Atualizada em 2.11 às 10h31.Mais presente nas redes sociais e em movimentações políticas e partidárias, o ex-governador Marconi Perillo diz que a rejeição ao seu nome tem diminuído no Estado e que o PSDB terá papel relevante nas eleições do ano que vem. “O PSDB não será peso, será protagonista”, afirma, ao ser questionado se poderia prejudicar a candidatura do prefeito de Aparecida de Goiânia, Gustavo Mendanha (sem partido) ao governo, no caso de uma aliança formal. Com contrato que vence em 1º de abril como consultor da Companhia Siderúrgica Nacional, sem previsão de prorrogação, Marconi dá claros sinais de que disputará as eleições, mas não descarta as opções para governo, Senado e deputado federal. O tucano esteve nesta segunda-feira (1º) na redação do POPULAR, quando falou também das prévias do PSDB nacional, de comparações com o cenário político de 1998 , quando venceu Iris Rezende (MDB), e fez críticas ao governador Ronaldo Caiado (DEM). Os discursos nos encontros regionais do PSDB e a maior presença nas redes sociais fazem crescer as especulações de que o senhor está animado para ser candidato ao governo. É fato?Mais do que animado com candidatura a governo ou a outro cargo qualquer, eu estou animado em ajudar a construir um projeto de oposição ao atual governo em Goiás, um projeto alternativo ao Caiado. Achamos que é possível, sim, ter um governo melhor, mais eficiente, planejado, com melhor estratégia de desenvolvimento, um governo de diálogo, que não seja autoritário, arrogante, fake nas promessas. Eu não tenho projeto pessoal, não tenho vaidade, não estou estressado com isso. Apenas tomei uma decisão, convocado que fui pelo meu partido - pelos deputados, lideranças, e por agora estar como presidente interino (do diretório estadual) -, de estar presente em eventos regionais para conversar sobre o futuro. Eu estarei presente, com a minha experiência, com meu legado, com meu trabalho, para ajudar a construir um cenário melhor para o Estado. Acha que o PSDB tem de ter candidato ao governo? E há outras alternativas além do seu nome?Acho que tem de ter, sim. O PSDB tem nomes, sim. Estamos formando chapas para deputado federal e estadual e acho que temos nomes bons.Quem? Temos empresários bem-sucedidos, prefeitos, ex-deputados. Mas gente com disposição de ser candidata ao governo?Essa disposição depende muito da circunstância. Em 1998, eu não tinha disposição de ser candidato, ia disputar a reeleição de deputado federal. Até que chegou o momento em que não havia candidato da oposição, como eu não tinha qualquer vaidade no projeto pessoal, eu abri mão e aceitei o desafio de ser candidato a governador. Isso também pode acontecer nas eleições do ano que vem. O sr. faz comparações com 1998 e tem dito que a oposição tem de fazer o mesmo daquele ano. Não é um contexto muito diferente? Naquela ocasião, havia 16 anos de MDB no poder, com muitos desgastes e um sentimento de renovação. Não é diferente do contexto do atual governo, com um mandato apenas de Ronaldo Caiado?Não, não é tão diferente. Naquela época, em primeiro lugar havia um candidato a governador com 80% de intenções de voto, que era o Iris, a liderança mais consagrada e mais fortalecida do Estado. Eu não era conhecido em lugar algum, a não ser em 40 cidades onde atuava como deputado federal. A gente tinha quatro partidos maiores e um pequeno, que era o PSDC. Era uma estrutura de oposição muito fragilizada, com poucas prefeituras, embora estivéssemos em algumas cidades importantes. Mas a realidade daquela época era completamente adversa. Hoje, por incrível que pareça, apesar de três anos, o atual governo já acumulou muito mais desgastes dos que os 16 anos de MDB naquela época. Pelo que prometeu e não fez, pela arrogância, pelo estilo persecutório, pela forma como age em detrimento de muitos segmentos, pelas medidas equivocadas, pela falta de planejamento e ação, pela troca de nomes apenas de programas nossos. Até porque o PMDB tinha desgastes, mas tinha também