A Câmara de Goiânia acumulou polêmicas em 2021, principalmente no segundo semestre, quando teve ao menos duas de suas tramitações como alvo de recomendações do Ministério Público (MP-GO) e decisão judicial, criação de novos cargos, aumento de gastos com servidores, antecipação da eleição da mesa diretora da Casa em quase um ano e meio, além da tentativa de ampliar o número de vereadores, com aumento de salário e “assinaturas fantasmas”.A polêmica mais recente ficou por conta do projeto apresentado por Clécio Alves (MDB), revelado pelo POPULAR, e que visa aumentar a quantidade de vereadores de 35 para 39. No texto, o vereador propôs ainda reajustar os próprios subsídios ao que permite a Constituição Federal, o que resultaria num aumento de 21%, fora o impacto da criação das quatro novas vagas. Todas as mudanças passariam a valer a partir de 2025.O projeto, entretanto, gerou uma série de desgastes, a começar pelo fato de quem o apresentou negar a autoria e, depois, ainda votar contra ele, em grande parte, devido à repercussão negativa que a proposta causou. Clécio foi flagrado em vídeo, em 16 de dezembro, pedindo apoio para o projeto que apresentou no mesmo dia com 13 assinaturas. Em 20 de dezembro, a coluna Giro identificou 7 das rubricas, demonstrando que as demais não tinham semelhança com as assinaturas dos vereadores, o que foi constatado por comparação com projetos apresentados pelos parlamentares, assinados por eles e disponíveis no site.Diante da insistência da imprensa pela falta de transparência sobre o assunto, a mesa diretora determinou a identificação de todas as rubricas, mas a assessoria técnica só conseguiu reconhecer mais uma, e sem sucesso em relação às outras cinco — são 13 no total. A constatação, porém, só veio depois que a matéria já havia sido aprovada pela Comissão Mista e já apta para votação em plenário.Em ofício enviado aos vereadores, na quinta-feira (23), o presidente Romário Policarpo (Patriota) solicitou que quem assinou o projeto se identificasse e, no dia seguinte, ao Giro, disse que arquivaria a proposta, caso quem assinou não se identificasse até aquele dia, o que acabou não sendo feito por conta do recesso administrativo da Câmara, que só se encerra no próximo dia 3.PLANO DIRETOROutra polêmica se deu no projeto que atualiza o Plano Diretor de Goiânia, reenviado pelo Paço à Câmara no fim de novembro. A matéria havia sido retirada da Casa pela prefeitura em 25 de setembro de 2020, ainda na gestão de Iris Rezende, depois de série de polêmicas envolvendo as mais de 200 emendas propostas, além de questionamentos do MP-GO.Contudo, devido a um cronograma apertado de discussão, e pressa para aprovar o projeto, mesmo diante de pedidos de moradores de algumas regiões e representantes da sociedade civil organizada por mais tempo para conhecer as alterações feitas, a Câmara sofreu nova recomendação do MP-GO para paralisar a tramitação e dar mais tempo à sua análise.A Casa rejeitou a recomendação, sob o argumento de que o Plano está em tramitação desde 2019 e que foram realizadas muitas audiências públicas, mas o Poder Judiciário determinou a suspensão da análise do texto, deixando sua apreciação para 2022, acatando a tese de que o conteúdo do relatório final não foi debatido. Tanto que as emendas apresentadas ao texto só se tornaram públicas nesta semana.Há previsão de audiência pública para o dia 4, e a matéria deve ser votada em sessões extras a partir do dia seguinte. CÓDIGO TRIBUTÁRIOOutro projeto que foi alvo de recomendação do MP-GO devido à agilidade com que tramitou na Casa foi o do novo Código Tributário, que promoveu mudanças na cobrança do IPTU, com aumentos, e sem muita transparência. Tanto que um simulador para que os contribuintes vissem o quanto devem pagar de imposto no próximo ano só foi disponibilizado após sua aprovação.Porém, ao contrário do Plano Diretor, o projeto do Código Tributário não foi suspenso pela Justiça e acabou aprovado, como desejava o Paço, com tramitação ligada a outra polêmica: a antecipação da eleição da mesa diretora para o biênio 2023-2024.As duas questões foram aprovadas com um dia de diferença, em setembro, e, nos bastidores, o entendimento foi de que a célere aprovação do Código propiciou o clima necessário, e apoio do Paço, para que o grupo que hoje comanda a Casa conseguisse se reeleger. Policarpo, contudo, sempre negou qualquer ligação entre as duas coisas.A ideia da antecipação primeiro veio à tona em abril, com inspiração no que já havia sido feito na Assembleia Legislativa, e diante da abertura de espaços para vereadores na prefeitura — àquele mês, o prefeito Rogério Cruz (Republicanos) trocava auxiliares devido ao desembarque do MDB de sua gestão, o que mexeu com a composição da Casa.Não houve clima favorável à época e o tema só voltou a ser debatido justamente em meio à tramitação do Código Tributário, em setembro, cuja aprovação rápida era de interesse do Paço. A proposta de antecipação passou, contando ainda com aumento de novos cargos na mesa.A eleição ocorreu em 30 de setembro, o que garantiu a Policarpo o terceiro mandato consecutivo à frente do Legislativo da capital, apesar de decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) que observam o limite de uma única reeleição para o mesmo cargo, independentemente de serem na mesma legislatura ou não.NOVOS CARGOSEm outubro, a polêmica ficou por conta da criação de 253 cargos comissionados na Câmara, em meio a projeto que reformou a estrutura administrativa dos gabinetes dos vereadores a fim de permitir o aumento de R$ 62 mil para R$ 78 mil o valor disponível para contratação de pessoal em cada um dos 35 gabinetes.Apesar de questionamentos sobre as duas propostas, elas foram implementadas e passam a valer já a partir de janeiro. No caso dos cargos, a aprovação se deu apenas um mês depois de o POPULAR mostrar que faltava rigor no controle da frequência dos servidores na Casa, e de a Câmara anunciar que estudava ponto biométrico tanto para vereadores quanto para funcionários.-Imagem (Image_1.2379500)-Imagem (Image_1.2379501)