A uma semana de se filiar ao Podemos, o ex-juiz Sergio Moro desembarcou nesta quarta-feira (3) em Brasília para reuniões políticas, mas um dos principais compromissos dos quais participaria, um jantar com deputados do PSL, acabou cancelado devido a impasses no partido.A filiação de Moro ao Podemos está marcada para a próxima quarta-feira (10). O ex-magistrado viajou à capital federal acompanhado da presidente nacional da legenda, Renata Abreu (SP), e deve ir embora ainda nesta quinta-feira (4).Além do jantar que teria com parte da bancada do PSL, ele se encontrou com parlamentares do Podemos.Também reuniu-se com o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), que sempre foi apoiador do ex-magistrado e lançou-se como pré-candidato à Presidência da República.Moro deixou o cargo de ministro da Justiça do governo de Jair Bolsonaro em abril do ano passado, quando pediu demissão. Neste ano, sofreu uma dura derrota no STF (Supremo Tribunal Federal), que o considerou parcial em ações em que atuou contra o ex-presidente Lula (PT).O encontro com deputados do PSL, sigla que se fundirá ao DEM para formar a União Brasil, seria resultado de movimentos feito pelo próprio Moro.Antes mesmo de confirmar que entraria no Podemos, o ex-ministro da Justiça de Bolsonaro fez contato com parlamentares do PSL para pedir apoio à sua empreitada política.Moro não confirmou se disputará a Presidência da República ou uma vaga no Senado, por exemplo, mas a expectativa de siglas consideradas de centro e centro-direita é que o ex-magistrado busque brigar pelo Palácio do Planalto.Após confirmar sua filiação ao Podemos, o ex-magistrado telefonou para o próprio presidente do PSL, Luciano Bivar, que também comandará a União Brasil, segundo o próprio dirigente. Os dois ficaram de agendar um encontro, mas uma data não foi marcada.Deputados do partido, porém, se anteciparam e pré-agendaram um jantar nesta quarta (3), o que gerou mal-estar em parte da cúpula da União Brasil, que teme que o ato possa ser interpretado como um gesto de apoio à candidatura de Moro à Presidência da República.“A gente ainda vai ter convenção. Não temos decisão de quem será nosso candidato. Como a gente vai jantar com esse ou aquele candidato? Não faz sentido eu almoçar com Moro ou Lula ou Bolsonaro porque pode dar a impressão de que um deles pode ser nosso candidato”, disse Bivar.“O Sergio Moro ligou pra mim dos Estados Unidos, de uma forma gentil, para nos encontrarmos, num futuro incerto marcar esse encontro.”“Mas ainda não tem encontro, é especulação de uma parte da imprensa. E ninguém do PSL vai para nenhum encontro porque seria um ato político”, continuou o futuro presidente da União Brasil.Segundo Bivar, o que pode ocorrer são encontros entre Moro e parlamentares do PSL “isoladamente”.União BrasilNos bastidores, a cúpula do PSL não descarta apoiar a candidatura de Moro à Presidência da República, mas só cogita este cenário caso o ex-magistrado se filie à União Brasil.A avaliação compartilhada por integrantes da direção do futuro partido é que o Podemos não tem estrutura para colocar o ex-ministro competitivo na disputa pelo Planalto.Isto é, a leitura de integrantes do PSL é que Moro não tem a força política que Bolsonaro tinha em 2018 para ter uma campanha sem tantos recursos partidários e fraca de alianças políticas.Para se tornar competitivo, então, o ex-juiz precisaria buscar uma legenda que tenha fundo eleitoral robusto e bom tempo de televisão.Apesar do diagnóstico, integrantes da União Brasil tratam com cautela a possibilidade de fazer um esforço para atrair Moro ao partido para se candidatar à Presidência porque querem aguardar cenários mais claros nas pesquisas eleitorais.A intenção é observar a popularidade do ex-juiz e de outros nomes tratados como pré-candidatos pela legenda, como o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta.Além disso, Moro sofre resistências no DEM, partido que se juntará ao PSL, o que também poderia emperrar um eventual apoio da União Brasil ao ex-juiz.A dificuldade de Moro de ter um diálogo fluido com o PSL é apenas um dos entraves que ele deverá enfrentar se decidir mesmo disputar um cargo eletivo no ano que vem.Isso porque Moro é rejeitado pela oposição a Bolsonaro, principalmente entre a esquerda, e por políticos considerados tradicionais, que viram na atuação de Moro na Lava Jato oportunismo político e o tratam como inconfiável.