Atualizada em 22.06 às 12h10.A repercussão do vídeo da deputada federal Magda Mofatto (PL) dizendo que iria, a própria, buscar Lázaro Barbosa, suspeito de matar cinco pessoas e que está foragido em Cocalzinho de Goiás, aponta para um viés político que a operação ganha. A tentativa de criticar o governador Ronaldo Caiado (DEM) e o secretário de Segurança Pública, Rodney Miranda, acabou recaindo sobre a própria polícia e repercutindo mal. A parlamentar, porém, diz que alcançou o objetivo.No último sábado, data que marcou o 11º dia de buscas por Lázaro Barbosa em Cocalzinho, a parlamentar publicou em suas redes sociais um vídeo em que aparece vestida com roupas de militar, portando duas armas de fogo, em um helicóptero. Nas imagens, ela diz: “Te cuida, Lázaro. Se o Ronaldo Caiado não deu conta de te pegar, eu estou indo aí te pegar. Comandante, rumo para Cocalzinho.”Apesar da deputada afirmar que a crítica foi restrita à condução da operação, o vídeo acabou sendo lido como uma desaprovação ao trabalho dos policiais de Goiás e do Distrito Federal. Nas redes sociais, inclusive em comentários no próprio vídeo, pessoas cobram respeito da parlamentar pelo trabalho de buscas realizado em Cocalzinho, no Entorno do DF, há 14 dias.Ao POPULAR, Magda disse que considera que essa interpretação foi coordenada pelo próprio governo do Estado em retaliação ao seu vídeo.“É compreensível que o governo tenha movimentado toda a equipe dele para fazer essa conotação, quando na realidade eu deixei bem claro que falta estrutura de trabalho para os policiais”, respondeu. Essa crítica específica foi feita pela parlamentar no domingo em um vídeo de esclarecimento.A deputada afirma que a operação está sendo conduzida de forma desordenada pelo secretário Rodney, que, para ela, tenta se promover politicamente em cima da ação. “O comando está nas mãos do secretário, que não conhece Goiás. Foi chamada a cavalaria, que tem cavalos lindos e maravilhosos, que foram treinados para andar na cidade. Nenhum daqueles cavalos foi treinado para andar no mato. Mas os policiais são competentes, o que falta é comando”, diz.Para Magda, apesar da repercussão, seu objetivo foi alcançado, porque “acordou o Estado”. Por outro lado, ela diz que seu vídeo não foi político, mas “uma tentativa de acordar a população”. “Eu não politizei, eu critiquei a politização que tinha sido feita”, diz.Ela também diz que não tinha intenção real de ir a Cocalzinho para não “politizar ainda mais a situação”. Segundo a deputada, o helicóptero apenas sobrevoou uma das fazendas que possui em Caldas Novas. A parlamentar também diz que fez o vídeo em solidariedade ao prefeito Alessandro Otone (PL), seu correligionário, que, segundo ela, estaria arcando com responsabilidades do Estado no amparo aos policiais. O gestor, porém, não quis se posicionar. “Eu tenho uma boa relação com a deputada e com o governador, prefiro não entrar nesse assunto”, disse ao POPULAR.Quanto a Caiado, Magda disse que a relação com o governador é institucional, mas que na política sempre estiveram em lados diferentes, apesar de ambos terem apoiado a eleição do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que tem em seu eleitorado o grupo que valoriza o porte de armas, por exemplo. “Não temos parceria política, mas isso não quer dizer que houve falta de respeito ou algo assim. Sempre que precisou da bancada, eu estive lá.”Ontem, em nota, a Secretaria de Segurança Pública de Goiás (SSP-GO) disse que “comentários desrespeitosos ao trabalho desempenhado pelos policiais não são dignos de serem respondidos”. “Os profissionais que estão diuturnamente dedicados a força-tarefa não merecem que seja desviada a atenção do propósito de garantir a paz da população da região e capturar Lázaro Barbosa”, diz o texto.AnálisePara o cientista político Robert Bonifácio, a repercussão do caso Lázaro, que ganhou visibilidade nacional, atrai políticos que buscam se inserir em fatos em