muita ação concreta. Mas o governador Ronaldo Caiado antecipou o processo de definição de alianças e conseguiu tirar dois partidos importantes da oposição: o MDB, que terá Daniel Vilela como candidato a vice, e o PSL, com a fusão do partido com o DEM. E já consegue avançar nas conversas com outros partidos, como o PP. Não vai sobrar pouco para a oposição?A obrigação de quem está no governo, de quem é candidato à reeleição, é ganhar. Eleição de governador é plebiscitária. O povo vai dizer se quer ou não quer a continuidade. Então é natural que ele corra atrás de apoios mesmo porque ele sabe que, nas pesquisas, a situação vai ficando cada vez mais difícil para ele. Agora, eu já vi muita gente ganhar eleição com menos de um minuto de tempo de televisão, com poucos partidos. Bolsonaro é um exemplo. Com internet, redes sociais, tudo hoje viraliza rapidamente. O maior instrumento de propagação de ideias, de planos, assim como de fatores negativos, é a internet, as redes sociais. Candidato a governador com mais ou menos tempo de televisão, com mais ou menos dinheiro, vai ter de se submeter aos debater com todos os outros. O governador terá o mesmo tempo no debate que os candidatos da oposição. Eles serão entrevistados pelas televisões, rádios. Então, apesar de Caiado tentar se fortalecer com dinheiro do financiamento público e com tempo de televisão, para mentir sobre adversários, ele vai ter de enfrentar, com as mesmas armas, debates, entrevistas e as redes sociais. Então eu acho que essa disparidade de armas não vai se refletir no resultado da eleição. Temos experiências daqui e de fora. Quantas pessoas já ganharam eleição com pouco tempo de televisão? É claro que esse vai ser um desafio. Agora, não vai caber também todo mundo lá (na base governista). Se, de um lado, Caiado levou Daniel com medo do crescimento do Gustavo, de outro, o Gustavo continua na oposição. É o prefeito da maior cidade do interior do Estado. Ele teve 96% dos votos para prefeito. Aparecida sempre foi contra os nossos movimentos e agora vai estar contra o atual governo. E esse prestígio de Aparecida não é do Daniel, é do Gustavo. E, claro, do Maguito. Se o Maguito fosse vivo, eu não tenho dúvidas de que o projeto dele seria de apoio ao Gustavo Mendanha para governador. O Daniel, filho dele, diz que não.Bom, quem mais ajudou o Maguito em Goiânia na eleição passada foi o Gustavo, que estava com prestígio enorme em Aparecida e as duas cidades estão muito próximas. O que é bom em Aparecida também tem repercussão em Goiânia. Voltando a comparar com 1998, hoje não existe uma dificuldade maior de união dos partidos de oposição?Depende do propósito, da disposição de todo mundo de deixar de lado suas vaidades pessoais e trabalhar um projeto de Estado, que realmente considere o povo em primeiro lugar. Mas defende a união ou que o PSDB tenha candidato?Defendo que o PSDB tenha candidato e mais adiante vamos ver se é possível convergir no primeiro turno. Se não, segundo turno é para isso. O governo estadual tem usado a boa relação e as conversas do PSDB com o prefeito Gustavo Mendanha para desgastá-lo, afirmando que o sr. está por trás da candidatura dele. Esse desgaste prejudica a candidatura dele?Eu acho que esse tiro pode sair pela culatra. A cada pesquisa que recebo, melhora mais a minha situação, e as pessoas percebem mais as armações que fizeram contra mim e percebem a diferença de qualidade entre os nossos governos e o atual. À medida que o tempo vai passando e por conta de tudo isso, a minha rejeição já diminuiu bastante e eu não tenho dúvidas de que no ano que vem teremos condições de estabelecer um debate de alto nível e sem qualquer tipo de preocupação em discutir qualquer tema. Acha então que o PSDB não seria um peso para um candidato de outro partido?Não. O PSDB não será peso, será protagonista. O PSDB tem candidato a governador. Isso não significa que vamos virar uma parede intransponível, sem abrir mão. Vamos ver pesquisas. Se a gente tiver o pior