Com o objetivo de alcançar maior representação nas casas legislativas, lideranças políticas ligadas diretamente a igrejas evangélicas de Goiás se organizam em pré-candidaturas. Apesar de destacarem a afinidade com o meio religioso e pautas de costumes, estes atores políticos também tentam se descolar da imagem de “candidato de igrejas” e ressaltam ligação com outros setores, como funcionalismo público e empresarial, além de apoio de municípios.Pré-candidato à reeleição, o deputado federal Glaustin da Fokus (PSC) é um dos nomes com apoio da Convenção Estadual dos Ministros Evangélicos das Assembleias de Deus em Goiás (Conemad-GO) na busca por cadeira na Câmara dos Deputados. Além dele, Rafael Gouveia (Republicanos), que atualmente é deputado estadual, também tem apoio da instituição na disputa pela cadeira na Câmara.Na eleição para a Assembleia Legislativa, a Conemad-GO deve apoiar a reeleição de Henrique César (PSC) – que é genro do presidente da convenção, bispo Oídes do Carmo – e de Henry Almeida (Republicanos), que é filho do ex-deputado estadual Samuel Almeida, que foi candidato a prefeito de Goiânia em 2020 pelo PROS e atualmente é filiado ao PSD. Almeida afirma que não disputará a eleição deste ano.Para o Senado, existe impasse entre os nomes de Luiz Carlos do Carmo (PSC), irmão do bispo Oídes, que busca a reeleição, e do presidente estadual do Republicanos e deputado federal João Campos. Em entrevista ao programa Chega pra Cá, transmitido nas redes sociais do POPULAR no dia 29 de março, Oídes afirmou que será necessário “ter entendimento interno” entre os nomes ao Senado.O bispo também citou os pré-candidatos a federal e estadual apoiados pela entidade e ressaltou que as igrejas evangélicas buscam representação própria porque já se sentiram “usadas” por políticos que só procuram estas instituições em época de eleição.A Assembleia de Deus (AD) tem diversas ramificações pelo Brasil e a Conemad-GO é apenas uma das diferentes convenções que reúnem grupos de denominações. João Campos, por exemplo, é membro da Assembleia de Deus Vila Nova, mesma denominação de Rafael Gouveia. Já Henry foi indicado pela AD Ministério Fama.OrganizaçãoNa disputa para deputado federal, o presidente metropolitano do Republicanos e deputado estadual Jeferson Rodrigues deve receber apoio principalmente da Igreja Universal. Já na busca por cadeira na Assembleia, outra pré-candidata do partido, mas com apoio da Universal, é a primeira-dama de Goiânia, Thelma Cruz. De acordo com Campos, a expectativa é que Thelma seja campeã de votos. A reportagem tentou contato com a primeira-dama, mas não houve resposta.Além destes, o deputado estadual Cairo Salim (PSD) é pré-candidato à reeleição e é membro da Igreja Videira. Salim afirma que sua denominação não tem como objetivo eleger representantes políticos, mas recebe respaldo desta e outras igrejas por causa da proximidade com o meio. “Pela minha presença mais forte, por estar lá há muitos anos, recebo carinho, apoio e instrução dos pastores, ideias de projetos de lei. É uma coisa bem fraterna e de apoio ideológico, digamos assim”, diz o deputado.Bispo na Fonte da Vida, Fábio Sousa (PL) é pré-candidato a deputado federal. Ele já ocupou cadeira na Câmara entre os anos de 2015 e 2018. “Se observar meus votos, não sou hipócrita, a maioria deve ser do público evangélico, público mais conservador, mas também tenho voto em cidades, aqueles lugares em que fiz meu trabalho de representante no Congresso e na Assembleia”, ressalta. Sousa conta que se filiou ao PL a convite do presidente da República, Jair Bolsonaro.Motivações Assim como Sousa, Glaustin também ressalta que, além de representar o segmento evangélico, também tem proximidade com outros setores, como indústria e donos de supermercados, por exemplo. Salim também destaca ligação com o meio empresarial e municípios.Já Campos argumenta que, desde o seu primeiro mandato como deputado federal (atualmente está no 5º), tem apoio do público evangélico e da segurança pública (é policial civil). Para o