Para o presidente nacional do PSOL, Juliano Medeiros, a possível composição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin na chapa para a Presidência em 2022 é um erro. O político também afirma que o apoio do PSOL ao petista não é algo definido e que sequer a formação de uma federação partidária com o PT é uma primeira opção.Juliano também fala das avançadas conversas com a Rede e dos desafios eleitorais do PSOL em Goiás. “Existe uma esquerda social forte no estado de Goiás, particularmente em Goiânia, que não tem conseguido nos últimos anos se traduzir em uma esquerda partidária forte.”O líder partidário visitou Goiânia na quinta-feira (27). Com uma agenda que acabou sendo apertada por um atraso no voo, o político conversou com o POPULAR minutos antes de iniciar uma reunião no Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público Federal (Sintsep-GO).Há ainda a possibilidade de federação do PSOL com o PT? Como o partido tem trabalhado essa questão?A nossa executiva nacional aprovou conversas com dois partidos: o PCdoB e a Rede. Foram os dois partidos que nos procuraram formalmente para iniciar essas tratativas e que em 2018 não alcançaram a cláusula de barreira. Então são partidos que estão muito pressionados pela necessidade de fazer federação. Nós decidimos abrir diálogo com esses dois partidos porque são mais proporcionais ao tamanho do PSOL. O PCdoB é mais ou menos do nosso tamanho, a Rede é um pouco menor. Uma federação com o PT ou com o PSB traria muitas dificuldades para nós, feita assim, às pressas, como a legislação está exigindo. Então, nós abrimos essas hipóteses. Com a Rede o debate está mais avançado. É um partido que tem mostrado uma disposição maior de viabilizar a federação conosco. Nós estamos discutindo o programa da federação, estatuto, problemas regionais, tem toda uma agenda de debate com a Rede, que estamos desenvolvendo. Com o PCdoB, a conversa está um pouco mais devagar, porque eles estão apostando, prioritariamente, na federação com o PT e o PSB.A Rede também tem uma conversa com o PDT, essa também é uma questão nessas tratativas para federação?O que há são lideranças da Rede que gostariam de apoiar o Ciro Gomes (pré-candidato à Presidência da República pelo PDT). A Rede não abriu negociações com o PDT para tratar de federações até onde a gente sabe. A informação que nós temos é que eles estão discutindo federação apenas com o PSOL, embora haja lideranças na Rede que defendem o apoio do partido ao Ciro, como há lideranças que defendem o apoio do partido ao Lula.E como será a posição do PSOL na disputa presidencial? O partido vai mesmo apoiar o Lula, mesmo que seu vice seja Geraldo Alckmin?O PSOL não definiu ainda o apoio à candidatura do ex-presidente Lula. Nós definimos que iríamos abrir um processo de debate e negociações com os partidos de esquerda para tentar viabilizar essa unidade (de esquerda), que não vai se dar na forma de uma adesão do PSOL simplesmente à candidatura do Lula. Vai se dar na forma de um acordo político, que envolva aspectos programáticos, composições nos estados e, claro, a chapa presidencial. Essas negociações ainda não foram iniciadas e podem levar ao apoio do PSOL ao presidente Lula, mas pode ser que elas não deem certo e, não dando certo, o PSOL apresentaria, então, uma candidatura própria à presidência da República. Em relação à possível presença do Alckmin na chapa do Lula, nós achamos que é um erro. Se tem algo que o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e a crise política que se abriu a partir de 2016 demonstram é que não se pode subestimar o papel que um vice-presidente pode cumprir para a desestabilização de um governo. Nós achamos que o ideal seria ter na composição da chapa do Lula uma liderança política do campo das esquerdas que pudesse fortalecer um projeto de mudança, ao invés de representar uma composição com setores partidários ou sociais que não representam um programa de esquerda.E quem no PSOL hoje pode ser candidato a presidente?Muitos nomes do partido, a começar pela nossa