem gasolina, não tem armamento, proteção de colete mais sofisticado, à prova de bala, tudo isso. Tem de priorizar primeiro os meus policiais.E sobre a transparência dos dados de segurança pública, que até hoje não existe? Na última entrevista, o sr. disse que não tinha ordem para não divulgar, mas até hoje não há acesso aos dados completos. É hora de cobrar do secretário. Ele vai mostrar todos esses mapas. É uma obrigação dele responder a vocês. Ele é que é o secretário de segurança.No Plano de Recuperação Fiscal (PRF) não há muita clareza sobre a concessão de data-base para o funcionalismo. Vai ter?Não se tem data-base desde 2016. O teto de gastos também foi assinado em 2016 pelo ex-governador. Neste momento, o meu secretário de Governo já convidou os presidentes de sindicatos para discutir, mostrar a realidade do Estado, de forma transparente, para dizer os parâmetros que podemos atender. Não vamos fazer promessas para não cumprir depois.Por três anos de seu governo, não houve programas sociais. Houve as dificuldades financeiras, mas existe um recurso exclusivo para ações sociais, do fundo Protege, que sai dos incentivos fiscais das empresas e que seguiu tendo a mesma arrecadação. O que foi feito com esse dinheiro? O que justifica passar todo esse tempo sem programas e de repente criar vários?Não, não foram três anos sem programas. Houve repasses às prefeituras de assistência social, houve distribuição de mais de um milhão de cestas básicas, houve pagamento de todos os atrasados que herdei (mostra pasta com déficit detalhado por órgão no início de sua gestão). Os programas sociais foram sendo adequados de acordo com a minha capacidade de pagamento. Eu fiz um governo sem calote.O governo deixou de pagar dívidas com bancos, o que também não deixa de ser um calote.Isso não é calote, é renegociação de dívidas.As liminares do Supremo foram permitindo o não pagamento mesmo antes de qualquer renegociação.Sim, mas era não pagar para que tivéssemos condições de renegociar a dívida. Não é diferente dos outros Estados. Não é calote. E estou cumprindo exemplarmente todas as obrigações. O raciocínio tem de ser o de que o governador Ronaldo Caiado recebeu um paciente que ficou nas mãos de outro durante 20 anos, e entregou na UTI, em fase terminal. Graças a Deus, demos conta de ressuscitá-lo. Essa é que é a verdade. Dizem que quero falar do passado, mas quero falar é da realidade. Da herança que recebi e do que fizemos.A vacinação infantil em Goiás tem porcentual baixíssimo e só agora, um mês depois, o governo lança campanha, e não há tanto envolvimento do sr. como nos dois anos anteriores da pandemia do coronavírus. O sr. acha que é momento de não priorizar tanto?Pelo contrário, jamais deixei de priorizar este assunto, jamais deixei de debatê-lo. Mas é preciso entender uma situação totalmente diferente. Uma coisa é cuidar de vacinação de adultos, outra é da criança. Cabe a nós estimularmos, mas você não tem o direito, como governador e médico que sou, de interferir na intimidade dos pais. Eu tento conscientizar os pais para que as crianças sejam vacinadas, mas é algo que é diferente do adulto. A criança não decide por si, precisa da concordância dos pais. Houve proposta de levar a vacinação para dentro das escolas, envolver professores, estimular as crianças. Eu disse “não”. Porque amanhã eu posso estar avançando, extrapolando aquilo que é prerrogativa dos pais.Mas sempre houve vacinação em escolas, contra outras doenças.Sim, mas você tem de entender que nesta situação específica da Covid, ela tomou este lado. Então nessa situação, você tem de ter também o seu limite. Não pode extrapolar o limite. Não posso invadir a decisão dos pais. Então, são situações mais delicadas. Agora, nós estamos com a campanha, trabalhando. Se a campanha só veio ao ar hoje é porque você sabe que reduzimos verba para publicidade. Foi o governo que menos gastou com publicidade na história de Goiás. Não há nada comparado. Temos valores irrisórios. Mas não podemos tratar a vacinação de crianças como a de adultos.O que diz aos pais que estão inseguros de vacinar os filhos?Tenho pedido que leiam bastante, que se conscientizem. Há todo um trabalho científico que mostra hoje cada vez mais a importância da vacinação das crianças para que não sejam reservatório do desenvolvimento das novas mutações da ômicron e tenham capacidade