nas pesquisas e puder contribuir com uma vitória para o governo do Estado de um candidato preparado, experiente, para fazer um bom governo, por que não? Assim têm de pensar os outros também. Não é uma estratégia errada alimentar as especulações de que pode ser candidato ao governo e depois lá na frente sair a deputado federal? Não existe isso, não. Não há definição. Se eu tomasse a decisão de ser candidato a governador, não haveria retorno. E o que acha dos deputados estaduais do PSDB que apoiam o governador Ronaldo Caiado?Todos eles estão procurando manter seus cargos comissionados, emendas. Acho que vai chegar um ponto em que teremos de conversar com eles para saber se realmente vão continuar com o governo ou se vão para o projeto de oposição. Acho que ainda não chegou o momento para isso. Eu me lembro que quando Alcides (Rodrigues, hoje deputado federal) era governador, ele só não tinha apoio de dois deputados na Assembleia: Daniel Goulart e Thiago Peixoto. Tinha apoio de todo mundo. Quando as eleições chegaram, a maioria deixou o governador e veio para nosso projeto. Ao apresentar novos programas e ações do governo, Caiado tem repetido que são resultado de um governo que não rouba, que quando não há desvios, o dinheiro sobra para o retorno à população. Ele tem explorado muito esse discurso. Como avalia que será na campanha?Essa tese está ficando cada vez mais desmoralizada. É um discurso bem feito, mas fake, mentiroso, do Caiado. Essa narrativa dele em relação aos nossos governos não cola mais porque hoje as pessoas prestam atenção e comparam os nossos governos e o dele. Comparam os discursos dele como candidato e como governador. Às vezes o Caiado quer dar uma de oposição a ele mesmo. Ele não é mais oposição. Ele é governador e tem a obrigação de cumprir os compromissos. Ele fez compromisso, por exemplo, de criar fundos para aumentar salários de professores, policiais, profissionais de saúde, e não cumpre. Isso faz com que ele ganhe oposição forte desses grupos. Ele falou em reduzir pela metade o ICMS de combustíveis, telecomunicações, energia, depois de tantas críticas aos meus governos. E não cumpre. Ganha antipatia generalizada. Quando ele só troca nomes de programas sociais e de obras do nosso governo, também ganha antipatia porque todo mundo percebe que essa é apenas uma ação falaciosa e enganatória. Não há uma obra do Caiado começada e terminada por ele. E outra coisa, as pessoas pobres já perceberam a jogada dele de deixar por três anos todo mundo sem os programas sociais e agora vai criar programas às vésperas das eleições. Isso está muito claro na cabeça de todo mundo. Os empresários não estão investindo em Goiás porque perderam a confiança no governo. Não têm segurança jurídica para investir. E se os empresários não investem, os empregos também diminuem. A UEG está em frangalhos, está acabando, sem recursos e fechando curso por todo canto. A educação também perdeu investimentos. Agora estão dando bônus para profissionais de educação porque precisam cumprir a vinculação constitucional (25%). O Tribunal de Contas já alertou várias vezes sobre isso. Todo mundo percebe essas jogadas políticas. É falácia dizer que agora está fazendo porque não tem corrupção. Corrupção coisa alguma. Que ele prove uma corrupção nos meus governos. Eu não demiti delegado-geral da Polícia Civil ou delegado anticorrupção no curso do meu governo porque as investigações começaram a chegar perto do governador e da família dele. No Tocantins, por muito menos, o MPF e a Justiça afastaram o governador por interferência indevida nas ações da polícia e nas investigações do estado. Mas não há uma percepção de melhora da questão financeira do Estado?Eles falam em superávit orçamentário. Claro. Quando é que eu tive na vida oportunidade de ter três anos de folga, sem pagar dívida externa? Eu pagava R$ 300 milhões por mês para abater serviço, juros e o principal da dívida. Hoje há R$ 9 bilhões acumulados de dívidas não pagas. Ora, com R$ 6 