bancada federal que tem nomes de primeira grandeza, como a Luiza Erundina, por exemplo, o próprio deputado Glauber Braga, que tem hoje defendido a hipótese de candidatura própria, colocou seu nome à disposição. O Guilherme Boulos, obviamente, é um nome que sempre vem à mente de todos. Mas nós estamos trabalhando prioritariamente com a hipótese da unidade.Essa sua agenda pelos estados é com foco nas chapas proporcionais. Qual o desafio do PSOL aqui em Goiás? Goiás é um estado muito importante na política brasileira. Cada vez mais importante, diga-se de passagem. É um estado rico, portanto, em condições de garantir um modelo de desenvolvimento econômico inclusivo, mas ao mesmo tempo é muito desigual. (O estado) concentra riqueza, concentra renda e concentra terra principalmente. Nós achamos que há espaço em Goiás e, particularmente, em Goiânia e no entorno de Brasília, que são os principais centros populacionais do estado, para ideias de esquerda. Ideias que tenham a ver com a defesa de políticas sociais, combate às desigualdades econômicas, mas também sociais, pensar a política em outra perspectiva. Existe uma esquerda social forte no estado de Goiás, particularmente em Goiânia, que não tem conseguido nos últimos anos se traduzir em uma esquerda partidária forte. O nosso desafio é fazer do PSOL um porto para acolher esses lutadores sociais que estão buscando uma referência partidária para chamar de sua.Quais vão ser as estratégias?Montar chapas completas para deputado estadual e deputado federal é muito importante, considerando que você não tem mais as coligações proporcionais. As federações podem ser positivas também, podem ser instrumentos que agregam porcentuais, um pouquinho da Rede e de um pouquinho do PSOL, daqui a pouco é suficiente para alcançar o quociente eleitoral. Também mapear as lideranças sociais de esquerda que não estão organizadas em partidos políticos, não são nem do PT, nem do PCdoB, e também, por fim, claro, identificar lideranças que são vinculadas a partidos de esquerda, mas que estão descontentes. Esses aspectos podem fazer uma tática eleitoral vitoriosa aqui no Goiás.O PSOL pretende lançar candidato a governador de Goiás?A gente tem estimulado sempre que o partido dialogue com os demais partidos da oposição de esquerda a Jair Bolsonaro, é uma orientação. Mas não há nenhum tipo de obrigação do PSOL de abrir mão de candidatura para fazer oposição. No caso de Goiás, temos bons nomes. Temos o Prof. Wesley, que já foi candidato a governador aqui, conseguiu desempenho importante, a própria Cíntia Dias, que é nossa presidente estadual, a Manu Jacob, nossa presidente municipal em Goiânia, o professor Marcelo, que foi candidato à reitoria da Universidade Estadual de Goiás (UEG). São lideranças que poderiam cumprir diferentes funções, seja como candidatos proporcionais, seja como candidatos ao governo ou ao Senado aqui em Goiás.Goiás foi um dos estados que mais votou a favor de Bolsonaro em 2018. Nesta semana, a pesquisa Serpes mostrou que Lula está na dianteira aqui. Essa pesquisa é um bom sinal para a esquerda em Goiás ou só para o nome do ex-presidente Lula?É uma dúvida, o povo forma as suas preferências eleitorais, a partir de vários fatores diferentes. Um deles é a experiência concreta, o que os governos fazem a favor ou contra (seus interesses). E o governo Bolsonaro é um governo que nos últimos anos foi uma tragédia para a maioria da população, aumentou desemprego, aumentou inflação, foi ineficiente para conter a pandemia, aprofundou a crise social, aumentou o número de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza. Ou seja, o governo Bolsonaro é uma experiência, um experimento trágico das elites brasileiras, que ampliou a desigualdade no Brasil, o povo sente isso na pele. É por isso que os índices de aprovação de Bolsonaro são os piores no ano eleitoral. Eu vejo essa experiência do povo brasileiro com a extrema direita como uma experiência catastrófica que abre novamente a perspectiva para que ideias de esquerda tenham lugar no debate público.