Pré-candidato do Avante à presidência da República, o deputado federal mineiro André Janones (Avante-MG), 38 anos, é um fenômeno nas redes sociais. Ele conta com 1,39 milhão de inscritos no YouTube, 8 milhões de seguidores no Facebook, 2 milhões no Instagram e 131 mil no Twitter. Ao mesmo tempo, segundo pesquisa do Datafolha, só 4% dos entrevistados dizem conhecê-lo bem e 10% o conhecem pouco. Outros 20%, só ouviram falar, enquanto 34% nem sabem que ele existe. Ainda assim, Janones surpreendeu ao aparecer com 2% na pesquisa estimulada do próprio Datafolha, que o mostrou em quinto lugar, empatado com o ex-governador de São Paulo João Dória (PSDB) e à frente da senadora Simone Tebet (MDB-MS). O pré-candidato, que cumpre agenda na capital desde ontem, tem encontro com correligionários nesta sexta-feira (20). Antes de pisar em Goiânia, porém, o mineiro conversou com o POPULAR. À reportagem, Janones fala do paradoxo de ser o segundo pré-candidato a presidente com mais seguidores nas redes sociais, só perdendo para o presidente Jair Bolsonaro (PL), e, ainda assim, ser um dos mais desconhecidos: “Qual é o nosso grande desafio? Nos tornarmos conhecidos”, pergunta e responde ao mesmo tempo. A seguir, os principais trechos da conversa. O senhor só perde para o presidente Jair Bolsonaro (PL) em número de seguidores nas redes sociais, em comparação entre os pré-candidatos a presidente da República. Qual é a estratégia?Ao contrário dos outros pré-candidatos e da maioria da classe política, que tiveram que se adaptar às redes sociais, eu já nasci dentro dela. Eu não me recordo da comunicação, do mundo sem as redes sociais, porque na minha adolescência elas já existiam e eu já era adepto. Então, não houve uma estratégia, um planejamento. Para mim, é algo natural. Mas existe uma diferença entre um político que se comunica via redes sociais para um youtuber, um digital influencer. Esses últimos têm como objetivo a produção de conteúdo para as redes sociais. Eu já sou um político nato, eu não nego a política, faço a política tradicional, do diálogo, da aprovação de projetos, da participação em comissões. E eu comunico isso via redes sociais. Eu acho que esse é o motivo de eu ter esses números hoje, por essa comunicação direta com as pessoas. Tem uma avaliação geral de que o senhor é subestimado na disputa para a presidência. O senhor se sente de alguma forma subestimado por seus adversários?Indiscutivelmente. Dá para fazer analogia com aquela pergunta popular: “Quem veio primeiro? O ovo ou a galinha?”. Então, será que alguns setores da imprensa, por exemplo, não nos dão espaço porque a gente ainda não tem relevância ou é o contrário? A gente não tem relevância para ser uma candidatura competitiva ainda justamente porque a gente não tem esses espaços em alguns setores da imprensa. É uma discussão que eu confesso que não sei responder, mas estamos tentando romper isso com muita dificuldade. E a maneira que eu encontrei de fazer isso é mostrando essa nossa relevância, que não vem das redes. Eu não me considero um fenômeno de rede social. A rede é só uma maneira de me comunicar. Nas pesquisas, a sua porcentagem de intenções de votos varia entre 2 e 3%, o que não é muito diferente dos outros candidatos considerados da chamada terceira via. Por que o senhor e o Avante não entram nessa tratativa entre alguns partidos de fazer uma união em prol de uma alternativa à polarização entre Bolsonaro e o ex-presidente Lula (PT)?Eu não respondo pelo partido, mas eu não entro nessa tratativa porque eu sou um democrata. E na democracia, quanto mais candidaturas você tem, menor é a possibilidade de que o eleitor seja obrigado a votar sem convicção. Eu não consigo entender esse discurso de busca por um candidato do campo democrático. A democracia é oxigenada com candidaturas, quanto mais candidaturas, na minha visão, maior a pujança do regime democrático. Eu vejo como positivo um número grande de candidaturas. O que diferencia a minha candidatura das outras