de disseminar o vírus a pessoas mais vulneráveis. Nós já temos 308 óbitos de crianças no Brasil. Se não tivermos a vacinação elevada, podemos aumentar mais 500 óbitos ainda nos próximos meses. E ainda há contatos com adultos que, mesmo vacinados, tenham quadro de problemas respiratórios. Mesmo que a criança tenha forma frusta do vírus, ela pode ser reservatório de mutações da ômicron. A ômicron supera as outras variantes da Covid-19 pela rapidez de disseminação e variação. Se não houver vacinação, vamos viver esse problema intermitente.Acha que precisaremos de 4ª dose?Teremos de ver o período de imunização que vamos ter nas pessoas. Pode ser anual ou semestral ou outro. É uma análise mais do nosso pessoal da pesquisa.Mas do restante das medidas de enfrentamento ao coronavírus, o sr. acha que já é momento de não preocupar tanto?Acho que é momento de estar atento e priorizando a vacinação. Se estivermos vacinados e se vacinarmos as crianças, vamos minimizar e muito a doença e vamos diminuir o porcentual de óbitos em crianças e de internações.O ex-governador Marconi Perillo voltou a acusá-lo na semana passada de apenas trocar nomes de obras e realizações dos governos tucanos, por ocasião da inauguração do Hospital da Criança e do Adolescente no lugar no Hospital do Servidor. Embora o governo diga que foram obras inacabadas, são de fato estruturas que estão sendo aproveitadas. Como responde a isso?Tenho 3 anos, 1 mês e 14 dias de governo. Ele teve 16 anos de governo. Por que não inaugurou nenhuma obra de saúde funcionando completamente? Crer e Hugol, na capital, em 20 anos.Mas houve outras estruturas também na capital e no interior feitas por ele. O Hospital do Servidor foi entregue faltando 20%.Então, mas por que inaugurou sem estar pronto e funcionando? Não existia gestão na saúde. A obra em si é irrelevante. Para se ter uma ideia, o hospital do Ipasgo me custou R$ 128 milhões. O custeio é de R$ 10 milhões por mês. Em 12 meses eu pago o valor dele.O sr. quer dizer que a obra física é o menos importante?Por que ele (Marconi) nunca quis inaugurar nada funcionando? Por que o hospital de Águas Lindas estava desde 2013 nas mãos dele?Que ainda não foi concluído também, mesmo prometido desde o início de seu governo.Mas é lógico, depois de tanta corrupção e desvio de dinheiro, até consertar isso e fazer nova licitação foi um parto.Mas o sr. fala de corrupção e nada ainda foi provado contra ele. Teve um monte de investigação inclusive da Polícia Civil e nunca se chega a nada.Isso é com a Justiça, a Polícia Federal. O trâmite deles tem um tempo certo. Não cabe a mim discutir isso. Mas por que Santo Antônio do Descoberto ficou na mão dele desde 2008 (governo ainda de Alcides Rodrigues) e não resolveu? Por que o de Uruaçu, inaugurado duas vezes, nunca teve atendimento? Por que as policlínicas nunca saíram de algumas paredes? Uruaçu nos custa em torno de R$ 15 milhões por mês, além de R$ 70 milhões para terminar. O total da obra foi R$ 150 milhões. Eu pago em dez meses de custeio. E assim os demais. Como explicam os hospitais de grandes cidades do interior sem leitos de UTI depois de 20 anos? Você não pode querer comparar 3 anos com 20 anos. Como eu iria regionalizar a saúde? Começar um hospital novo ao lado daqueles inacabados? Para regularizar e botar pra funcionar que é difícil. Nunca quiseram ter este custo. Fazia parte da obra, fazia show sertanejo, inaugurava a obra e largava sem nunca atender um paciente. Como um cidadão desse pode dizer que isso é espólio dele?Mas houve mudança de nomes também em outras áreas, como programas sociais?O Mães de Goiás é específico, tem objetivo científico de alimentar crianças de 0 a 6 anos, quando tem desenvolvimento neurocognitivo. Nunca vi um programa dele nesse sentido. O universitário, eu vou pagar a última parcela em dezembro de 2022, em total de R$ 70 milhões.Mas mudou o nome também.Não, eu pago em dia e o valor é maior. A bolsa total na Medicina é mais de R$ 5,5 mil. E não recebe seis meses depois. A Bolsa Esporte a gente paga o ano inteiro, não só seis meses. Não é questão de mudar nome, mas de mudar conceito. Estamos mudando conceito. Criamos a bolsa para estudantes do ensino médio de R$ 100, com objetivo de alavancar a educação.Mas ele é provisório.Não, é política continuada.Vai continuar? Porque a lei prevê até 2023.Vai continuar. Qual programa