A igreja perseguida foi tema de duas pregações feitas durante o culto desta quinta-feira (23) na Assembleia de Deus Ministério Cristo para Todos, localizada no Jardim América, em Goiânia. O líder da igreja, pastor Gilmar Santos, citado como figura central no suposto gabinete paralelo do Ministério da Educação (MEC), não estava presente, e os fiéis preferiam evitar o assunto, apesar de constantemente mencionarem que estavam em "guerra".No parapeito da parte onde fica a equipe de som e transmissão do culto para as redes sociais, a mensagem: "Nossa missão: transformar as pessoas que não conhecem a Cristo em verdadeiros discípulos". O templo cheio de lugares era ocupado por menos de 20 pessoas. Entre elas alguns jornalistas que tentavam capturar algo daquela cerimônia realizada na igreja, cujo líder é o principal assunto político dos últimos dias.Toda quinta-feira é realizado o culto dos milagres, que o ministro que iniciou o culto também chamou de dia de cura e libertação. Trata-se de um dia em que menos pessoas vão ao templo e geralmente quem vai são os membros da igreja. Segundo a pastora Cristina Borges, faz pouco mais de um mês que a igreja iniciou essa agenda nas quintas-feiras, então é comum que vá pouca gente. A presença de seis visitantes, portanto, foi percebida com desconfiança pelos membros.O rito foi aquele comum de igrejas evangélicas, quando há uma intercalação entre hinos e palavras inspiradas em trechos bíblicos. Em certo momento, uma mulher chamada Miriam foi chamada para cantar e, antes de iniciar a canção, falou: "Nós estamos em guerra, e o senhor está pelejando por nós nesta noite."Depois foi a vez da pastora Cristina Borges falar. Ela leu um trecho do livro de Mateus, da bíblia, que fala do "fim dos tempos". Cristina fez um gancho com a narrativa de que a "igreja seria perseguida". "(A igreja) passará por guerras, acusações, críticas. Eu estou em paz porque sei o que meu Deus deixou para nós. Eu sei que aqui tem um povo valente que não se entrega. E o senhor disse que não se agrada de covardes. Eu sei que Deus está conosco até o fim. A palavra é viva. Não temos que temer ou retroceder diante de ataques de inimigos. Esse é só o princípio, vai vir muito mais. O inimigo está se preparando para parar a igreja, mas aqui tem soldados valentes", bradou.Após mais um momento de louvor, o pastor Iris Borges leu um trecho do livro Atos, em que é contada a história dos discípulos de Jesus que foram perseguidos e presos pelo rei Herodes por sua fé. "Não é diferente hoje", disse, tentando fazer uma alusão do que conta a história bíblica com o momento que a igreja vive. A pregação foi disponibilizada pelo youtube: Veja aqui!Entenda o casoGilmar, que está à frente da igreja de Goiânia, mas não estava no culto, é apontado como líder de um grupo sem ligação com a administração pública ou com o setor de ensino, que tem atuado no Ministério da Educação, com o ministro Milton Ribeiro, prioridades da pasta e o uso de recursos destinados à educação. A primeira divulgação do caso foi feita pelo jornal Estado de São Paulo. O pastor também é presidente da Convenção Nacional de Igrejas e Ministros das Assembleias de Deus no Brasil e é alvo de denúncias de prefeitos, que dizem terem sido abordados por ele com pedidos de propina para conseguir verbas para escolas em suas respectivas cidades. O prefeito de Bonfinópolis, Kelton Pinheiro (Cidadania), foi um dos que relatou ao POPULAR o pedido de propina feito por Arilton Moura, assessor de Gilmar, no valor de R$ 15 mil.Na igreja, apesar de se mostrarem receptivos aos visitantes da noite de quinta-feira, os fiéis não estavam dispostos a conversar com os jornalistas. Mesmo que o clima de desconfiança fosse visível, a pastora Cristina Borges disse à reportagem que o caso não fez mudar nada na vida dos membros e na rotina do templo. Ela afirma que a nota, divulgada por Gilmar na manhã do mesmo dia, já diz tudo que precisava ser dito. Em comunicado divulgado nas redes sociais, o pastor negou a participação no gabinete paralelo, e chamou as acusações de levianas. Antes que Cristina pudesse responder a mais perguntas, foi puxada para uma roda de oração, iniciada depois do fim do culto, com o objetivo de blindar os fiéis de falar com jornalistas.Não houve mais quem quisesse falar a partir de então. O POPULAR tentou abordar outros fiéis, que resistiram. O pastor Iris reforçou que não podiam dar nenhuma declaração sobre o caso.Leia também: Pastor de Goiânia nega participação em gabinete paralelo no MEC: 'acusação leviana'Prefeito de Bonfinópolis diz que pastor pediu R$ 15 mil por ajuda no MECPastor de Goiânia envolvido em polêmica no MEC publica vídeo com mensagem a fiéisPastor influente no MEC tem relações políticas em GoiásBolsonaro só pediu que indicados de pastores fossem recebidos, diz Milton Ribeiro Ver essa foto no Instagram Uma publicação compartilhada por Pastor Gilmar Santos (@pastorgilmarsantos)-Imagem (1.2426209)