é que a minha é uma candidatura de verdade. Para se eleger, você precisa de votos, mas para o nome estar na urna, você precisa de legenda. Até agora só quem tem isso é Lula, Bolsonaro e eu. O Ciro (Gomes) talvez a gente possa incluir aí também, apesar de alguns movimentos do próprio PDT indicando que pode vir a compor (com outros candidatos). Mas fora esses quatro, os outros são candidaturas folclóricas. A (Simone) Tebet, o (Eduardo) Leite e o (João) Doria estão disputando para ver quem vai ficar na posição de chacota das eleições. Apesar da sua boa presença digital, o sr. ainda é pouco conhecido. No Datafolha de março, só 4% conheciam o senhor muito bem e 10% conheciam um pouco. Como mudar?Na pesquisa, 16% falaram que já ouviram falar do meu nome. Ninguém vai votar em um candidato a presidente porque ouviu falar. Então, minha taxa de conhecimento real, dos que me conhecem ou me conhecem muito bem, é de 14%. Esse é meu grande desafio nas eleições. Ainda segundo o Datafolha, dentre quem ganha até um salário mínimo, eu tenho 9 pontos, o Bolsonaro tem 11, Lula, 60. Então, eu estou empatado em segundo lugar entre quem ganha até um salário mínimo. Então, qual é o nosso grande desafio? Nos tornarmos conhecidos. O senhor ganhou projeção nas redes sociais por conta da campanha pela manutenção do auxílio emergencial de R$ 600. Por esse motivo, adversários argumentam que o senhor é monotemático. Como vê isso?Eu vejo como um elogio e eu abraço. Eu sou monotemático. A minha única temática é diminuir a desigualdade social no país. Essa é a única que eu tenho porque, através dessa, todas as outras mudanças que nós precisamos, acontecerão de forma natural, orgânica. A minha única temática é acabar com a fome, com a pobreza. Por meio disso, nós vamos conseguir melhores índices de educação, saúde e de segurança pública. O principal instrumento para isso é o pagamento de um auxílio emergencial. E não é o único, existe uma série de políticas públicas que nós pretendemos adotar. O senhor já foi filiado ao PT e agora a gente tem notícia de que o partido tem tentado buscar seu apoio para a candidatura do ex-presidente Lula. Em qual cenário abriria mão da sua candidatura para apoiar Lula?Nenhum cenário. Eu fui filiado ao PT de 2003 a 2012. Já tem 10 anos que eu me desfiliei, por uma série de divergências. Por entender que Lula não tem hoje as mesmas bandeiras que ele representava lá em 2003. Vejo o ex-presidente com um discurso muito ultrapassado, a sensação é de que ele perdeu a sensibilidade que as pessoas precisam. Não existe qualquer possibilidade de eu desistir para apoiar nem Lula, nem Bolsonaro ou qualquer outro candidato. E o senhor se considera em qual espectro político? Esquerda, direita ou centro?Eu não me rotulo, eu não tenho esse posicionamento. A partir do momento que eu me rotular como de direita, esquerda ou centro, eu passo a ser obrigado a seguir uma cartilha. O rótulo eu deixo para as pessoas que me analisam, para os jornalistas, colegas da política. Aqui em Goiás, o Avante já definiu apoio à reeleição do governador Ronaldo Caiado (UB). O que o senhor acha dessa posição?Eu tenho hábito de dizer que eu não discuto com números. Eu não sou negacionista, não acho que a terra é quadrada, não questiono a urna eletrônica, sou alguém que não tem esse hábito de negar a realidade. Dito isso, é inegável que o governador Caiado está fazendo um trabalho de bom para ótimo. No pior dos cenários, talvez um razoável. Então, eu vejo com bons olhos essa aliança. Eu, Janones, não vou apoiá-lo, porque eu não vou apoiar quem está pedindo voto para outro presidente. Mas também não tenho absolutamente nada contra essa aliança. Se o segundo turno for mesmo entre Lula e Bolsonaro, quem o senhor apoiaria?Primeiro, eu acredito de fato que eu vou para o segundo turno. Caso esse cenário não se concretize e a gente tenha um segundo turno entre Bolsonaro e qualquer outro, seja quem for, Bolsonaro jamais será para mim uma opção de apoio, uma opção de voto.