As vaias ao governador Ronaldo Caiado (UB) durante evento no Parque de Exposições de Rio Verde, com presença do presidente Jair Bolsonaro (PL) e do pré-candidato ao governo de Goiás, Vitor Hugo (PL), evidenciaram a disputa interna no eleitorado de direita no Estado.Em entrevista ao programa Chega pra Cá, nesta terça-feira (26), o professor de História da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat) e pesquisador dos movimentos de direita, Makchwell Coimbra, analisou a disputa que se desenha em Goiás entre a direita tradicional, representada por Caiado, e a extrema-direita de Bolsonaro. Coimbra explicou que as eleições de 2018 formaram uma união ampla dos grupos de direita em torno do antipetismo, mas que se fragmentou desde a vitória de Bolsonaro."Quando o Ronaldo Caiado é vaiado, obviamente isso causa uma estranheza para todos nós porque ele estava no interior de um grupo que ele sempre apoiou, mas eu chamo atenção disso também, que não são todos que estavam ali presentes que são necessariamente o grupo que sempre o apoiou, os votos que são fiéis, que ainda existem e continuarão existindo. São outros grupos, que se juntaram a esses votantes nas últimas eleições", afirma.De acordo com o pesquisador da Associação Nacional dos Professores de História (ANPUH), a direita tradicional foi o campo que mais perdeu espaço desde a eleição de Bolsonaro em 2018. Coimbra pontua, entretanto, que os eleitores goianos da direita não migraram para a extrema-direita como em outros estados, mas o conflito interno persiste."Existe uma disputa por esses votos em Goiás e o Vitor Hugo é alguém que tem encabeçado essa perspectiva. Ele é muito mais próximo desses eleitores que não são os eleitores tradicionais de direita, mas de uma extrema-direita que esperava um candidato para isso. Pela primeira vez, o Ronaldo Caiado tem que disputar votos entre esse grupo da direita que foi fiel a ele e um grupo da direita que se seduz por essa nova direita."De acordo com Coimbra, cerca de 20% do eleitorado brasileiro se identifica com os movimentos de extrema-direita. No evento em Rio Verde, na última quarta-feira (20), ao ser anunciado para discursar, o governador ficou em silêncio por cerca de três minutos em meio a vaias. Por outro lado, em outros momentos, parte do público demonstrou apoio ao deputado federal Vitor Hugo (PL), que se levantou e fez sinal de agradecimento.Leia também:- Em evento com Bolsonaro em Rio Verde, Caiado discursa em meio a vaiasNova direitaMakchwell Coimbra explica que principal diferença entre a direita tradicional e a extrema-direita está na relação que cada grupo estabelece com o campo democrático. A direita tradicional se caracterizou, desde a revolução francesa, segundo Coimbra, pela utilização do espaço democrático para implementação de seus projetos, assim como grupos da esquerda clássica."A nova direita se apropria da democracia, mas ela não vê problema em destruir o campo de diálogo democrático", disse Coimbra. O historiador citou os ataques do presidente Bolsonaro às instituições como exemplos da retórica da extrema-direita.“A direita clássica, você pode discordar dos seus programas, mas eles têm programas estabelecidos, eles têm programas que explicam as suas políticas. A extrema-direita não precisa disso, ela cria sempre um inimigo, e o inimigo sempre é móvel”, completa.Segundo o pesquisador, o discurso violento, a necessidade de estebelecer um inimigo a ser combatido e a defesa de valores morais em detrimento de políticas públicas, são aspectos centrais da ascensão da extrema-direita.“Existe sempre nesses grupos de ultradireita a tendência de criar um inimigo, que pode ser real, ele pode existir, mas ele também pode ser um inimigo imaginário. É sempre alguém que ameaça a sua família, é sempre alguém que ameaça a sua segurança, que vai ameaçar a educação, é sempre alguém que ameaça a economia. Eles não apresentam necessariamente soluções concretas para isso, mas quando você não apresenta soluções concretas, você apresenta o inimigo”, afirma.O pesquisador da Anpuh citou Éneas Carneiro, que se tornou conhecido nas eleições presidenciais de 1989 com o bordão "Meu nome é Enéas", como uma das principais expressões do discurso da extrema-direita antes da ascensão de Bolsonaro "Esses grupos não surgiram em 2018, eles estavam aqui já pairando o campo democrático. Em 2018 eles ganharam voz", afirma.Leia também:- Partidos de esquerda avançam na definição de candidato em Goiás-Imagem (1.2441463)