bilhões que consegui de empréstimo a duras penas nós fizemos obras por todos os cantos do Estado. Ele não valoriza o servidor, não contrata ninguém. Só na PM, já são 3 mil policiais a menos, desde que deixamos o governo em 2018. Foi anunciado concurso para 750 policiais novos. O governador herdou uma situação nossa dos hospitais que foi fundamental para o enfrentamento à Covid-19. Na educação, no Ideb passamos a ficar em 1º lugar desde 2013. Então essa conversa fiada toda sobre as contas são fake news, mentira barata, narrativa falsa. Tivemos déficit, sim, mas a gente fazia as coisas acontecerem. Se eu não tivesse de pagar dívida externa, eu nunca teria déficit no governo, jamais. O José Eliton só não conseguiu pagar a folha inteira de dezembro porque o próprio Caiado foi a Justiça e impediu a venda dos depósitos judiciais privados. Depois foi lá e pegou. É um governo de fake. Cheio de dinheiro e não toma nenhuma medida para amenizar o sofrimento do povo. O Estado de Goiás foi o que mais cresceu em pobreza e foi o que menos investiu em educação. Não cresceu em industrialização. Enfim, para que continuar com um governo que é um desserviço ao Estado? Um governo só de mentiras e falácias.Acha que o Ministério Público e o Judiciário estão pouco atuantes aqui em relação ao governo?Ao escolher o terceiro colocado na eleição do Ministério Público Estadual, o governador sinalizou o que queria: um aliado de todas as horas. Que fosse aliado dele e adversário dos adversários do governador. Não sei se é assim, até porque tenho respeito pessoal pelo procurador-geral de Justiça. Mas, aqui em Goiás, não há qualquer coisa que chegue perto. Eu mesmo, como presidente de partido, tenho encaminhado várias denúncias ao Tribunal Regional Eleitoral, por campanha explicitamente antecipada, tenho encaminhado ao Ministério Público Estadual e ao Tribunal de Contas do Estado uma série de absurdos, de aberrações que estão acontecendo aqui e a gente não vê, infelizmente, providências. O sr. falou do funcionalismo, e até gravou um vídeo por conta da mobilização de algumas categorias de servidores na semana passada, e o sr. critica o atual governo por não conceder data-base, mas o Sindipúblico diz que no seu último governo também não houve data-base em nenhum dos quatro anos. Depende da visão de cada lado. Nós fizemos um acordo com as forças de segurança e demos todos os aumentos que estavam represados até 2015. Pagamos tudo. Essa negociação por categorias não é equivocada?Fizemos por categorias porque é uma exigência. As maiorias categorias exigiam fazer entendimentos e acordos coletivos separados: saúde, educação e segurança, também o Fisco, Procuradoria Geral, Agrodefesa, Agetop. Fizemos várias negociações que efetivamente valorizaram muito fortemente os servidores goianos. Mas a data-base, pela Constituição, deve ser dada a todo o funcionalismo. Data-base fizemos alguns pagamentos integrais e outros fizemos particularmente com cada segmento, cada órgão do governo. Mas pagamos pisos dos professores rigorosamente, e para todos. O sr. não vai ter uma posição em relação às prévias do PSDB para definir o candidato do partido à Presidência da República?Terei. Estou fazendo os encontros regionais e já comecei a telefonar a todas as lideranças, principalmente vereadores, prefeitos e vices, e ao final vou anunciar o meu voto. Quem tiver mais apoio será seu escolhido?Sim. Então será o Eduardo Leite pelo que temos visto de manifestações da maioria das lideranças?Não sei. Estou ouvindo ainda. Eu tenho relações históricas com todos eles. Eu fui colega do Arthur Virgílio, sou amigo dele, eu ainda não sei se ele vai continuar, mas me disse que vai. Sou amigo há mais de 20 anos do Doria, admiro muito o governo dele e tenho uma relação muito boa, embora mais recente com o governador Eduardo Leite. Eu diria que, se eu tivesse de anunciar o meu voto hoje, anunciaria voto para João Doria. Mas eu quero ouvir a opinião de todas as lideranças até eu tomar minha decisão.