ele teve de aluguel social? Atrasavam repasses aos municípios para saúde. Isso é calote. Um governo como esse não pode ser tido como referência. O caso da UEG, era um escândalo. Três ex-reitores foram para a cadeia (na verdade, nenhum foi preso, mas alvos de investigações, e, dois deles condenados). Eu tirei das páginas policiais e coloquei nas páginas acadêmicas. Fortalecemos e demos autonomia.Sobre apurações de suspeitas de corrupção e irregularidades no seu governo, as providências são rigorosas? Tivemos recentemente a demissão de uma diretora da Saneago por conta da investigação de um contrato pelo MP-GO. Houve também outras investigações, no Detran, na Educação. Como o sr. lida com essas investigações?Imediatamente. Eu sou o primeiro a agir. Afasto o servidor e determino que seja feita a apuração. Agora, não sou o Poder Judiciário nem o Ministério Público.Afasta apenas o servidor diretamente envolvido, e isso não inclui a cúpula da pasta?Atinjo onde é a responsabilidade. Eu não posso fazer um julgamento extensivo sem prova. Eu sou muito de ir bem no ponto. Também não quero mutilar a credibilidade moral de ninguém. Conforme os fatos que me trazem, eu não faço prejulgamento. Eu digo: “Como existe essa suspeita em relação a você, você está afastada e vai ser levantado o seu caso; se não tiver prova, tudo bem”. Mas eu afasto imediato. Aí eu sou da conduta do Itamar Franco. Ele tinha essa característica. Tinha pessoa da total confiança dele que foi denunciado. Ele disse: “Vá lá, faça sua defesa, se não tiver nada, você volta para o governo”. E assim aconteceu.Sobre a criação do União Brasil, o deputado Waldir Soares disse que a tendência é que em Goiás não haja palanque único para um candidato a presidente da República, como em 2018. Vai ser assim?Eu tenho carinho pelo delegado Waldir, reconheço o trabalho dele em favor do União Brasil. Mas este assunto tem de ser decidido em momento certo. Nós tivemos sensibilidade de criar um partido novo, superando vaidades pessoais. A segunda etapa é trabalhar fortemente pela federação com o MDB. Construiremos o maior bloco político já visto no País. Decisão de palanque de presidente vem dentro de entendimentos com toda esse grupo. Será decisão no momento certo, que é de 20 de julho a 5 de agosto (convenções). Não podemos passar o carro na frente dos bois.O sr. republicou um post feito pelo União Brasil no fim de semana, com entrevista de 1986, quando o sr. disse que era contra extremos. Isso é um sinal de distanciamento do presidente Bolsonaro? Houve também outros gestos de sua parte. O sr. acha melhor não apoiá-lo?Não, pelo contrário. Se você analisar minha vida toda não tem nenhum discurso que seja discordante do que falei naquela entrevista. Mas ali não fiz juízo de valor de A ou de B. Sempre defendi diálogo, entendimento, regras democráticas. São as minhas convicções, não uma posição contra um governante ou qualquer um.O presidente Bolsonaro não representa um extremo?Eu não posso fazer esse parâmetro. Caberia a ele responder.O presidente Bolsonaro tem discutido as possibilidades de apoiar as candidaturas do deputado federal Vitor Hugo ou o prefeito de Aparecida de Goiânia, Gustavo Mendanha, em Goiás. Isso o preocupa? Como vê essas articulações?Não está na minha alçada. Como eu vou interferir em algo fora da minha alçada?Mas o sr. trabalha também para ter apoio dele ou não?Acho que esses assuntos vão ser tratados não pelo Ronaldo Caiado, mas pelo maior partido do País, que está fazendo uma federação com outro grande partido (MDB), e que será a maior força política do País. Esse assunto não vai ser tratado por um membro, mas por convenção. Eu vou ser ouvido, entre 20 de julho e 5 de agosto.O sr. chegou a defender apoio a Sergio Moro?Não. Sou muito claro nas minhas coisas. Se isso existisse, teria feito isso publicamente.Quando deixarão os cargos os secretários que disputarão as eleições?Eu vou respeitar todas as regras do Tribunal Superior Eleitoral. Os prazos estipulados serão seguidos. A minha preocupação é de exigir deles o máximo de eficiência, trabalho, respostas, em especial nas parceria com os prefeitos. A desincompatibilização será em 2 de abril.Muitos deputados, inclusive o presidente da Assembleia, estavam pressionando para que saíssem antes. Isso já está pacificado?Está pacificado. Não haverá problema algum.-Imagem (Image_1.2402936)