evidência. Porém, analisa o vídeo da deputada, assim como de outros parlamentares de outros Estados, como uma “bola fora”. “Ela sempre teve essa plataforma política de que bandido bom é bandido morto, de mostrar essa postura conservadora e, na verdade nesse vídeo, embora ela quisesse criticar o governador, ela está criticando a polícia. Se ela vai caçar o Lázaro, é porque a polícia não é capaz de fazer”, afirma.Para ele, o vídeo é também uma “bola fora” com o próprio eleitorado da deputada. “É desabonador a quem está envolvido nisso, como os governos do DF e de Goiás, porque passa a impressão de que a polícia não está preparada”.Bonifácio também discorda da deputada quando afirma que o secretário estaria tentando se promover politicamente. “É atribuição dele a liderança dessa questão, afinal ele é o chefe das polícias. Se ele não fosse protagonista, estaria fugindo de suas atribuições. Como esse caso ganhou visibilidade, ele aparece mais, mas, do meu ponto de vista, negativamente, afinal está há dias sem pegar o Lázaro.” Só autoridades podem ostentar o porte de armasA deputada Magda Mofatto (PL) disse ao POPULAR que aparece no vídeo com duas armas: uma espingarda calibre 12 e um fuzil Tarurus T4. Ela afirma que possui porte de armas e que todas as que possui são registradas. Apesar disso, para o advogado criminalista Rogério Leal, a aparição da parlamentar com os objetos em vídeo pode fazer com que ela seja responsabilizada criminalmente.“O porte de armas é autorizado desde que se tenha de forma sigilosa. Quem pode ostentar de forma visível são apenas as autoridades de segurança pública. Ela também pode incorrer em apologia ao crime, por estar incitando uma vingança privada. Tem mais de século que o Brasil não admite a vingança privada”, explica o especialista.Segundo Leal, esses dois fatores, a exposição e a apologia ao crime, podem levar a deputada até à reclusão. Mas a pena, explica, depende da análise específica do caso, que também tem que considerar que a parlamentar possui foro privilegiado. “Eu vejo como um oportunismo, utilizando de um momento grave e triste para uma autopromoção”, diz.Magda também afirma que estava com um instrutor de tiro no vídeo, que a ajudou a desmuniciar todas as armas, e que sobrevoou apenas a propriedade rural que possui em Caldas Novas, de nome Fazenda Barranqueira. “Então não houve perigo algum em nada do que eu fiz”, diz a deputada, que afirma ser uma pequena colecionadora de armas. Mas o advogado reforça que nada disso a isenta, porque deu publicidade ao porte de armas.Outro criminalista, o presidente da Comissão de Direitos e Prerrogativa da Ordem dos Advogados do Brasil - Seção Goiás (OAB-GO), David Soares, afirma que apesar de não se saber, pelo vídeo, se as armas são legítimas, considera a conduta irresponsável. “Pode levar as pessoas ao erro de achar que é comum andar armado e sair por aí caçando e utilizando a arma para todo e qualquer conflito que aparecer. As pessoas não podem ser induzidas ao erro, principalmente por quem possui algum tipo de representatividade”, diz.A deputada também garante que o helicóptero utilizado no vídeo é de uso particular e bancado com recursos privados. “Está no meu nome como pessoa física. Quem mantém sou eu, pessoalmente”, diz, ao reforçar que não banca combustível do veículo com recursos da Câmara dos Deputados.“Nós não saímos com o helicóptero de dentro da propriedade”, diz. Magda voltou a dizer que não tem intenção de ir a Cocalzinho, porque a atitude poderia soar como tentativa de interferência em situação que é prerrogativa do Estado. “E numa situação dessa, em que já dei minha opinião, vai parecer que estou intervindo no comando, não posso fazer isso por nada no mundo. Se eu for lá, vai ser para dar, pura e simplesmente, apoio”, diz.O POPULAR perguntou à Polícia Civil de Goiás se haverá abertura de inquérito para apurar o porte de armas da deputada, mas não recebeu resposta até o fechamento desta edição.