A Câmara de Goiânia está presa em uma rede de problemas, tecida tanto internamente pelos próprios vereadores, quanto na prefeitura de Goiânia. A ação judicial apresentada ao Supremo Tribunal Federal (STF) pelo diretório nacional do Pros, contra a segunda reeleição seguida do presidente Romário Policarpo, tirou do eixo a base majoritária que sustenta a atual mesa diretora e o prefeito Rogério Cruz (Republicanos).Em entrevista ao Programa Chega pra Cá, com a jornalista Cileide Alves, o vereador e líder do prefeito, Anselmo Pereira (MDB), reafirma a importância de que o Paço “acelere” tanto nas suas articulações políticas quanto na execução de ações e obras na capital.O que a atual tem de diferente das legislaturas anteriores das quais o sr. participou?Essa 19ª é uma legislatura múltipla, aonde nós temos várias influências partidárias desta vez nós temos N partidos, mais do que nas outras, o que eu considero de certa forma até natural. Mas em compensação também nós temos possibilidades de mais e melhores reivindicações. Agora, tudo isso também traz algumas inquietações. Quando você tem muito partidos, você tem também uma série de influências diante do processo administrativo da cidade de Goiânia. Talvez essa seja a maior diferença. Nas outras nós tivemos, por exemplo, blocos. Vários partidos estavam agrupados em blocos, que funcionavam quase que de maneira homogênea com as suas ideias. Agora não. Agora são praticamente 35 vereadores com 35 ideias e temos poucas junções, conjugação de blocos ou de ideias. A maior bancada, ainda continua sendo a nossa, que é a do MDB, e temos outras, mas a própria bancada - e tiro pela minha - não está tendo uma coesão na discussão das ideias e dos projetos dentro da Câmara Municipal de Goiânia. Então nós estamos praticamente com 35 cabeças trabalhando cada uma de forma distinta e isso traz uma série de equações que são difíceis de você ir acertando.Uma diferença também clara além dessa de não haver blocos é o prefeito. Nas legislaturas anteriores a gente tinha um prefeito politicamente legítimo. Rogério Cruz chegou de forma traumática no comando da prefeitura. Ele é juridicamente legítimo, mas não tem a legitimidade política. Até que ponto esse fato contribui para que não haja blocos e que não se consiga fazer um bloco mais coeso dentro da Câmara?Você fez uma análise muito precisa. A chegada do nosso prefeito começou com problema de um caso fortuito onde nós perdemos o prefeito eleito. Ele também foi eleito, mas a impressão que a gente tem é que após a posse ele ainda ficou sobre a égide da figura do Maguito durante uns três ou quatro meses. Até que novamente teve um outro problema aonde todo mundo deixou a Prefeitura de Goiânia, uma série de secretários que estavam ligados a própria indicação do programa do governo do Maguito, terminou que refez novamente toda uma configuração. Tenho certeza que nesses próximos dois anos haverá, ao meu entender, um alinhamento muito maior da atual administração do Executivo com o Legislativo porque várias forças estão se sedimentando e não estão mais à deriva, inclusive de forças externas que poderiam estar influenciando dentro da administração da Prefeitura de Goiânia.O senhor está falando certamente do grupo de Brasília que participou do governo de Rogério Cruz até recentemente. Esse grupo indicou secretários, vários nomes no governo e agora esse grupo saiu. Quem vai fazer essa articulação agora? Sem o grupo de Brasília, quem será capaz de fazer essa articulação se o próprio Prefeito também não está fazendo ou se está fazendo não tá fazendo de forma seguida, com começo meio e fim. Ele ficou praticamente o mês de novembro quase todo fora de Goiânia. Quem vai fazer essa articulação?Ao sair parte ou quase toda a influência de Brasília, você sabe que os espaços são ocupados. O prefeito de Goiânia, de forma inteligente, se aproximou muito do Governo do Estado. Hoje a Prefeitura de Goiânia e o Governo do Estado, através do governador Ronaldo Caiado, tem feito grandes parcerias administrativas, logísticas e até mesmo de ações políticas, em conjunto. Ao sair esse espaço de Brasília veio também uma influência agora do Governo do Estado para que determinadas ações administrativa política sejam encadeadas em conjunto. O que precisa agora é que o prefeito formate uma base. E nós estamos trabalhando para isso, uma base de vereadores, independente de partidos, para que ele tenha no mínimo de 20 a 24 vereadores trabalhando de forma coesa. Mas vai desprezar os outros? Não, de forma nenhuma. Mas ele precisa agora - ele por si só -, ter a capacidade, juntamente com presidente da Câmara Municipal de Goiânia, de fazer uma base para trazer uma certa pacificação. Pacificar o quê? As relações definitivas entre o Poder Executivo e o Poder Legislativo para os grandes temas, para as grandes ideias, para os grandes projetos. Ao sair Brasília, o prefeito se aproximou, com muita propriedade, de uma nova força que é a força administrativa do Governo do Estado e de um governador