parlamentar, a busca por representação é comum em qualquer segmento. “Acho que muito mais com essa visão de contribuir com o conjunto da sociedade, do que uma visão apenas do segmento. Uma visão mais ampla. Não se exclui as pautas do segmento, mas ao mesmo tempo tem uma visão voltada para o interesse público”, afirma.Campos argumenta também que, diante da dimensão da Câmara, “se o deputado não eleger determinadas bandeiras, ele simplesmente desaparece, dado a essa conjuntura imensa de quantidade de partidos e parlamentares”. A Casa é formada por 513 deputados federais.Esquerda Coordenadora do Núcleo dos Evangélicos e Evangélicas do Partido dos Trabalhadores (Nept) em Goiás, Hiranildes Lôbo afirma que o grupo realiza reuniões e analisa quadros para lançar candidatos na eleição deste ano. Um dos nomes cotados é o da vereadora da Cidade de Goiás Elenizia da Mata de Jesus.O POPULAR já mostrou que o PT trabalha para fortalecer o Nept em Goiás, assim como em outros estados, a pedido do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que é pré-candidato ao Executivo mais uma vez. Em Goiás, o núcleo existe há cerca de dois anos e suas lideranças têm como principal foco o diálogo com os membros das igrejas.Além disso, o grupo busca mostrar que existem representações do segmento evangélico que não apoiam o governo de Bolsonaro. Em nível nacional, o Nept busca tirar as pautas de costumes do centro das discussões do setor. Estratégia para ampliar bases, avaliam cientistas políticosCientista político e professor da Universidade Federal de Goiás (UFG), Francisco Tavares avalia que, ao citar outras bases políticas, além das igrejas evangélicas, os pré-candidatos protestantes buscam ampliar seu público. São decisões, diz o professor, tomadas muitas vezes com base em pesquisas qualitativas. “E vão tentar crescer em outras bases que não sejam contraditórias, como corporativas e empresariais”, afirma. A visão também é compartilhada pelo cientista político e professor da UFG Pedro Célio Alves Borges. “É um esforço próprio de expandir a área de alcance eleitoral. Isso é próprio do campo político. Normalmente, o programa discursivo de uma representação política tem um ponto de partida e busca ampliá-lo. Os evangélicos também fazem isso”, avalia.Pedro Célio afirma que, no contexto atual, também existe a tentativa de se descolar de desgastes provocados por escândalos. A fala do professor é referência ao caso de pastores supostamente envolvidos em um gabinete paralelo no Ministério da Educação (MEC), esquema que foi divulgado em série de reportagens de jornais de todo o País. Os relatos de prefeitos e imagens de reuniões no MEC apontam que dois pastores, ligados à Assembleia de Deus, mas sem vínculo com o ministério, facilitavam reuniões de gestores com o ex-ministro da Educação, Milton Ribeiro, e prometiam liberação de verbas da pasta. Há também denúncias de pedidos de propina. Tavares afirma que as pesquisas mais recentes em relação à participação de grupos evangélicos na política brasileira mostram que “as igrejas têm algum poder de influenciar comportamento eleitoral”. O cientista político explica que essa conclusão é significativa porque vivemos em um contexto em que o comportamento eleitoral é determinado por diferentes motivos, como economia, casos de corrupção e interações em redes sociais. “Se as igrejas, estatisticamente, principalmente as pentecostais, são elementos bem detectados como capazes de influenciar o comportamento eleitoral, elas já passam a ser relevantes para se observar”, avalia. Quanto à atuação de políticos deste grupo no Legislativo, Tavares diz que é possível concluir que a bancada evangélica opera com forte negociação de pautas com outras bancadas temáticas para conseguir maioria de votos em temas de seu interesse. O professor afirma que isso tem ocorrido legislatura após legislatura, principalmente em parceira com o grupo ruralista. “São bancadas que, apesar dos diferentes partidos, têm grau de coesão”, diz. -Imagem (Image_1.2435290)-Imagem (Image_1.2435291)