reeleito.Para isso o governador vai ter que querer fazer uma coordenação política com a Prefeitura de Goiânia. Porque uma coisa é fazer parceria administrativa, outra é fazer uma composição política. O governador vai ter interesse disso? E por que ele teria interesse agora? Não é o caso de o prefeito fazer o contrário, fazer essa base se fortalecer politicamente e, aí sim, ele ter o apoio do governador?Nós não estamos querendo inverter essa posição, de fazer com que quem ganha uma sucessão de primeiro mandato para segundo mandato de governador do Estado - inclusive não teve segundo turno, mostrando que ele teve uma hegemonia política. Não é o governador que tem que correr atrás da prefeitura, é o contrário. Agora, o governo do Estado tem também muitas ações dentro do município de Goiânia, onde determinadas junções de obras, de ações, também influenciam politicamente. Nós temos que pensar amanhã que nós vamos ter uma eleição de prefeito de Goiânia. Entendo que o próprio prefeito Rogério Cruz, a própria Câmara tem um interesse em estar comungando com as ações políticas do governo do Estado, em todos os sentidos. É preciso que nós, tanto da Câmara, quanto do Executivo, façamos o dever de casa. Qual é o dever de casa? Mostrar que está pacificada a relação, Executivo e Legislativo para que realmente se construa uma base forte para as grandes decisões administrativas e políticas das quais o prefeito de Goiânia tem todo o interesse de fazer. Você sabe que os dois primeiros anos de qualquer administração são anos de adequação ou de readequação de forças e de ações administrativas. Tenho a convicção de que nos próximos dois anos, conseguindo fazer essa base de sustentação, nós teremos uma tranquilidade muito grande para que a prefeitura exercite os seus projetos.Diante de tudo que está acontecendo, o prefeito terá essa competência política para fazer essa articulação?Eu não quero me tornar um pouco esnobe nessas questões. Mas nunca fui líder de prefeito. Nunca na minha vida política, nos meus quase 40 anos de vida pública, desde 1977 pra cá, que estou sempre dentro da Câmara, excepcionalmente saí para ir para a secretaria de Ação Urbana e vice-versa, eu nunca fui líder, mas senti uma necessidade agora. Poder ter sido vice presidente praticamente quatro vezes, a gente teve essa afinidade de querer ser um líder que auxilia a própria administração da Prefeitura de Goiânia e costure essa relação entre Legislativo e Executivo. Cabe a todos nós dar essa contribuição. Não vamos falar aqui que ele é inexperiente. Não é. Porque ele foi vereador por oito anos. Dois mandatos. Teve sim uma base muito grande. Agora, na parte administrativa, vejo que ele precisa acelerar rápido para que tenha essa tranquilidade de fazer uma administração, que colha agora aquilo que foi plantado nesses dois anos.Acelerar o quê vereador?Acelerar uma relação muito mais próxima com uma base na Câmara Municipal de Goiânia. Ele precisa ter uma consolidação de base de vereadores na Câmara Municipal de Goiânia para trazer uma certa tranquilidade no processo administrativo que ele pretende fazer para a cidade.Um problema também é com a Câmara, que está com essa ação no STF questionando a segunda reeleição do presidente Romário Policarpo. Essa ação vai ser julgada entre os dias 9 e 16. Como é que os vereadores que compõem essa esse grupo majoritário estão encarando esse questionamento judicial?Primeiramente quero dar uma tranquilidade. O grupo majoritário nunca esteve tão unidos quanto agora. Nós temos hoje praticamente quase 24 vereadores unidos. Os primeiros vereadores que elegeram pela primeira vez o Policarpo no primeiro mandato continuam firme. Novos vereadores estão participando dessa colisão de forças, já prevendo qualquer possibilidade. Estou muito otimista porque acaba de sair resultados para outras prefeituras, se não me engano para Bauru, em São Paulo, nessa semana, que já deu ganho de causa para que ações como essa, de não reeleição, prevaleça daqui para frente. Daqui para trás, aquilo que aconteceu vai ser considerado. Então, as primeiras manifestações semelhantes às questões de indagações jurídicas sobre a reeleição de Policarpo já estão tendo resultado que pode ser uma jurisprudência. Do que aconteceu para trás permanecer e daqui para frente não mais permitir. Mas mesmo assim nós temos agora formatado uma forças que está variando tranquilamente entre 21 e 24 vereadores que mantém o apoiamento ou a coluna de estrutura dentro da Câmara Municipal de Goiânia para a permanência desta mesa ou, em último caso, se houver uma alteração a própria colisão de forças fará aí o seu presidente. Mas tenho convicção agora, pelo que eu tô vendo dos resultados, essa indagação. Forças externas que querem atuar dentro não só da administração pública da prefeitura como também da Câmara Municipal de Goiânia.Leia também:- Vereadores de Goiânia criam mais quatro novas vagas- Paço estima superávit para compensar mudanças em cobrança de tributos em Goiânia- Oportunismo na Câmara